VATICANO Francisco, o reformador *
VATICANO
Francisco, o reformador *
O Concílio
Vaticano II foi porventura o maior acontecimento da Igreja no século passado.
Passou-se a uma Igreja povo de Deus, ao mundo como espaço
onde devemos viver a fé cristã, ao diálogo inter-religioso, ao diálogo com a
cultura, com o mundo moderno, o ateísmo, as religiões não cristãs; da condenação
dos direitos humanos ao seu reconhecimento e ao combate por eles; da condenação
da secularização ao reconhecimento e defesa da autonomia das realidades
terrestres; da Igreja "sempre a mesma", imutável, à Igreja em
permanente reforma; da Cristandade ao Cristianismo; da pertença à Igreja,
condição necessária para a salvação, à liberdade religiosa”; “da primavera de renovação
a um longo inverno”.
E, depois, o Catecismo da Igreja Católica e o Código de Direito
Canónico, não assumiram a realidade do Concílio, mas até se opõem ao seu
desenvolvimento, por medo, por falsa tradição (ou por desejo de controlo da Cúria
Romana." Sendo travadas as transformações e a evolução.
Uma linha de abertura aos "sinais dos tempos" era
exigida pelas independências, pelo termo
do colonialismo político e pelo fim do predomínio do catolicismo europeu e
ocidental. A Igreja tinha de passar de uma cultura única, "quase
monolítica, de tipo greco-latino e europeu ocidental", a uma Igreja
verdadeiramente universal, em diálogo com todas as culturas e assumindo a
inculturação.
O Concílio percebeu que a Igreja tem uma mensagem transcendente
(a presença de Deus), mensagem essa que é
"inseparável da presença e acção dos cristãos no mundo", em ordem à
justiça e à paz.
O "Papa misericordioso" (José M. Vidal),
escolheu o dia 8 de Dezembro, para inaugurar o Ano Santo da Misericórdia. Com
efeito, abrirei a Porta Santa no quinquagésimo aniversário da conclusão do
Concílio Vaticano II. Tinha chegado o tempo de anunciar o Evangelho de um modo
novo. Uma nova etapa. Um novo compromisso." Na inauguração, foi claro que
quer a Igreja na linha da abertura: "O Jubileu obriga-nos a não esquecer o
espírito do Vaticano II, o do samaritano".
Voltar ao espírito do Concílio implica abrir as portas e as janelas da Igreja. Francisco
chamou uma Auditoria Externa para que haja transparência nos dinheiros do
Vaticano. Avançará, escreve Pikaza, com a reforma da Cúria Romana enquanto tal:
"podemos supor que o Papa continuará em Roma, como sinal de unidade
eclesial, mas sem Vaticano, no sentido estrito do termo, isto é, sem uma Cúria
de poder religioso". Francisco quer "devolver" a Igreja aos
cristãos. Uma vez que a Igreja é todos os cristãos e não uma "superstrutura
clerical", os ministérios hão-de ser verdadeiros ministérios, serviços.
Há quem deseje para Francisco o que aconteceu a João
Paulo I. Mas ele foi dizendo que "as resistências não travam...,
impulsionam" e assegurou, há dias, perante a Cúria, que a reforma
"continuará com determinação, lucidez e resolução, porque a Igreja tem de
estar sempre em reforma". Espera-se que na próxima Exortação Apostólica
torne possível, como referiu recentemente o cardeal M. Sistach, a comunhão para
os divorciados recasados; também admitiu que o preservativo "é um método
para prevenir a sida"; há indícios de que o próximo Sínodo possa ter como
tema os padres casados, revendo-se então a lei do celibato: este problema, já
disse, "está presente na minha agenda". * FONTE: ANSELMO BORGES, in DN
opinião
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