TESTEMUNHO P. Francisco Mayor Sequeira … o prato mais saboroso era o da partilha, do diálogo e da amizade por P. FRANCISCO MAYOR SEQUEIRA
TESTEMUNHO
P. Francisco Mayor Sequeira
… o prato mais saboroso era o da partilha, do diálogo e da amizade por P. FRANCISCO MAYOR
SEQUEIRA
Vou tentar alinhavar algo do
que vi, ouvi, senti, partilhei e aprendi com meus irmãos e o bom povo do
Maranhão.
1 – Quando no final de Outubro
de 2013 expirou o prazo constitucional de Reitor do Seminário da Boa Nova de
Contagem, manifestei à Direcção Regional do Brasil o desejo de passar
um tempo com os nossos do Maranhão.
Assim, desde 18.12.2013 até
08.04.2014 armei tenda de peregrino em terras do Maranhão, na Chapadinha. Não
era a primeira vez que pisava o chão escaldante e abençoado do Maranhão. Mas
sempre de passagem. Agora vinha para me sentar, ver, ouvir, sentir, aprender,
guardar no coração e partilhar.
2 – Acolhimento.
Impressionou-me profundamente a acolhida dos Padres Neves e Casimiro e das
Missionárias da Boa Nova e das Irmãs Criaditas dos Pobres, assim como a
alegria, a solidariedade e a união reinante entre estas três comunidades
missionárias. Aqui se vivencia o: “Vede
como é bom e agradável os irmãos conviverem unidos” (Sl.133,1). Estou
feliz por ter vivenciado esta magnífica experiência.
3 – A formação da comunidade e
da liderança. Esta foi uma das tarefas
prioritárias de toda a minha acção pastoral. Aqui na Chapadinha
surpreendeu-me a quantidade e a qualidade das lideranças e o leque de
actividades pastorais em que actuam: catequese, pregação, evangelização,
retiros. Teatro, encenações, liturgia…
4 – Servos do Evangelho. Tive
a dita de participar na celebração da renovação e admissão de novos membros do
Grupo Missionário Servos do Evangelho. Matriz completamente cheia. Numa mesa,
as insígnias dos Servos do Evangelho – cordão com cruz, correntes e cadeados.
Com entusiasmo e manifesta
alegria, P. Neves dá início à celebração. Padre Casimiro e eu concelebrámos. Os
jovens e adolescentes, serena e calmamente, fazem ou renovam a Consagração
total a Nossa Senhora segundo São Luís Grignion de Montfort, e recebem as
insígnias.
O que fazem os Servos do
Evangelho?
São missionários e estão
presentes em todas as actividades pastorais e movimentos da comunidade
paroquial; estão, como dizia Tertuliano, em toda a parte. São assíduos à oração
e à fracção do pão.
5 – Doentes, idosos e
acamados. Em preparação para a Páscoa,
realiza-se a visita domiciliária aos doentes e acamados e aos idosos das
comunidades. Cedo, padre Casimiro e eu dirigíamo-nos para a capela das comunidades
que iríamos visitar. Lá nos aguardavam os grupos de voluntários que nos
acompanhariam e guiariam. Iniciávamos na capela com a oração e entrega ao
Senhor. Ele também vai connosco na hóstia consagrada. Vão também os santos
óleos para a unção dos enfermos. É a mãe Igreja com o Senhor que vai ao
encontro dos que não podem vir até ela. Foram momentos de profunda emoção
e conforto. A simplicidade, a alegria, a fé com que as pessoas recebem em suas
casas o Senhor…marcam-nos. Aliviam o cansaço e encorajam para continuar.
6 – As celebrações nas
comunidades. As celebrações dominicais nas comunidades urbanas são muito bem
preparadas, muito animadas e partilhadas. Foi muito bom poder celebrar com as
comunidades nos sábados e domingos. Tinha, sobretudo aos domingos, o problema
do tempo…e por vezes o espaço entre uma e outra celebração era apenas de uma
hora. Se não desse para estar a tempo, a comunidade não esperava e
iniciava a celebração. Quando o celebrante chegasse atrasado dava continuidade
à celebração.
Como me deslocava às
comunidades, nesta primeira visita ia com o P. Neves ou o P. Casimiro na garupa
da moto, até à primeira comunidade e no final da celebração alguém me entregava
na outra comunidade e no final da última celebração de carro ou de moto me conduzia
a casa.
7 – Almoço aos domingos. Há já uma tradição muito interessante na paróquia
da Chapadinha. Aos domingos o almoço é servido na casa de famílias amigas, que,
por rotação pré-estabelecida por anos e meses, oferecem o almoço aos padres da
paróquia. Cada família, prepara o almoço para os padres e o melhor condimento é
o carinho, o amor e a alegria com que é preparado e servido. Nunca falta o
arroz e o feijão, reforçado com quiabo, maxixe e outras especiarias. Mas o
prato mais saboroso é o da partilha, do diálogo e da amizade. Está na mesa de
todos os que nos recebem. Alguns são tão generosos que, além do almoço,
oferecem também a janta.
8 – Como, infelizmente, a
doença do P. Neves se agravava de dia para dia e o Pe. Casimiro continuava
sozinho, este manifestou que aceitaria a minha companhia com ele na Chapadinha.
Ofereci-me prontamente para ir
e fui. Em 09.03.2015 cheguei mais uma vez ao Maranhão. Minha intenção era ficar
até ao regresso do P. Neves, o que infelizmente não aconteceu. Senti solidariamente
com este bom povo a dor do agravamento da doença do P. Neves, mas esperei até
final o milagre da cura. Deus o levou…
Estava novamente na
Chapadinha e continuei as actividades habituais, só que desta vez com mais
mordomia, com motorista às ordens…
Infelizmente minha saúde não
aguentou e porque temia piorar, para não sobrecarregar a quem já está tão
sobrecarregado, regressei ao Seminário de Contagem. Aqui, com muitas
limitações, colaborei na Paróquia da Boa Nova em Contagem.
Em 15 de Maio regressei a Portugal.
Estou actualmente em Cucujães. O que faço? Visito os doentes do Lar de Santa
Teresinha. Concelebro na missa do Lar.
Felizmente, tenho recuperado
muito e penso que, se me for permitido, poderei voltar ao Maranhão. Talvez lá
tenha lugar e me sinta útil.
Cucujães, 16.09.2016
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