MOÇAMBIQUE Testemunho missionário por P. ALBERTO VIEIRA, missionário Comboniano *

MOÇAMBIQUE
Testemunho missionário por P. ALBERTO VIEIRA, missionário Comboniano *

O P. Alberto Vieira, missionário comboniano em Moçambique, conta-nos um episódio vivido por ele recentemente.


Esta manhã como cada dia fui caminhar logo cedo. Tenho encontrado muitas vezes uma criança que vem cedo para a escola. Sempre me diz ou bom dia ou boa tarde. Ás vezes diz boa tarde mesmo sendo de manhã. A confusão temporal vem da preocupação de falar em português e para o padre. Trazia os cadernos e uma garrafa de água e, sozinho, caminhava devagar até á escola. Num destes dias vinha mesmo com o ranho a cair pelo nariz, mas mesmo assim, com o sobe e desce do ranho no nariz, sempre me saúda: “Bom dia padre”. E sempre o faz com alegria pois cada vez que o realiza é uma conquista para ele. Hoje encheu-se de coragem e acrescentou: “Tenho um lápis novo”. E mostrou-mo. Não estava ainda afiado. Disse-lhe que era bonito e precisava de ser afiado. Se o desejasse, ao chegar junto da escola, podia ir a casa do padre que eu o afiava. Aceitou com alegria. Quando chegou á casa do padre encheu-se de novo de coragem e disse-me: “tens uma casa muito rica e bonita. Quando crescer também quero ser assim como tu: ter um cinto, sapatos e óculos com um relógio”. Dei-lhe os parabéns e disse-lhe que crescendo vai ter muitas outras coisas. Fui buscar a afia. Chamei-o e afiei-lhe o lápis. Depois dei-lhe a afia. Ele estava muito ocupado com os cadernos, o lápis e a garrafa da água nas mãos. Aí acrescentou: “tenho aqui o meu dinheiro”. “Afinal?, perguntei eu, e para quê?” “Para o meu lanche”, concluiu. Tirou a moeda e tinha um metical para comprar uma bajia. A bajia é um pouco de feijão moído e frito. Todas as outras crianças que estavam com ele ficaram admiradas pela amizade que tinha com padre e correram para junto dele. Não sei o nome da criança. Encontra-se na primeira classe o que significa que tem apenas 7 anos. É o futuro deste país que todos os dias, e em dois turnos, rodeia a Igreja e a casa paroquial frequentando a escola primária. Á noite são os jovens e os adultos que, nas mesmas salas, tentam fazer os anos escolares da secundária. Assim estamos sempre rodeados de gente, pelo menos ao longo do ano escolar. * In AUDÁCIA


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