O MUNDO SEM DEUS É DESUMANO por Armando Soares

29 | O mundo sem Deus é desumano 
















Podemos assinalar que um mundo sem Deus é desumano e que a liberdade religiosa é o direito mais violado em especial contra os cristãos. Assim o desenvolveu o Cardeal Tauran na intervenção no Encontro de Assis de 24 de Agosto passado, sobre o tema: «Sociedade Internacional e liberdade de religião». No século XX morreram 45 milhões de cristãos por causa da fé. Assassinados, discriminados, agredidos e por vezes vítimas de um terrorismo baseado em motivações “religiosas”. E ultimamente igrejas e mesquitas são destruídas e isto até quando estão lá em oração. No entanto, nos direitos humanos lemos:” a liberdade de estabelecer e manter lugares do culto, ensinar e fazer reuniões que se refiram a uma religião ou credo; a liberdade de escrever, imprimir e difundir publicações sobre as religiões ou os credos; a proibição de qualquer constrangimento contra a pessoa que poderia atentar contra a sua liberdade de ter ou adoptar uma religião à sua escolha. «A liberdade de religião – explicou – levanta portanto o problema das religiões na sociedade. O homem é por natureza, religioso. Em todas as culturas há vestígios de culto e de instrumentos rudimentares, além da força da tradição oral. Pensar que a laicidade moderna possa prescindir da espiritualidade é uma pura aberração. Um mundo sem Deus é um mundo desumano. O facto religioso faz parte integrante do ser do género humano. No fundo, todas as religiões ajudam a compreender como os outros homens reconheceram Deus através da criação». O facto judaico-religioso não é um simples culto mas um evento que constitui a história. Até 1945 os direitos do homem eram enfrentados no âmbito de cada país. Nada de intromissões de outros estados. Foram as atrocidades da segunda guerra mundial que levaram a um compromisso pela defesa da dignidade e da liberdade do homem. Passando a tutela a ser de âmbito internacional. Em 1944 foi criada a OIT e depois a Organização das Nações Unidas de que emana, a 10 de dezembro de 1948, a Declaração dos Direitos do Homem. A expressão “liberdade de religião” já foi cunhada 65 por Tertuliano no século III. O Cardeal Tauran sintetiza: - O direito de ter a religião ou o credo escolhidos, a não ter nenhum, a mudar de religião ou a renunciar a ela; - A proibição de qualquer discriminação fundada na religião ou no credo; - A liberdade de manifestar a própria religião ou credo, individual ou em comunidade, quer em público quer em privado; - A liberdade de exercer um culto, de cumprir os ritos e as práticas, e também de ensinar; a possibilidade de limitar as manifestações da religião ou do credo, se estes limites são previstos pela lei e necessários para garantir a ordem pública; - A proibição de qualquer recurso ao ódio religioso que constitui uma instigação à discriminação, à hostilidade ou à violência; - O direito de educar os próprios membros e reunir-se livremente.» - A possibilidade dos pais educarem a prole segundo as próprias convicções. Os poderes públicos, não podem impor nem impedir uma adesão religiosa, nem propagar a destruição do fenómeno. Devem proclamar a liberdade religiosa e garantir sua prática efectiva. Poderão limitar a prática da liberdade de religião, caso fossem lesados os direitos dos outros, ou ameaçadas a saúde e a moral públicas. Está em jogo a tutela do bem comum. O Estado deve respeitar uma neutralidade: nem indiferença, nem hostilidade, nem identificação com uma religião, nem propaganda de uma ideologia antireligiosa. As religiões são um movimento do homem para Deus, enquanto que no judaísmo e no cristianismo, é Deus que vem ao encontro do homem: é uma revelação. As Igrejas trabalham em primeiro lugar pela religião, e em relação a isto o Estado pode ser indiferente. Mas elas trabalham também pela civilização, e isto não pode deixar de interessar ao Estado. Cidadãos mais conscientes, mais propensos a participar na vida social e cultural, mais cultos, mais preocupados pela gestão pública, são sem dúvida nenhuma um recurso. A humanidade deve colaborar com a instauração duma «ordem políticosocial e económica que sirva cada vez mais e melhor o homem, e ajude cada um dos homens e aos grupos a oferecer uma contribuição considerável e em particular a Igreja católica situa-se na vanguarda». 66 Precisamente os cristãos desempenham um papel na vanguarda, «porque cremos que o homem realiza a própria humanidade quando a recebe de Deus; quando está consciente da sua dignidade, na qual reconhece em si e nos outros a marca de Deus que nos cria à sua imagem; que o homem é grande na medida em que faz da sua vida uma resposta ao amor de Deus e ao serviço dos irmãos». Somos livres para libertar muitos dos nossos irmãos e irmãs encadeados por tantos ídolos. Vivemos num mundo que, certamente, é magnífico mas também cheio de zonas cinzentas; um mundo no qual o homem explora os segredos do átomo e do espaço, mas muitas vezes está cego perante o sentido da aventura da sua vida

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