50 anos de Ad Gentes Um olhar sobre a Missão por D. MANUEL LINDA

50 anos de Ad Gentes
Um olhar sobre a Missão por D. Manuel Linda
Mal vai a quem não tem memória. Sejam pessoas, sejam instituições. Seriam semelhantes a árvores sem raízes: nem se alimentam nem se aguentam nas fúrias do inverno. Assim aconteceria com a Igreja. Não se fixa no passado, como quem procura voltar a ele. Mas alimenta-se dele e move-se na direcção que ele lhe indica. Sempre em perspectiva de futuro. Por isso, gosta de celebrar, de reactualizar o passado de forma a colher-lhe as implicações para este tempo e para o tempo que se lhe há-de seguir.
Ora, em 2015, em perspectiva de Missão, tem muito a celebrar. Em primeiro lugar, os 50 anos do “Decreto sobre a Actividade Missionária da Igreja”, o “Ad gentes”, do Vaticano II. Foi aprovado a 7/12/1965, na véspera do solene encerramento do Concílio. Recolhe o melhor da demorada reflexão que os Padres foram fazendo sobre a essência da Igreja e o seu dever de ir ao mundo para lhe propor a salvação integral que é Jesus Cristo.
Sim, o documento começa precisamente desta forma: “A Igreja, enviada por Deus a todas as gentes para ser «sacramento universal de salvação»…”. Repare-se: não se diz que a Igreja deve abrir a porta às pessoas que a ela batam. Mas manda-se à Igreja abrir a porta para ser ela a sair ao encontro das pessoas. Para ir aos povos e grupos humanos ainda não tocados pelo testemunho cristão e pela palavra do Evangelho. E o documento diz mais: que esta tarefa não tem limites de tempo; que tem de chegar aos confins da terra; e que diz respeito a todos os baptizados. E no nº 2, insiste: “A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária”. Não é isto o que, cinquenta anos depois, nos anda a pregar o Papa Francisco? Talvez por causa desta enorme modernidade é que o Decreto Ad gentes foi, entre todos os documentos do Concílio, aquele que mais votos recebeu.
A partir do Concílio, a natureza missionária da Igreja tem sido ressaltado em muitos outros documentos. Lembro três que, este ano, comemoram especiais aniversários.
Um é a célebre “Exortação Apostólica sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo”, “Evangelii nuntiandi”, de Paulo VI (8/12/1975). Tão grande e tão actual que o Papa Francisco continuamente se reporta a ela. Este documento volta a insistir: “A tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja” (nº 14).
Mais tarde, a 7/12/1990, São João Paulo II publicava a encíclica “Redemptoris missio”, sobre a “Validade Permanente do Mandato Missionário”, que alerta: “A missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento” (nº 1). E não se poderia esquecer a Carta Pastoral dos Bispos portugueses, “«Como eu vos fiz, fazei vós também». Para um rosto missionário da Igreja em Portugal” (17/06/2010). Esta assegura: “O ícone missionário por excelência é a figura do Bom Pastor […] que vai à procura de todos e de cada um com paixão” (nº 6).

Igreja que estás em Portugal, que mais é preciso dizer para te convencer que só és verdadeiramente Igreja se fores missionária? VM dez 15

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