UE IGREJA CATÓLICA 51. A Europa e a sua herança cristã
UNIÃO EUROPEIA
IGREJA CATÓLICA 51. A Europa e a sua herança cristã
A União Europeia vai caminhando mas limitada por imensos problemas,
sobretudo nalguns países esquecidos de suas raízes, e da formação da
comunidade dos povos da Europa. Preocupamo-nos com a insegurança,
com a situação económica deplorável e confusa e, especialmente da maneira
violenta com que os povos e grupos étnicos enfrentam seus problemas e
dificuldades.
O Papa João Paulo II é um homem por demais claro e preciso a respeito
do que se passa e das razões profundas de ser do que acontece e, numa
linguagem profética, aponta por vezes para um futuro que vai bater certo.
Cito algumas palavras e pensamentos dele num discurso feito no dia 23 de
Fevereiro 2002, no Vaticano, aos participantes no III Fórum Internacional da
Fundação Alcide De Gasperi, que tem um lugar de relevo entre os Pais da
nova Europa.
“A Europa surgiu do encontro, nem sempre pacífico, e da fusão, lenta e
muitas vezes problemática, entre a civilização greco-romana e o mundo
germânico e eslavo, progressivamente convertido ao cristianismo por
grandes missionários, provenientes quer do Ocidente quer do Oriente.
Considerei sempre de primordial importância o contributo dado pelos
povos eslavos à cultura do continente.
Sem dúvida, a dolorosa ruptura religiosa entre o Ocidente, na maioria
católico, e o Oriente, na maioria ortodoxo, foi um dos factores que
impediram a plena integração de alguns povos eslavos na Europa, com
reflexos negativos em primeiro lugar para a Igreja, que precisa de respirar
com ‘dois pulmões’: O ocidental e o oriental. Por conseguinte, empenhei-me
na promoção do diálogo entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas com
vista à plena unidade. Nesta perspectiva, proclamei padroeiros da Europa
também os santos eslavos, os Apóstolos eslavos Cirilo e Metódio, Slavorum
Apostoli.
Com efeito, na Europa se encontra a cidade de Roma, que foi sede do
apóstolo Pedro e lugar do seu martírio. João Paulo II visitou os vários países
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europeus, reuniu duas vezes os seus Bispos em Assembleias Episcopais e
visitou as Instituições europeias, em Estrasburgo.
A Europa corre o risco de se afastar das raízes da influência cristã que lhe
deram a sua maneira de pensar e de sentir, de se exprimir e de se comportar,
baseadas tanto no património greco-romano, como judaico-cristão, que
constituiu durante séculos a sua alma. Aliás, grande parte do que a Europa
produziu em âmbito jurídico, artístico, literário e filosófico tem a marca
cristã.
“Infelizmente, e sobretudo a partir do século XVIII, um processo de
secularização pretendeu excluir Deus e o cristianismo de todas as expressões
da vida humana. Assim se chegou muitas vezes ao laicismo e ao secularismo
agnóstico e ateu, isto é, a exclusão absoluta e total de Deus e da lei moral de
todos os âmbitos da vida humana. Desta forma, a religião cristã foi relegada
para os confins da vida privada de cada um. Não é significativo, deste ponto
de vista, que tenha sido tirada da Carta da Europa qualquer referência
explícita às religiões e, por conseguinte, também ao cristianismo? Manifestei
a minha amargura por isto, que considero anti-histórico e ofensivo para os
Pais da nova Europa”.
É que o velho continente “tem necessidade de Jesus Cristo para não perder
a sua alma e para não perder tudo o que o fez grande no passado e ainda
hoie o impõe à admiração dos outros povos. De facto, foi em virtude da
mensagem cristã que se afirmaram nas consciências os grandes valores
humanos da dignidade e da inviolabilidade da pessoa, da liberdade de
consciência, da dignidade do trabalho e do trabalhador, do direito de cada
um a uma vida digna e segura e, por conseguinte, a participar dos bens da
terra, que Deus destinou para benefício de todos os homens”.
Hoje a Igreja volta a propôr à Europa estes valores com renovado vigor, pois
o continente europeu corre o grave risco de cair no relativismo ideológico e
de ceder ao niilismo moral, declarando por vezes bem o que é mal e mal o
que é bem. Só “o património cristão poderá oferecer respostas adequadas às
novas perguntas que se apresentam sobretudo no campo ético”.
De outra maneira, como conseguir a unidade europeia, a promoção da paz,
da verdadeira democracia, da cooperação, da segurança, do respeito pela
dignidade da pessoa humana e pelos direitos de cada cidadão? in NA FORÇA DA PALAVRA n.50 por Armando Soares
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