NATAL Papa e Guterres Gravam mensagem contra a indiferença e a intolerância religiosa
NATAL Papa e Guterres
Gravam mensagem contra a indiferença e a intolerância religiosa
Dez 20, 2019 - 10:42
Francisco recebeu secretário- geral da ONU no Vaticano
Foto: LUSA/EPA |
O Papa Francisco recebeu hoje no Vaticano o secretário-geral
da ONU, António Guterres, em audiência privada, durante a qual gravaram uma
mensagem conjunta, em vídeo, contra a indiferença, a intolerância religiosa e a
destruição do planeta.
“Não podemos, não devemos
virar a cara para o outro lado, quando os fiéis de várias religiões são
perseguidos em várias partes do mundo”, alerta o Papa.
A mensagem rejeita qualquer
uso da religião para incitar ao ódio, à violência, à opressão, ao extremismo e
ao fanatismo: “Brada aos céus o uso da religião para incitar ao ódio, à
violência, à opressão, ao extremismo e ao fanatismo cego”.
Os dois responsáveis evocam
vários dos dramas da humanidade atual: guerras, violência, miséria, injustiças,
desigualdades, fome, pobreza, crianças que morrem por falta de água, abusadas,
migrações forçadas e desrespeito à vida, desde o nascimento até à morte.
“Não podemos, não devemos
olhara para o outro lado perante as injustiças, as desigualdades, o escândalo
da fome no mundo, da pobreza, das crianças que morrem porque não têm água,
comida e cuidados necessários. Não podemos olhara para o lado diante de
qualquer tipo de abusos contra os mais pequenos. Devemos, todos juntos,
combater esta praga”, afirmou o Papa.
“Não podemos permanecer indiferentes
quando a dignidade humana é pisada e explorada, diante dos ataques contra a
vida humana, seja a que ainda não nasceu, seja a de qualquer pessoa que precisa
de cuidados”, acrescentou Francisco.
O Papa posiciona-se contra a
corrida armamentista e, em particular, o armamento nuclear.
“É imoral não somente o uso,
mas também a posse de armas nucleares”, assinala.
Francisco e António Guterres
destacam a importância da preservação do planeta, apelando à ação “antes que
seja demasiado tarde”.
Vamos dar graças por todo o
bem que existe no mundo, por tantas pessoas que se empenham gratuitamente, por
quem vive a própria vida no serviço, por quem não se rende e constrói uma
sociedade mais humana e mais justa. Nós sabemo-lo: não podemos salvar-nos
sozinhos”
A poucos dias da celebração do
Natal, a mensagem conjunta realça que esta
celebração, “na sua genuína simplicidade, recorda que o que realmente conta na
vida é o amor”.
Guterres diz-se triste por ver
comunidades cristãs, algumas entre as mais antigas do mundo, que não podem
celebrar o Natal em segurança.
“Este é um tempo de paz e de
boa vontade e é com tristeza que vejo que as comunidades cristãs – incluindo
algumas das mais antigas do mundo – não podem celebrar o Natal em segurança.
Tragicamente, vemos judeus a serem assassinados em sinagogas, as suas lápides
vandalizadas com suásticas; muçulmanos mortos a tiro nas mesquitas, os seus locais
de culto profanados; cristãos mortos em oração, as suas igrejas incendiadas.
Temos de fazer mais para promover a compreensão mútua e o aumento do ódio”,
referiu o secretário-geral da ONU.
A Santa Sé informa que o
secretário-geral da ONU se encontrou ainda com o secretário de Estado do
Vaticano, cardeal Pietro Parolin, acompanhado pelo secretário do Vaticano para
as relações com os Estados, D. Paul Richard Gallagher.
Em nota oficial divulgada pela
sala de imprensa da Santa Sé refere-se que o encontro “segue a tradição das
audiências concedidas pelos pontífices aos secretários-gerais das Nações
Unidas” e acontece por ocasião do 75.º aniversário da ONU.
As conversas destacaram a
“consideração da Santa Sé pelo compromisso das Nações Unidas em favor da paz
mundial”, abordando ainda “situações de conflito, instabilidade social e graves
emergências humanas”.
Segundo o Vaticano, em cima da
mesa estiveram “o processo de implementação os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável e a crise do multilateralismo”, que tem como consequência “a
dificuldade de gerir alguns dos problemas atuais, como a migração e o tráfico
de pessoas, as mudanças climáticas e o desarmamento”.
Guterres recorreu à sua conta
na rede social Twitter para saudar o papel do Papa como “mensageiro de esperança
e dignidade”, na “proteção do planeta”, dos direitos humanos, dos refugiados e
migrantes, “construindo pontes entre comunidades”.
“Precisamos da sua voz moral,
mais do que nunca”, escreveu.
O responsável português tinha
adiantado, no início da semana, a preocupação comum com o tema da liberdade
religiosa, alertando para “o aumento da intolerância”.
“Os ataques mortais contra as
mesquitas na Nova Zelândia, as sinagogas nos Estados Unidos e as igrejas no Sri
Lanka na Páscoa demonstram a urgência de agir para que todos, independente da
sua fé religiosa, possam desfrutar plenamente seus próprios direitos humanos. A
diversidade é uma riqueza, não uma ameaça”, referiu Guterres, em entrevista ao
portal de notícias do Vaticano.
O secretário-geral das Nações
Unidas elogiou o papel do Papa na defesa da paz e das causas ambientais,
mostrando a sua “admiração” pelo pontífice.
“É uma voz forte sobre a crise
climática, sobre a pobreza e sobre a desigualdade, sobre o multilateralismo,
sobre a proteção dos refugiados e migrantes, o desarmamento e sobre muitas
outras questões importantes”, sustentou.
Foto: Lusa/EPA |
Para António Guterres, a figura do Papa é uma referência no
trabalho da ONU pelo “desenvolvimento sustentável, a luta pelas mudanças
climáticas e a promoção de uma nova cultura de paz”. O responsável português mostrou-se ainda “desiludido” com os
resultados da COP25 – Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Alterações Climáticas, que decorreu em Madrid.
“A comunidade internacional perdeu uma importante ocasião
para afirmar uma ambição mais decidida sobre a mitigação, a adaptação e o
financiamento para lutar contra a crise climática”, observou.
Apontando ao 75.º aniversário da ONU, em 2020, o
secretário-geral admite a necessidade de mudanças e, em particular, diz que cabe aos
Estados membros determinar “o modo como será reformulado o Conselho de
Segurança”.
OC
Comentários
Enviar um comentário