SAÚDE: Dois casos duas vidas semelhantes por ARMANDO SOARES


SAÚDE: Dois casos duas vidas semelhantes por ARMANDO SOARES

Sónia Santos publicou no JN de  21.08 um caso que faz reflectir e pensar que as doenças são uma realidade mesmo quando não têm aparências exteriores. Narra o caso de Joana Pereira que se deslocou vários dias seguidos às urgências do hospital de Esposende. “Num dia queixava-se de dores excruciantes numa mão, no outro dia as dores apareciam no cotovelo, no dia seguinte não aguentava com pontadas lancinantes nos pés. Tinha 17 anos e não conseguia compreender o que se passava consigo. Passados alguns exames e análises mais específicas, veio o diagnóstico: Joana sofria de artrite reumatoide”
Quando ouviu o nome da doença, pensou que tomava uns comprimidos e ficava boa. «Não fazia ideia do que me ia acontecer». Porém, rapidamente descobriu. As dores que tinha começaram a impedi-la de fazer tudo o que se faz aos 17 anos. Muitas vezes não conseguia sequer levantar-se da cama. Mas, afinal, que dores são essas? «Vou tentar explicar: imagine que vai na rua e torce um pé. A dor é muito forte, muito aguda naquele momento. Pois agora imagine ter essa dor em todas as articulações. Mas essas não são as piores dores. As piores dores são as da incompreensão. Os outros não vêem as nossas dores e pensam que somos preguiçosos, manhosos, que não queremos fazer as coisas. Só quando os ossos começam a deformar-se é que as pessoas percebem a gravidade da doença». Porém Joana tem um discurso positivo. Apesar de já ter perdido a conta às vezes que esteve internada, apesar de ter uma prótese total da anca e uma tripla artodese do pé direito, apesar de já ter rejeitado quase todos os medicamentos, seu sorriso é contagiante.
O que me chamou a atenção foi o seguinte. Desde há 45 anos que tenho problemas diagnosticados pelo médico, na região cervical. Isto levou-me, a conselho de especialistas e para evitar o pior, a fazer uma cirurgia, por causa de estenose canalar,  a 4 vértebras cervicais ficando fixadas a uma placa com 4 parafusos respectivamente na C4-C5-C6 e C7 (= discectomia C4 C5 C6 C7 e C6 C7 – artrodese com cage e fixação com placa). A cirurgia correu bem mas as sequelas é que foram e são o diabo. E o que mais custa é que as pessoas não vêem o que eu sofro, não vêem as minhas dores nas articulações das pernas, dos braços e das mãos.Muitas vezes mal posso caminhar. Julgam que sou manhoso, que sou maníaco, que sou tolo, que sou preguiçoso. E só Deus e os médicos sabem o que sofro.
Daí uma grande depressão e angústia me envolvem e me abatem de tal maneira que muitas vezes me sinto a mais e desprezado. Sinto-me marginalizado e oprimido. E é isto que os outros não compreendem.  Só quem passa por elas. E até têm a coragem de falar assim: « Eu é que sei o que tu tens: tens uma “mentalidade débil” (= acho que quer dizer tolo). E mais: «Os médicos não sabem nada, eu é que sei o que tu tens». Graças a Deus esse colega responsável, que assim pensa, creio que as doenças dele não passaram de dores de cabeça ou duns pontos a mais no colesterol, ou dumas leves cólicas abdominais e por isso também julga que o meu problema está resolvido com os comprimidos. Isto é que faz doer e pode levar mais depressa ao pior. Os médicos não sabem tudo, mas fui avaliado por vários neurologistas e pelo médico psiquiatra que me acompanha e todos são unânimes.  Até um médico suíço consultado por mim, um ano depois da cirurgia, concluiu: «Padre Armando, tem uma enorme depressão. Se a vencer…». A cirurgia foi já em 2007. Sem a compreensão dos outros acabo por não a vencer. E já venci três situações de grave stress ou cansaço sempre por excesso de trabalho. E venci aos 18 anos uma tuberculose, em 3 anos de tratamento. É preciso de facto não ter juízo, ou pouco cuidado com a saúde. Na primeira vez tive de arrancar para Joanesburgo, pois até os médicos (italianos) em Moçambique diziam que eu estava bem porque as análises estavam boas. Eu é que não estava. (Mas cheguei a dar 40 horas de aula por semana e era Director do Colégio). Tratei-me e curei-me. Uma cara aparentemente bonita pode esconder muitas dores e sofrimento. Até porque até hoje nunca me queixei da cara.
Agradeço a partilha do caso da Joana Pereira, trazido para o jornal pela Sónia Morais Santos. Só me falta a coragem para sorrir no meio das dores porque o ambiente à minha volta se tornou demasiado sombrio e opressor e numerosas diferenciações com os meus colegas da comunidade. O que parece ser impossível tornou-se e é uma verdade inapagável na minha história e do grupo. Haja coragem para vencer, ir em frente e continuar a trabalhar pelo reino de Deus e pela promoção do homem.




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