CHILE Papa denuncia «graves atentados» cometidos contra os direitos dos indígenas
CHILE
Papa denuncia «graves atentados» cometidos
contra os direitos dos indígenas
Jan 17, 2018 - 14:35
Francisco celebrou missa no aeroporto de Maquehue, na
cidade de Temuco
O Papa criticou hoje
no Chile a cultura do “predomínio do mais forte” que tantas vezes ceifa a
“unidade” e o respeito pela “diversidade” que deveria reger a vida humana, e em
particular os “graves atentados” cometidos contra os indígenas no país.
Francisco deixou esta mensagem durante uma missa
solene pelo “progresso dos povos”, promovida no aeroporto de Maquehue, na
cidade de Temuco.
Um território “com muitas riquezas” naturais, “cheio
de vida”, mas que, lembrou também o Papa, ao longo da sua história foi marcado
por inúmeras violações aos “direitos humanos”.
“Quantas gerações de homens e mulheres amaram e amam
este solo. Mas se nos aproximarmos do solo ouvimo-lo cantar, cantar com
tristeza, injustiças de séculos”, apontou o Papa argentino.
Depois de saudar os membros do povo mapuche, também
“os rapanui, aymaras, quechuas, atacamas” e demais povos indígenas que vivem no
território, Francisco lembrou as muitas comunidades que atualmente também
sofrem com “tristeza e dor” a opressão daqueles que querem impor o seu poder
aos outros.
Ou porque pensam que a sua cultura se sobrepõe à
outras, ou porque acham que têm supremacia em termos territoriais, políticos,
sociais ou económicos.
Durante a celebração, o Papa exortou os milhares de
fiéis presentes a rezarem “pelas pessoas que foram mortas, pelas pessoas que
diariamente carregam injustiças”, um “sofrimento” que Francisco sublinhou
precisa de “ser resgatado”.
“Uma das piores ameaças que atinge os povos é o
conflito, a subjugação de uns pelos outros”, prosseguiu o Papa, para quem hoje
muitas vezes se “confunde unidade com uniformidade”.
“A unidade não nascerá com a supressão das diferenças,
mas apenas quando cada parte souber partilhar a sua sabedoria com as outras.
Tão pouco tem origem no predomínio do mais forte. Não há culturas superiores ou
inferiores”, frisou Francisco, que convidou o Chile e o mundo a buscar um
“caminho de solidariedade, como forma de tecer a unidade”, e a dizer não a
“toda e qualquer forma de violência”, que “acaba por tornar falsa a causa mais
justa”.
Na sua homilia, o Papa alertou ainda para o pecado das
falsas promessas, da criação de falsas expetativas, que muitas vezes marcam as
relações humanas e causam tanto sofrimento, como acontece quando está em causa
o direito à terra ou aos recursos naturais.
“Acordos que nunca se concretizam, palavras bonitas
que não se tornam concretas, que acabam por esborratar com o cotovelo o que se
escreveu com a mão”, criticou Francisco.
Depois da missa, o Papa argentino vai almoçar, a
partir das 15h45 (hora portuguesa), com 11 habitantes de Araucania, na Casa
Madre de la Santa Cruz, entre os quais 8 mapuches.
Os mapuches são um povo indígena da região centro-sul
do Chile e também provenientes do sudoeste da Argentina, que historicamente
reivindica o direito à região de Araucanía, acusando mesmo o Estado de lhes ter
retirado milhares de hectares de terra.
Este povo reivindica também um maior conhecimento e
respeito pela sua cultura e dignidade, e neste contexto a oportunidade de estar
com o Papa assume uma grande importância.
JCP
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