Anunciar a Boa Nova aos pobres, por Armando Soares

 Jesus Cristo "nasceu pobre entre os pobres; do lado de fora da morada dos homens, no abrigo de animais, e reclinado numa manjedoura. A notícia do acontecimento, "grande alegria para todo o povo" (Lc 2, 10), foi anunciada, em primeira mão, pelo Anjo do Senhor a humildes pastores: "Hoje nasceu para vós um Salvador" (Lc 2, 11). Ungido pelo Espírito Santo e por ele enviado para proclamar a Boa Nova aos pobres, revelou-se como sendo "o Caminho, a Verdade e a Vida", resume D. Eduardo Koaik, Bispo de Piracicaba, Brasil. Como discípulos do Missionário do Pai, também nós cristãos somos enviados a anunciar a Boa Nova aos pobres, aos excluídos da sociedade, aos que vivem nas periferias.
Apenas observar sua miséria e não intervir no sofrimento não adianta nada. É uma forma muito cruel de omissão. Abertos ao influxo do Espírito Santo, os cristãos tornam-se capazes de entender sua missão e colocam-se a serviço de quem mais necessita de sua participação. Pobres são também os que sofrem com uma vida sem sentido, em busca de um Deus que rejeitaram. É preciso estar atento ao que o Espírito diz: amor, caridade, compaixão, misericórdia...

Nos Evangelhos, referindo-se à prática de Jesus há quatro situações em que aparece a expressão "movido de compaixão", como um gesto de amor, socorro e solidariedade. Vamos lembrar apenas a "história do pai misericordioso" (Lc 15, 11-32). Na parábola, o filho tem méritos porque reconheceu que estava errado, mas só o pai teve compaixão. O filho sente-se moralmente derrotado e vem pedir perdão, na esperança de que o pai lhe conceda, ao menos, as regalias que dava aos criados. Neste vigoroso texto de Lucas vemos o amor e a misericórdia levados às últimas consequências. O filho deixa a segurança da casa paterna em busca de aventura e de liberdade e se dá mal. Come o pão que o diabo amassou. Teve de cuidar de porcos, o que era um contacto degradante, pois a lei de Moisés o proibia. Grande humilhação que o rapaz sofreu.
Um dia, cansado de sofrer e penar, decide voltar. Vai pedir desculpas ao pai e tentar recomeçar a vida. É aí que surge o ponto de interesse da narrativa: "Quando ainda estava longe, o pai o avistou e teve compaixão", saiu correndo, o abraçou e o cobriu de beijos (v.20). O arrependimento (do filho) caminha na direcção de casa; a compaixão (do pai) corre ao seu encontro. O pai sente a miséria a que o filho foi rebaixado, sofre com ele e tem compaixão. Os critérios de amor falam mais alto do que a justiça.

A quem é pedida a compaixão hoje?
A todos nós! Pela vida fora temos visto pessoas sofridas clamando pela compaixão de parentes, de amigos, da sociedade, das autoridades. Deus é compassivo com os seres humanos, por isso espera essa mesma atitude de uns para com os outros. O homem, que traz o Deus vivo no santuário do seu coração, deve estar sempre apto a praticar actos de misericórdia e compaixão.
Quem deve ser o objecto da nossa compaixão?
As pessoas que sofrem, os desempregados, os meninos da rua, as crianças abandonadas, as mães sozinhas, os idosos sem esperança, os pobres, os que não têm ninguém, esses devem ser o alvo da nossa compaixão. Como diz Jesus, devemos praticar a caridade com aqueles que não têm condições de nos retribuir. Esses são o objecto prioritário de nossa acção cristã. Uma religião interesseira, baseada no toma-lá-dá-cá pode ter o nome que lhe quisermos dar, menos cristianismo.

A atitude do pai aponta para a misericórdia de Deus e para a compaixão que Jesus sente pelos excluídos. Quem ama tem com-paixão, isto é, sofre com o sofrido. O perdão é um acto de compaixão. Só perdoa quem se enternece diante da miséria de quem errou. No Antigo Testamento, Deus - ensinavam os rabinos - porque é fiel, sente compaixão por seu povo. Tem compaixão quem é bom, quem sente em si o sofrimento (pathos) e a dor (álgos) do outro. Jesus curou e fez milagres não para se exibir ou provar que era o Filho de Deus. Realizou muitos sinais porque tinha pena, dó, compaixão da miséria daquele povo.
É curioso - eu diria até triste e até revoltante - que a "compaixão" de certas pessoas não passe de um gesto hipócrita e pro-forma. Na Antiguidade, o povo indignado perante um facto negativo costumava rasgar as roupas em sinal de protesto. A esse respeito o profeta alertou: "Não rasguem suas vestes, mas seus corações". (Jl 2, 13). A gente lamenta a fome da Etiópia, mas não faz nada para minorá-la no bairro onde mora.
Em sua compaixão, Jesus consola os aflitos, traz aos pobres, aos doentes e excluídos mensagem de consolação. O Evangelho, a Boa Nova da felicidade no Reino está repleta de valores desse tipo: compaixão, acolhimento, perdão, cura, misericórdia. Os milagres são sinais do Deus cheio de compaixão, que consola e faz renascer a alegria no coração dos seus filhos.

Quando o ser humano demonstra compaixão pelas dores de seu semelhante, ele melhora o mundo, favorece as relações, mitiga o sofrimento, testemunha a presença de Deus e se aproxima, pelo amor, do Pai que está nos céus. A compaixão está inserida no projecto de Deus em favor de toda a humanidade. Foi por amar o mundo e ter compaixão dos pecadores que ele nos deu seu Filho, Jesus Cristo. Quem nega compaixão a alguém desvirtua o mistério da cruz e a ressurreição de Jesus. (De "a compaixão , por A. M. Galvão

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