VOCAÇÃO Luz e vida por: SUSANA VILAS BOAS
VOCAÇÃO
Luz e vida por: SUSANA
VILAS BOAS
In Além mar Jan
2018
Neste mês celebramos a festa da Epifania, a
revelação de Jesus a todos os povos. No entanto, que tem a Epifania que ver com
a vocação? Que poderá a Epifania dizer-nos de concreto quando se fala de
vocação como luz e vida? Será o acolhimento que fazemos ao Deus-Menino similar
àquele que devemos fazer ao dom da vocação?
Tal como a Epifania, a vocação não é algo
estático, situado num determinado momento decisivo na nossa vida. Ela faz parte
da nossa vida desde que nascemos e marca toda a nossa existência. Mesmo durante
o processo de discernimento vocacional, ainda que este possa ser marcado por
caminhos e opções que nos levem noutras direcções, a vocação irradia e orienta
os nossos passos. Ela é vida, na medida em que se apresenta como luz que nos
vai indicando o caminho que somos chamados a percorrer, reclamando uma mudança
de direcção sempre que nos afastamos dele.
Uma luz brilha nas trevas
Jesus é a luz de todos os povos. E essa luz
ilumina e brilha no meio das nossas angústias e dificuldades. Tudo parece
ganhar nova vida. No entanto, quanto dura essa alegria? Quanto dura o brilho
dessa luz de alegria na nossa vida?
O Evangelho de S. Mateus não deixa dúvidas
quanto ao impacto da vinda de Jesus: «O povo que vivia nas trevas viu uma
grande luz» (Mt 4,16). Esta é a certeza que leva ao anúncio do Reino,
permitindo que esta luz continuasse a brilhar no coração daqueles que, pelas
dificuldades da vida, se sentem isolados nas trevas da tristeza e da solidão.
Com Jesus, a luz brilha nas trevas das nossas
interrogações, desafiando-nos a manter esta Luz acesa além do tempo das
festividades natalícias. A luz de Jesus acompanha-nos nas nossas canseiras
quotidianas se permitirmos que ela continue a brilhar em nossos corações.
A vocação como luz
A vocação é luz orientadora para a nossa
vida. É ela quem nos orienta e nos guia no caminho e nas decisões que tomamos.
Porquê? Porque a vocação não é nossa, é dom de Deus e, nesse
sentido, «é a luz de Deus que regula com uma sabedoria sobre-humana [...] na
sua organização admirável; [e, nas adversidades,] é Deus mesmo que, nesta época
desafortunada e difícil, faz prosperar esta obra divina no meio de tantas
dificuldades» (S. Daniel Comboni, Escritos, 4410). Isso não
significa que a vocação é um “apêndice” nas nossas vidas. Ao contrário, é um
dom, um presente oferecido por Deus que, em total liberdade, podemos aceitar ou
rejeitar. Porém, esta dádiva não é feita por acaso. Ela acontece porque Deus
nos quer felizes, uma felicidade que parte daquilo que somos, sem nos mutilar
nem nos reduzir a algo que não somos nem queremos ser.
Assim, a vocação é luz que torna o nosso
caminho de discernimento, não num caminho de busca angustiante, mas num caminho
de luz e esperança; num caminho que estamos certos de não fazer sozinhos. Isso
mesmo encontram os discípulos de João Baptista quando, procurando discernir o
seu próprio caminho, perguntam a Jesus: «Mestre, onde moras?» Ao que Jesus
responde, traçando o caminho certo do discernimento: «Vinde ver» (Jo 1,38-39).
O caminho da descoberta vocacional faz-se no seguimento da Luz que é o próprio
Jesus que nos chama a segui-lo e a ficar em Sua casa.
Seguir a Luz
Seguir a Luz é desinstalar-se, é pôr-se a
caminho com a fé de que seremos conduzidos por um caminho que certamente não
será fácil, mas que nos leva à alegria do encontro com a felicidade verdadeira
– aquela felicidade que é dom de Deus reservado para nós.
