VIDA RELIGIOSA Novo modelo de vida religiosa consagrada missionária hoje
VIDA RELIGIOSA
Novo modelo de vida religiosa consagrada missionária hoje
Por ARMANDO SOARES *
Arquidiocese
de Malanje realiza peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora do Rosáro do Pungo Andongo |
“O contexto hodierno da missão – escreve o P.
Estêvão Raschietti, missionário xaveriano italiano, que trabalha há mais de 20
anos no Brasil – não é mais a do nosso Fundador ou Fundadora, nem o dos
arquétipos de nossa imaginação, nem o destemido de épocas relativamente
recentes. Para lá da romântica aventura, do impávido heroismo, o paradigma da
missão não está mais numa romântica
aventura, mas conduz hoje a vida religiosa consagrada (VRC) como um todo e a
partir de dentro, a um profundo, radical e essencial repensamento de suas
estruturas, de sua compreensão, de suas relações, de seus projectos e de seus
horizontes, assim como é proposto pelo Documento de Aparecida ao conjunto de
dioceses, paróquias, comunidades, movimentos e instituições das Igrejas
latino-americanas e caribenhas.”
Há hoje uma insistente
apetência por novos modelos de VRC que abram caminhos de esperança, em tempos
de profundas mudanças, crises e travessias epocais. A vida missionária “ad gentes e nas situações mais
difíceis” é sem dúvida um desses caminhos apontados pelo papa Bento XVI para
uma significativa relevância da VRC na conjuntura actual (cf. VD 94c). Por sua vez, a
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, recomeça
a partir de Cristo (2002), afirma que a VRC “quer reflectir
sobre os próprios carismas e as próprias tradições, para pô-los ao serviço das
novas fronteiras da evangelização”, lembrando peremptoriamente que “a primeira
tarefa que se deve retomar com entusiasmo é o anúncio de Cristo aos povos”,
acentuou Bento XVI. (…)
Para “esta firme decisão
missionária que deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos
pastorais” (DAp 365) não há receitas, nem
modelos testados. Há sim algumas tarefas a serem cumpridas com participação e
diligência, na assídua busca da permanente fidelidade ao Senhor e de um papel
profético inédito para a VRC no tempo presente.
Antes de tudo é preciso fazer
duas considerações preliminares. A primeira, é uma nota de reflexão sobre a
época de crise e de incerteza que estamos vivendo, marcada pela diminuição das
vocações, pelo envelhecimento, pela “anemia evangélica”, pela falta de
projectos, pela irrelevância social, pela fragmentação da identidade carismática.
Paradoxalmente, esta época pode ser a melhor para repor o projecto originário
da VRC, exactamente a partir da fragilidade histórica na qual ela se encontra.
Ao contrário, quando os números se tornam sinónimo de sucesso, o reconhecimento
social é considerado uma meta, a missão é medida pela eficiência e pela
visibilidade, o risco é da VRC cair na lógica do mundo, sofrer um terrível
processo de “paganização” e perder o sentido da transcendência de sua vocação.
Os tempos de hoje são de
purificação e de retomada do essencial. É fundamental não sucumbir à
mediocridade e ao descompromisso, como também à tentação de voltar ao passado:
pois esse passado não existe mais.
A segunda consideração, diz
respeito ao desafio de olhar para frente. A reconstituição da experiência
fundante e da visibilidade evangélica da VRC, dá-se ao redor de três aspectos
essenciais: experiência de Deus, vida fraterna e missão. Entre esses aspectos
há uma complementaridade e uma unidade circular,
e sua desarticulação “é uma das expressões mais evidentes dessa situação
fragmentada da VR apostólica”.
Michael Amalados alertava para
o tremendo equívoco de interpretar de maneira linear essa
unidade, o que causaria a própria fragmentação do conjunto. Por outras
palavras, não haveria antes uma
experiência de Deus (identidade), partilhada e alimentada num contexto fraterno
(comunidade), para depois –
eventualmente (!) – ser estendida ao mundo (missão). Pelo contrário, a missão
alimenta a experiência de Deus e estrutura a comunidade, assim como a
comunidade qualifica a missão e a experiência de Deus, sem antes e sem depois.
Os três aspectos que
constituem o projeto original da VRC apostólica, se implicam e se complementam
mutuamente. Sua distinção consequencial é a causa da ruptura entre “ser” e
“fazer”. Sem dúvida, na missão podemos oferecer somente o que somos; por outro
lado o que somos é fruto de experiências que acontecem na história, no encontro
com os outros e na missão. Deveríamos perguntar-nos que “credibilidade teria o
caminho de fé daquele consagrado que sabe reconhecer Deus somente nos espaços
oficiais e rituais, ou nos seus percursos espirituais subjetivos, mais ou menos
sugestivos e complacentes” (Arrighini). Se “o encontro com Jesus Cristo através
dos pobres é uma dimensão constitutiva da nossa fé” (DAp 257), significa que a
missão determina nossa identidade, e que não podemos alegar nenhuma experiência
de Deus se isso não acontece também no caminho com as pessoas mais humildes e
sofredoras. * Fonte: P. Estêvão Raschietti. in VM fev.2017
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