O desafio espiritual da meia-idade por ARMANDO SOARES


O desafio espiritual da meia-idade por RMANDO SOARES
Tornou-se bastante habitual ver pessoas que viveram com gosto durante muito tempo, o seu matrimónio ou a sua vida religiosa, mas que, ao aproximarem-se dos quarenta ou cinquenta anos, abandonaram os seus compromissos, ou então se encheram de raiva vomitando asquerosidades impensáveis contra aqueles que conheceram e que mantiveram seu gosto e sua força vital para vencerem a melindrosa etapa. Perante este facto é o grande conselheiro Anselm Grun, monge beneditino, um dos autores cristãos mais lidos e grande comunicador nas suas muitas conferências, quem o diz, e nos convida a reflectir sobre o caso. Mais, analisa-o à base de especialistas. Dá assim pistas a quem enfrenta o problema e procura enfrentá-lo e levar a sair dele com vantagem e superando-o. Com ele estão a ajuda de Tauler, autor espiritual e Jung, grande psicólogo. Com eles poderão superar a crise aqueles que se debatem com ela. Porque ainda a não passaram e, mais ou menos todas as pessoas normais por ela passam.
Dá pelo nome de “O desafio espiritual da meia-idade”, ou a crise do meio da vida.
As pessoas começam por perder a segurança própria da idade. Questionam a estabilidade havida até aí. Sentem-se frustrados. Com a família, falta-lhes apoio. Em tudo. A vida emocional torna-se confusa. Surgem as primeiras brechas, que criam desestabilidade. Perdem a força da confiança. E isto entre os casos matrimoniais e ainda mais nas comunidades religiosas. Perante uma vocação que se torna discutível e porque não? A varrer pelo campo do desilusório! Surgem então sintomas de mudança, de separação matrimonial, depressões nervosas, transtornos psicossomáticos diversos. Se isto dá num superior religioso, o caso torna-se mais grave para ele, e sumamente danoso para com os que terão de o suportar. E há tantos! Nem imaginamos.

Anselmo Grun analisa o problema surgido na sua comunidade e que, em mesa redonda e reflectindo, tentaram compreender e superar.

O grande problema para os religiosos não é o de se encontrarem em circunstâncias físicas ou psíquicas alteradas, nem devido à diminuição de forças corporais e espirituais ou novos desejos e nostalgias próprios da idade; mas sim, duma profunda crise da existência cujo sentido se questiona totalmente: porque eu trabalho tanto, sem encontrar tempo para mim? Porquê, como, com que fim, para quê, para quem? A pergunta pelo sentido esconde a possibilidade de encontrar um novo sentido para a vida, Deus está presente.e também actua nesta crise e mobiliza o coração no sentido de se libertar de todos os enganos.
A crise da meia-idade torna-se para o crente uma fonte de força. E enriquece-nos se nos dispomos a abandonar-nos em Deus e a entregar –lhe toda a nossa vida. E estes aspectos já são apontados pelo místico alemão Johannes Tauler, que a eles se referiu, 600 anos antes.
No nosso tempo, o terapeuta suíço C. G. Jung também examinou o fenómeno da crise humana e espiritual na meia-idade. É nesta altura que vêm à tona os temas religiosos, como antanho, surge agora, como uma uma “sombra” que fala, tudo o que o homem foi. Por isso Jung sugere para superar a crise da meia-idade não só os métodos psicológicos, mas o caminho do jejum, do silêncio, da oração. Só quem se encontra com a vida do inconsciente pode dar nova direcção e profundidade à sua vida concreta.
Jung lamenta que muitos já não sigam a escola da religião para superar suas crises pessoais. O presente livro de A. Grun quer estimular, e em boa hora o faz, a descoberta do caminho religioso como caminho de cura, de sarar feridas dolorosas com que a vida nos agride
E Anselm Grun termina o prefácio do seu livro “O desafio espiritual da meia idade” dizendo: « O caminho de Cristo que, pela cruz, conduz à nova vida da ressurreição, é uma via através da qual também chegaremos a tornar-nos humanamente mais amadurecidos e sãos».

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