COP25 que fim?!
COP25 que fim?!
Cimeira do clima. Nem o
exemplo europeu permitiu acordo a horas
13 Dezembro 2019 — 21:20
A Cimeira do Clima devia ter terminado nesta sexta-feira às 18.00, em Madrid, mas a essa hora a resolução ainda estava por aprovar. Faltou ambição e urgência nas negociações, ouve-se na rua e nos palcos da COP 25. Nem o Pacto Ecológico da União Europeia motivou mais ação.
A Cimeira do Clima devia ter terminado nesta sexta-feira às 18.00, em Madrid, mas a essa hora a resolução ainda estava por aprovar. Faltou ambição e urgência nas negociações, ouve-se na rua e nos palcos da COP 25. Nem o Pacto Ecológico da União Europeia motivou mais ação.
13 Dezembro 2019 — 21:20
Madrid ainda está a tempo de ser "muito
relevante", insistia António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas,
na quarta-feira passada, a dois dias do fim da 25.ª Conferência das Partes das
Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 25). O apelo já revelava
o desespero com a falta de ambição dos decisores políticos, que segundo
Guterres, peritos e ativistas dominou as reuniões entre os representantes de
197 países, em Madrid. A cimeira devia ter terminado às 18.00 desta
sexta-feira, mas prolongou-se, como já é habitual. No ano passado, em Katowice
(Polónia), as negociações estenderam-se até domingo.
O tempo extra é uma tentativa de desbloquear consensos,
que podem ainda (ou não) dar origem a acordos. Uma coisa é
certa: para que as expectativas fossem cumpridas, na Cimeira do Clima deveriam
ser iniciadas e calendarizadas novas metas de emissões de gases na atmosfera,
em relação às estabelecidas no Acordo de Paris (2015), que têm
obrigatoriamente de ser revistas na conferência do próximo ano, em Glasgow, no
Reino Unido. Eram ainda esperados anúncios de maiores contribuições
financeiras para o Fundo Verde do Clima, uma regulamentação para os mercados de
carbono e um mecanismo de solidariedade para as vítimas de catástrofes
naturais.
Mas o último rascunho do documento final e o
resultado das negociações feitas na segunda e última semana da conferência
deixaram muitos desiludidos. "O último rascunho não transmite ambição",
comenta, a partir de Madrid, Francisco Ferreira, presidente da associação
ambientalista Zero..
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Ainda não há fumo branco quanto à divulgação das
novas metas para as emissões de gases, traçadas em 2015 em Paris e sujeitas a
revisão a cada cinco anos - quando todos os relatórios científicos, divulgados nos
últimos tempos, alertam para a necessidade urgente de reduzir, pelo menos cinco
vezes, a quantidade de emissões lançadas na atmosfera, sob pena de não ser possível atingir os 1,5º C em relação ao
período industrial e de as ondas de calor e as tempestades atingirem a
Terra de forma irreversível.
O esforço mais palpável para discutir este assunto surge
da nova Comissão Europeia, que durante a tomada de posse - dias antes do
início da COP 25 - prometia dar especial atenção à luta contra as alterações
climáticas. E nesta semana foram dados os primeiros passos para o concretizar,
através da aprovação de um Pacto Ecológico Europeu (Green Deal). O plano
prevê que o executivo comunitário avance, no próximo verão, com medidas
concretas para atingir a neutralidade carbónica até 2050 e que serão
transversais a todos os setores de atividade. Para já, a União Europeia admite
travar mais a emissão de gases, passando de 50% para 55%.Um compromisso
assumido por 26 dos 27 Estados membros, que só deixou de fora a Polónia por
causa da grande dependência do país em relação ao carvão (representa 80% da
energia).
O que está a atrasar as
negociações?
Há vários rascunhos das conclusões saídas da COP
25 - quer do documento geral quer das resoluções sobre o Acordo de Paris e
sobre o Protocolo de Quioto -, mas há temas ainda por fechar. O
que tem estado a atrasar mais as negociações é a regulamentação global para os
mercados de carbono, que neste momento funcionam de forma isolada e com regras
diferentes. Porém, ainda não é certo se será possível
chegar a um consenso. Para já, foi apenas aprovada uma proposta para
ultrapassar a dupla contagem nos mercados, o que pressupõe que cada nação só
possa reduzir a sua quota-parte de emissões no seu país.
Outro dos temas que provocaram mais incertezas foi
o Mecanismo de Varsóvia de Perdas e Danos, um organismo para ajudar países que
sofrem com catástrofes naturais. Irá constar no documento final, mas há pontos
por esclarecer, como a forma de avaliação da catástrofe. "Isto funcionará
como um perito da seguradora que vai ver um carro para perceber se já estava
todo amolgado ou se isso aconteceu durante o acidente", compara Francisco
Ferreira. Também é preciso perceber que pacote financeiro auxiliará este fundo,
uma vez que as contribuições para o Fundo Verde Climático têm também ficado muito
aquém do objetivo dos cem mil milhões de euros anuais. Portugal
é um dos países que não duplicaram a sua contribuição face ao período homólogo.
Por tudo isto, ambientalistas, empresas,
sindicatos e mesmo alguns políticos olham para a COP 25 como um "desastre
completo". A própria ministra do Ambiente espanhola, Teresa Ribera, a
anfitriã em conjunto com o Chile, admitiu que há duas velocidades
entre as 197 nações: se há países que querem aumentar as suas ambições, outros
não estão sequer dispostos a cumprir o que já se debate há quatro anos, desde o
Acordo de Paris, como os Estados Unidos, a China ou o Brasil. É
"tempo de agir", prometia o mote da cimeira, agora com um sabor
amargo.
"A COP25 falhou-nos"
"A COP 25 falhou-nos a nós e a mais sete
milhões de grevistas", dizia, nesta sexta-feira, em conferência de
imprensa, a ativista espanhola Maria Olivella, antes de mais um protesto do
movimento Fridays for Futures. Num dos pavilhões da
Feira de Madrid, onde acontece a COP 25, duas centenas de jovens juntaram-se
para voltar a pedir justiça climática. Dentro e fora do espaço da conferência
do clima, os estudantes não se inibem de mostrar a sua desilusão, até pelo
facto de serem empresas como as espanholas Iberdrola, Endesa e Acciona
"responsáveis por 25% das emissões em Espanha" a patrocinar a
conferência, questionando se "é a COP 25 que precisa do dinheiro ou se são
as empresas que precisam de lavar as mãos".
O sentimento de indignação em relação ao trabalho
da COP é partilhado por todas as gerações. A diretora executiva da
organização ambientalista Greenpeace, Jennifer Morgan, considerou
"inaceitável" a versão mais recente de um rascunho de resolução final
em que se admite retirar o apelo às nações para "aumentarem o nível de
ambição em 2020 em resposta à emergência climática".
"Este texto é completamente inaceitável. Há
também um novo texto sobre perdas e danos [prevendo um mecanismo de compensação
aos países que sofram consequências das alterações climáticas] em que é claro
que a parte financeira ainda não está resolvida. Há duas opções sobre adaptação
e ainda não há nada sobre a regulação dos mercados de licenças de emissão de
gases com efeito de estufa", continuou Jennifer Morgan.
Todos estes apelos são reforçados pelo
secretário-geral das Nações Unidas, que diariamente dedica palavras de
incentivo aos representantes das 197 nações representadas na cimeira. "No
último dia da COP 25, peço aos países que enviem uma mensagem
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