Maria Discípula e Missionária por GIANFRANCO VIANELLO, PIME



Toda a Missão nasce e constrói a sua sensibilidade missionária na experiência interior. Quanto mais profunda, tanto mais ela manifesta a sua tensão universal, pois a medida do amor é o próprio Deus, cujo amor pelos homens é infinito e seu cuidado se estende de geração em geração.
Nesse sentido, Maria se torna modelo humilde e quotidiano. Ao longo da sua existência humana, o seu fazer nascer Jesus, no seu coração e no cumprimento de um projecto que se revelava a ela, dia a dia, com atenção amorosa e constante fidelidade, é o sinal e a característica da sua fé missionária.
“Minha alma engrandece o Senhor…todas as gerações me felicitarão porque o Todo-Poderoso realizou grandes obras em meu favor” (Lc 1, 46-49).
Os seus passos, ora na montanha da Judeia para visitar Isabel, ora seguindo Jesus, de aldeia em aldeia, ora permanecendo aos pés da cruz, num dilacerante sofrimento, marcam os sentimentos de fidelidade, de perseverança, de partilha de toda a vocação cristã que respira a dimensão missionária e a concretiza colocando-se nos espaços profundos da realidade humana.
O encontro com aqueles que precisam, transmitindo a alegria do Senhor: “as flores florescem na terra, o tempo da poda vem chegando, e o canto da rola já se ouve em nosso campo” (Ct 2, 12); o deslocamento em lugares não habituais: “vou rondar pela cidade, pelas ruas, pelas praças, procurando o amado da minha alma” (Ct 3, 2); a partilha com os sofredores e os marginalizados porque “as águas da torrente jamais poderão apagar o amor, nem os rios afogá-lo” (Ct 8, 7).

Com Jesus, na Igreja
Maria “conservava todas essas recordações e as meditava no seu coração” (Lc 2, 19).
Guardar no coração as raízes da nossa fé, lembrar as pessoas e os eventos que construíram a nossa resposta ao Senhor, agradecer pela gratuita inserção na vida da Igreja e pela bem-aventurada esperança que nos aguarda, tudo isso nos encoraja a assumir as responsabilidades de testemunhar o Senhor. Tudo isso nos compromete a anunciar o evangelho da salvação em todas as dimensões: desde a espiritual, intelectual, afectiva, até aos pobres e ricos, aos próximos e distantes, às diferentes culturas, raças e nações, porque grande é o desejo que o Amor seja conhecido, amado e servido.
Os meios de comunicação que nos apresentam os acontecimentos e a realidade do mundo inteiro, tornam-nos partícipes e responsáveis em contribuir para melhorar a vida dos nossos irmãos e chamam nossa consciência para a omissão e indiferença em viver o evangelho, sendo sal e luz no meio do povo.

O abraço universal
Maria é o lugar onde Deus fez sua morada. Ainda hoje, a escassez de presença cristã no mundo faz com que Deus envie, novamente, a Virgem Maria para cuidar dos seus filhos, sacudindo a preguiça dos adormecidos, iluminando os caminhos dos que O buscam, fortalecendo os fracos na fé, enxugando as lágrimas dos desesperados, confundindo os soberbos, derrubando os poderosos com suas lógicas fechadas, cegos pelo materialismo e auto-suficiência.
A resposta que Jesus deu, quando lhe disseram: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem-te ver”, chama-nos à responsabilidade do testemunho e do anúncio: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”. (Lc 8, 20-21).
O Papa Bento XVI destacou “a rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos” e a apresentou como “precioso tesouro da Igreja católica na América Latina”. E acrescentou: “Maria Santíssima, a Virgem pura e sem mancha, é para nós escola de fé destinada a conduzir-nos e a fortalecer-nos no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra. Permaneçam na escola de Maria. Inspirem-se em seus ensinamentos. Procurem acolher e guardar dentro do coração as luzes que ela, por mandato divino, envia a vocês a partir do alto”. (Discurso final no Santuário da Aparecida – Brasil).

Conclusão
Os nossos bispos, falando da formação na espiritualidade da acção missionária, convidam-nos a uma “formação baseada na docilidade ao impulso do Espírito, à sua potência de vida que mobiliza e transfigura todas as dimensões da existência. Não é uma experiência que se limita aos espaços privados da devoção, mas que procura penetrá-los, completamente, com seu fogo e sua vida” (DA 284). “Quando o impulso do Espírito impregna e motiva todas as áreas da existência, então penetra também e configura a vocação específica de cada pessoa” (DA 285).
Foi o caminho da Virgem Maria; é o caminho traçado para a Igreja. Seja, também, o nosso caminho pessoal na aventura da evangelização.  (de MUNDO e MISSÃO, Set.2009, p.31)

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