IGREJA CATÓLICA D. António Marto, novo cardeal português,
D. António Marto, novo cardeal português, não põe a
hipótese de ser Papa, mas admite: “Gostaria de participar num conclave” 20/5/2018,
19:12 O bispo de Leiria-Fátima recebeu de
surpresa, por mensagem, a notícia que acabava de ser nomeado cardeal e
dominou-se para não chorar. Pode vir a ser Papa? "Não aspiro a lugares de
poder."
JÚLIO LOBO PIMENTEL / OBSERVA
O bispo de Leiria-Fátima, D. António
Marto, estava a preparar-se para entrar para a missa das 11h30 na Sé de Leiria
— onde ia presidir ao Crisma — quando recebeu uma mensagem no voicemail. Era o
Núncio Apostólico D. Rino Passigato, embaixador do Vaticano em
Lisboa, que acabara de ver na televisão as novidades do dia vindas de Roma: o
Papa nomeou 14 novos cardeais, incluindo o próprio D. António Marto.
“Foi uma surpresa”, admitiu D.
António Marto numa conversa com jornalistas em Fátima. “Sou um homem de emoção,
e como que as lágrimas me vieram aos olhos. Tive de me dominar para não dar a
entender nada àqueles que me rodeavam”, sublinhou. Acabou por encontrar paz de
espírito na ideia com que sempre encarou as várias nomeações ao longo da sua
vida: “É um serviço que a Igreja me pede”.
A nomeação, garante, não é uma
subida na hierarquia. “Não aspiro a lugares de poder”, afirmou o bispo,
lembrando como no dia da sua ordenação o seu pai, que nem o queria ver padre, o
chamou à parte para lhe dizer: “Que não te suba o poder à cabeça”. Por isso, quando
questionado sobre se agora, que passa a fazer parte do grupo restrito que elege
o Papa, ambiciona chegar à liderança da Igreja Católica, responde, entre risos:
“Nem se coloca a questão”.
Para já, quer colaborar com o
Papa Francisco na reforma da Igreja. Assumindo que a nomeação para cardeal é um
“voto de confiança pessoal do Papa” na sua “humilde pessoa”, D. António
Marto afirmou que apoia incondicionalmente o Papa. “Ele conhece bem o que
eu penso e sabe que tem em mim um apoiante em toda esta reforma que está a
fazer na Igreja”, para a tornar “mais evangélica, mais próxima, mais
misericordiosa”. “Pode contar comigo”, garantiu.
[Reveja neste vídeo o best of da
entrevista de vida que D. António Marto deu ao Observador há um ano]
A nomeação cardinalícia comporta
ainda outras duas dimensões. Por um lado, trata-se de um pedido para que o
bispo o ajude “no ministério de bispo de Roma e pastor da Igreja Universal”,
para o qual precisa “de conselheiros, que constituem o colégio cardinalício”.
Por outro lado, representa “uma maior ligação entre a Sé de Pedro e as igrejas
particulares, uma maior ligação entre a Sé de Pedro a diocese de
Leiria-Fátima”. Por isso, garantiu o D. António Marto, para a nomeação “terá
contribuído a celebração do centenário [das aparições], em que o Papa
experimentou ao vivo o que significa Fátima para a Igreja Universal e para o
mundo”.
Apesar de a nomeação para
cardeal poder indicar que D. António Marto poderia sair de Leiria-Fátima
para outros voos (em Portugal, o único bispo diocesano que é cardeal é o
patriarca de Lisboa; todos os outros ocupam posições na Cúria Romana), o bispo
garante que quer acabar o seu ministério ali mesmo, em Fátima. Mas não esconde:
“Gostava de participar num conclave”.
A mensagem que quer deixar é
de simplicidade. Por isso, vai continuar a vestir-se da mesma forma — “com a
batina de bispo, sem aqueles vermelhos, sem aqueles chapéus cardinalícios”, que
são “dispensáveis”. Mesmo a festa em que vai celebrar, na sua diocese, a subida
a cardeal, depois da celebração no Vaticano, vai ser marcada pela “simplicidade
e sobriedade”.
O bispo de Leiria-Fátima foi
este domingo nomeado cardeal pelo Papa Francisco. Nascido em Tronco, no
concelho de Chaves, D. António Marto tem 71 anos e foi um cético das aparições
de Fátima e da religiosidade popular até ter lido pela primeira vez as Memórias
da Irmã Lúcia. Mais tarde, em 2006, foi nomeado bispo de Fátima. Em 2017,
recebeu o Papa Francisco no Santuário de Fátima para as celebrações do
centenário das aparições. Agora, vai juntar-se a D. José Saraiva Martins,
D. Manuel Monteiro de Castro e D. Manuel Clemente no grupo dos cardeais
portugueses.
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