Ninguém nos força a seguir a luz, mas... que
acontece quando estamos num espaço escuro e se acende uma luz? Podemos
voltar-lhe as costas ou fechar os olhos, permanecendo na mesma condição que
estávamos antes, procurando, neste caso, não mexer muito, não fazer nada, para
evitar chocar com alguma coisa e ferir-nos – é uma opção que nos leva a
refugiarmo-nos no medo. Ao contrário, podemos ousar ir em direcção à luz que se
acendeu, ainda que correndo o risco de nos ferirmos um pouco no momento em que
nos desinstalamos do local obscuro em que nos encontramos.
Fechar os olhos à Luz é andar perdido nas
trevas, é andar à deriva sem nunca chegar a um destino. Como discernir a
vocação sem tomar decisões concretas na direcção em que pensamos ser chamados a
seguir? Seguir a luz implica dar passos: caminhar! É sempre uma atitude
dinâmica que implica sair de si e ir ao encontro desta mesma Luz que, pouco a
pouco, se torna caminho e vida.
Vocação: luz para a vida
A vocação é luz para a vida na medida em que
é ela quem guia e orienta as nossas decisões e comportamentos, tornando-se
também guia orientador daquilo que somos e daquilo que ansiamos ser.
A vocação, como luz que é dom de Deus,
torna-se esperança e força para uma vida que, também ela é dom de Deus.
Importa, porém, ter em conta que esta luz brilha para nós, não
podendo ser entendida como elemento que vai contra aquilo que queremos e nos
força a caminhar em direcções contrárias àquilo que somos. Ao contrário, esta é
a luz que nos orienta em direcção àquilo que desejamos ser, àquilo que Deus
sonhou para nós, àquilo que fará plenamente feliz a nossa existência. Em Deus,
não há opções infelizes nem escolhas maiores nem menores – todas são,
igualmente, de Deus e para Deus. Este Deus que é Pai e nos ama
incondicionalmente, independentemente das nossas escolhas e, sobretudo, ama-nos
com um amor que nos deixa livres, oferecendo-nos o dom da vocação (dom da
felicidade) para que este seja recebido e vivido em plena liberdade.
Viver a vocação para uma vida em abundância
Ousar trilhar um caminho de descoberta da
vocação é já um passo para aceitar viver uma vida em abundância. Uma abundância
de quê? Jesus não nos promete uma vida de facilidades, mas uma vida de
felicidade, em que Ele, caminhando connosco, nos dá força na adversidade e a
vitória última daquilo que mais ansiamos.
Viver a vocação é mergulhar na abundância que
vem de Deus e que tem Deus sempre presente – é viver uma vida em plenitude de
amor, permitindo-nos ir mais longe do que aquilo que poderíamos sequer imaginar.
É para que tenhamos vida em abundância que
Jesus veio ao mundo (Jo 10,10) e nos dá uma vocação (verdadeiro chamamento à
vida) para que a abundância divina inunde o nosso ser e o nosso quotidiano. Também
S. Daniel Comboni nos apresenta o modo como a realização da sua vocação
missionária espelha a abundância do dom de Deus quando afirma: «Confiança em
Deus toda. O que sei ao certo é que o Plano é vontade de Deus: Deus quere-o
para preparar outras obras para a sua glória» (Escritos, 1390). Aqui, o
concreto da vocação é vivido na fé de se estar a viver segundo a vontade de
Deus e no desejo que os passos dados sirvam sempre para a Sua glória.
A vida em abundância pressupõe, precisamente,
o abandono de esquemas egoístas que nos afastam da verdadeira Luz, apresentando
a entrega e o caminho que se percorre como percurso para entrar e viver na
abundância da alegria que nos vem de Deus.
O P.e Jorge
Oliveira, na Maia. Tlm: 916 656 857. Email: jovemissio@gmail.com; jovensemissao.blogspot.com
O P.e Carlos
Nunes, em Lisboa. Tlm: 913 739 160. Email: jimsulmccj@gmail.com
Comentários
Enviar um comentário