SMBN 20 anos dos Missionários da Boa Nova no Japão
SMBN
20 anos dos Missionários da Boa Nova no Japão *
A Igreja católica no Japão é muito apreciada pelo serviço
educativo e social que presta
Pe. Dr. Marco Casquilho, missionário no Japão |
O padre Adelino
Ascenso foi o primeiro missionário da Boa Nova enviado para o Japão.
Em 1998
chegou ao Japão, o Padre Adelino Ascenso, o primeiro missionário da Boa Nova a
trabalhar em terras asiáticas. «Quando ali chegamos passamos por uma «Kenosis»
total, tornamo-nos bebés, não entendemos nada. Passamos muitos meses a celebrar
a missa em silêncio, sem perceber. Somos postos à prova diariamente. Passamos
por uma desconstrução dos nossos conceitos, mesmo da imagem de Cristo. Tudo no
japão é diferente, tem a ver com a inculturação», disse o Padre Adelino
Ascenso, Superior dos Missionários da Boa Nova (SMBN), que viveu e trabalhou no
Japão ao longo de 12 anos. Durante os dois primeiros anos em terras nipónicas,
o missionário dedicou-se à aprendizagem do japonês: “quatro horas por dia, na
escola e com muito trabalho em casa”, recordou. No segundo ano, foi viver com
um padre japonês o que lhe possibilitou estar em permanente contacto com o
mundo oriental. Neste mesmo período começou a preparar uma homilia dominical
por mês e lentamente ia entrando em contacto, conversando com os fiéis e
recebia deles algumas corre- ções. Começou a trabalhar oficialmente em duas
paróquias. A cultura japonesa Harmonia, escondimento e o silêncio são elementos
constituti20 anos dos Missionários da Boa Nova no Japão A Igreja católica no
Japão é muito apreciada pelo serviço educativo e social que presta vos da
cultura japonesa, por vezes despercebido na vida quotidiana, mas presente no
coração de cada nipónico. “Para não fazer trepidar a tal harmonia de grupo o
japonês guarda para si o que pensa e sente”, revelou o padre Adelino Ascenso.
«A valorização do silêncio que não se experimenta nas grandes cidades de Tóquio
ou Osaka, onde a vida é de grande azáfama, faz parte do alicerce cultural e
está no coração de cada japonês mesmo que no dia-a- -dia não consigam vivê-lo»,
explicou o sacerdote português. Com base na experiência missionária no Japão, o
missionário sublinha o quanto, num tempo de instantaneidade, é necessário
preparar, cultivar o silêncio. “Por vezes andamos distraídos e não conseguimos
encontrar tempo interior para a preparação. Isso é um drama da atualidade”,
indicou. Nesse sentido, o silêncio é um tempo propício para “escutar, porque
nesse silêncio está precisamente a voz de Deus” revelou. «Há um termo japonês
que significa «um tempo, um encontro» que aponta a necessidade de valorizar
cada momento da trivialidade da nossa vida. Esse encontro nunca se repete, não
há um tempo que se repita». “Vamos tendo muitos encontros ao longo na nossa
vida, mas andamos distraídos e não nos apercebemos da intensidade desses
momentos diários, aparentemente banais, com significado tremendamente
importante na vida. Na trivialidade da nossa vida, no café, no autocarro,
deixar ser interpelado por alguém ou pelo seu olhar… Valorizar estes momentos é
preparar a nossa vida”. A Igreja no Japão A vivência eclesial no Japão varia
consoante os lugares e as paróquias. O Padre Adelino Ascenso recordou que numa
eucaristia com 12 fiéis a vivência era muito intensa. “Paróquias pequeninas
levam as pessoas a viverem com mais intensidade, como se fossem uma famí- lia.
Tomam um chá juntos, conversam”, descreveu. A preparação dos catecúmenos era
outra aposta pastoral, assim como a área social. “Todas as semanas os fiéis
reuniam-se para preparar e distribuir comida aos sem-abrigos, pois também há
muitos no Japão”, informou o padre Adelino Ascenso, acrescentando de seguida
que «os japoneses têm uma grande sensibilidade. Tem a ver com a harmonia e a
mentalidade de grupo. Eu não existo sozinho, mas faço parte de um grupo, seja o
bairro, a empresa, a escola, a aldeia. Há uma grande solidariedade. Se o meu
irmão está a sofrer eu vou lá ajudá-lo», contou. A última paróquia onde o Padre
Adelino Ascenso trabalhou antes de regressar a Portugal, foi na grande
arquidiocese de Osaka, que se tornou-se muito conhecida por causa de um
samurai, Takayama Ukon, conhecido como «Samurai de Cristo», beatificado
recentemente, no dia 7 de fevereiro de 2017. Quando em 1549, o jesuíta Francisco
Xavier chegou a terras nipó- nicas registaram-se conversões que devido às
perseguições “intensas e sistemáticas” com início em 1641, desapareceram. “Os
cristãos refugiaram-se em Nagasaki e nas ilhas de Goto e, escondidos, foram
passando as suas orações de geração em geração, batizando filhos e netos,
porque os padres foram expulsos do país. Os japoneses escondiam a sua fé e
transmitiram as orações aos filhos e netos durante 250 anos, até à 2ª entrada
no cristianismo no Japão. Atualmente, no país do sol nascente o cristianismo
continua a ser uma minoria, havendo cerca de 440 mil católicos, 0,34% dos 128
milhões de habitantes. A Igreja cató- lica tem 16 dioceses, sendo que três são
arquidioceses e aí trabalham cerca de 850 padres japoneses e 570 padres estrangeiros.
Embora a Igreja Católica seja uma minoria, o Papa Francisco diz que a Igreja
japonesa é muito apreciada pelo serviço social e educativo que presta,
independentemente da religião das pessoas. * in VM-maio. 2018
Comentários
Enviar um comentário