CHILE Papa critica «vergonha» dos abusos sexuais que envolve Igreja Católica no país
CHILE
Papa critica «vergonha» dos
abusos sexuais que envolve Igreja Católica no país
Jan 16, 2018 - 11:37
«Que casos destes nunca mais se repitam», frisou Francisco num discurso na
sede governamental chilena
O Papa abordou hoje os casos de abusos
sexuais cometidos por membros do clero ou em instituições da Igreja Católica no
Chile, durante um encontro em Santiago com as autoridades políticas, civis e
membros do corpo diplomático do país, no início do segundo dia da sua vista
àquele país da América do Sul.
“Não posso deixar de dar conta da vergonha que sinto pelo dano irreparável
causado às crianças por ministros da Igreja”, frisou Francisco, no discurso que
fez no Palácio de La Moneda, a sede do Governo chileno, perante a presidente
Michelle Bachelet.
No seu discurso, feito em espanhol, o Papa argentino salientou ainda a
importância da Igreja Católica no país “empenhar-se para que casos destes nunca
mais se repitam”.
“Desejo unir-me aos meus irmãos no episcopado, porque é justo buscar o
perdão e apoiar com todas as forças as vítimas”, salientou ainda.
Referindo-se depois à sua presença em território chileno, Francisco
declarou a sua felicidade poder ir ao encontro de uma nação “rica na sua
diversidade cultural e geográfica”, que hoje vive um período de “crescimento na
democracia”, depois de anos de “dor” motivados pela ditadura.
Recordando que “as conquistas fazem-se dia-a-dia”, o Papa argentino exortou
os atuais responsáveis políticos, quer a presidente cessante, Michelle
Bachelet, quer o novo presidente já eleito, Sebastián Piñera, a continuarem a
empenhar-se pela consolidação do “sonho da democracia”, para que esta “não se
limite a aspetos formais” mas que seja de facto “para todos”.
“Um lugar, uma família chamada Chile”, desafiou o Papa, que destacou
sobretudo a importância do “diálogo” como forma de relação “entre as autoridades
e o povo”, para que todos trabalhem em conjunto pelo desenvolvimento.
Neste contexto, Francisco recordou alguns desafios que persistem no país,
como o desemprego, a situação dos povos indígenas, “cuja cultura deve ser
protegida para que não se perca uma parte da riqueza desta nação.
Também “os migrantes que batem à porta do país”, os “jovens que devem poder
sentir-se protagonistas” desta sociedade, e ser protegidos do “flagelo da
droga”, os idosos e as crianças.
“Devemos ouvir os mais pequenos que esperam soluções reais de futuro”,
frisou Francisco, que alertou ainda para o desafio ecológico que o mundo, e
também o Chile, têm pela frente.
É urgente “fomentar uma cultura pela casa comum, contra os problemas que
hoje persistem, ousar um olhar diferente, um estilo de vida e uma
espiritualidade que se oponha ao paradigma do tecnocrático”, disse o Papa, que
destacou neste caso “a sabedoria dos povos indígenas, que pode dar um grande
contributo”.
Francisco concluiu a sua intervenção fazendo votos de que esta “abençoada
nação” possa ver “crescer os seus sonhos”.
O protocolo do encontro no Palácio de La Moneda prosseguiu depois com um
encontro privado entre o Papa e a presidente Michelle Bachelet, que na sua
intervenção realçou o esforço que o Papa tem feito contra as “desigualdades” no
mundo e declarou a sua esperança de que o Chile possa continuar no seu percurso
de desenvolvimento, em termos democráticos e sociais.
O programa deste segundo dia da visita apostólica do Papa ao Chile prevê
ainda a partir das 13:30 (hora portuguesa) uma deslocação ao Parque O’Higgins,
na capital chilena, onde Francisco irá celebrar uma Missa ao ar livre pela paz
e a justiça.
Depois, ao fim da tarde, pelas 19h00, o Papa argentino estará no
Estabelecimento Prisional Feminino de Santiago, para estar com cerca de 400
reclusas.
Para a noite estão reservados encontros com representantes da Igreja
Católica do Chile.
À partir das 20h15, o Papa estará com cerca de dois mil sacerdotes,
religiosos, religiosas, consagrados e seminaristas, na Catedral de Santiago, e
depois com os bispos, na sacristia da Catedral.
Francisco terminará o seu dia com uma visita privada ao Santuário de São
Alberto Hurtado, um sacerdote jesuíta chileno que se destacou ao serviço dos
mais pobres e na divulgação da Doutrina Social da Igreja, canonizado pelo Papa
Bento XVI em 2005.
O Papa argentino estará ainda no final desta terça-feira num encontro
também mais reservado, com os sacerdotes da Companhia de Jesus.
A 22ª viagem internacional do pontificado do Papa Francisco, neste caso à
América do Sul, primeiro ao Chile e depois ao Peru, decorre até domingo, com
passagens por seis cidades chilenas e peruanas, num percurso total de mais de
30 mil quilómetros.
O Chile recebe um Papa mais de 30 anos depois da visita de São João Paulo
II, em 1987.
JCP
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