ALEGRIA 
Em busca da alegria por ARMANDO SOARES *
O homem moderno agarrado aos seus interesses, onde faltam os pobres, onde não ouve a voz de Deus, onde não goza da doce alegria do seu amor, nem há qualquer entusiasmo por fazer o bem, está atolado numa tristeza individualista que brota dum coração mesquinho e comodista e a busca desordenada de prazeres superficiais.
O Papa Francisco convida todos os crentes, “em qualquer lugar ou situação em que se encontrem, a renovar o seu encontro pessoal com Cristo ou pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele”. (E.G. 3)  E insiste: Deus nunca se cansa de perdoar, nós é que nos cansamos de pedir misericórdia. Ele perdoa “setenta vezes sete” (Mt 18, 22). Carrega-nos aos ombros as vezes que for necessário, porque seu amor é infinito.
Superabundam nos livros do AT as expressões de alegria referentes aos tempos messiânicos. O profeta Isaías dirige-se ao Messias esperado: «Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo» (9, 2), e anima os habitantes de Sião a recebê-lO com cânticos: «Exultai de alegria!» (12, 6) Toda a criação participa nesta alegria da salvação: «Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó terra! Rompei em exclamações, ó montes!» (49, 13).
Mas o convite mais tocante talvez seja o do profeta Sofonias, mostrando-nos o próprio Deus como centro irradiante de festa e de alegria: «O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa» (3, 17).
O Evangelho convida insistentemente à alegria. «Alegra-te» é a saudação do anjo a Maria (Lc 1, 28). A visita de Maria a Isabel faz com que João salte de alegria no ventre de sua mãe (cf. Lc 1, 41). No seu cântico, Maria proclama: «O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador» (Lc 1, 47).
A mensagem de Jesus é fonte de alegria: «Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa» (Jo 15, 11). Ele promete aos seus discípulos: «Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria» (Jo 16, 20) Depois, ao verem-No ressuscitado, «encheram-se de alegria» (Jo 20, 20).
Os Actos dos Apóstolos contam que, na primitiva comunidade, «tomavam o alimento com alegria» (2, 46). Por onde passaram os discípulos, «houve grande alegria» (8, 8); e eles, no meio da perseguição, «estavam cheios de alegria» (13, 52).
Porque não havemos de entrar, também nós, nesta torrente de alegria?
A alegria tem crescendos e diminuendos nas variadas etapas da vida, mais ou menos duras. Há cristãos que não passam da sexta feira santa à Páscoa da Ressurreição. É preciso que a alegria da fé comece a despertar mesmo no meio das piores angústias. Mas convém lembrar que a misericórdia do Senhor não acaba. Cada manhã ela se renova.(...)
A sociedade técnica multiplicou as ocasiões de prazer mas que não geraram a alegria. Na realidade as alegrias mais belas que encontrei, diz o Papa Francisco, foram as “alegrias de pessoas muito pobres que tinham pouco a que se agarrar ou a alegria genuína daqueles que, no meio de grandes compromissos profissionais, souberam conservar um coração crente, generoso e simples”. (E.G. 7)
Dizia Bento XVI: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética, mas o encontro com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo». ( na Deus Caritas est) Este encontro ou reencontro com o amor de Deus converte-se em amizade feliz. Chegamos a uma humanidade plena quando permitimos a Deus que nos conduza a alcançar o nosso ser mais verdadeiro. Este amor que devolve o sentido da vida tem necessariamente de se comunicar aos outros, tornando-se fonte de alegria e de ação evangelizadora. (EG 8)  * in BOA NOVA maio - 2018
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