SUDÃO DO SUL Novo relatório revela morte e estupro de centenas de civis no Sudão do Sul
SUDÃO DO SUL
Novo relatório revela morte e estupro de centenas de
civis no Sudão do Sul
Ocha/Jacob Zocherman
Casa queimada em Bor, no Sudão do Sul
10 julho 2018
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Mais
de 230 civis perderam a vida em ofensiva militar ocorrida em abril e maio; ONU
cita estupro de pelo menos 120 mulheres e meninas; Exército e grupos associados
teriam cometido atos em áreas controladas por rebeldes em Unidade.
Um novo relatório sobre o
Sudão do Sul revela que pelo menos 232 civis foram mortos e 120 mulheres e
meninas estupradas em “ataques de tropas do governo, forças associadas e jovens
armados” a aldeias controladas pela oposição.
A investigação da ONU,
publicada esta terça-feira em Genebra, destaca que muitos civis ficaram feridos
em atos ocorridos entre 16 de abril e 24 de maio nas áreas de Mayendit e Leer
no estado de Unidade.
Crimes de Guerra
O Escritório de Direitos
Humanos sublinha que “as graves violações e abusos dos direitos humanos e de
leis humanitárias internacionais podem ser considerados crimes de guerra”.
Os investigadores da ONU
documentaram “o que aparentam ser ataques deliberados, implacáveis e
brutalmente violentos contra civis, especialmente contra mulheres e crianças”.
O estudo identifica três
pessoas que são consideradas as “maiores responsáveis pelas violações”. Uma
delas teria sido “retirada das suas funções por sua suposta implicação” nessas
ações.
Os atos de violência
seguiram-se a confrontos entre o Exército de Libertação do Sudão, Spla, e
forças opositoras do Spla-IO. Os ataques culminaram com uma “operação militar
significativa do governo e seus associados” em abril e maio.
Forças da Oposição
Essa ofensiva militar “fez
parte de um ciclo de violência muito maior”, em que forças da oposição também
realizaram ataques armados que mataram civis
Alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Al Hussein. , by Foto: ONU/Jean-Marc Ferré |
As vítimas civis durante esse
período incluem idosos, pessoas com deficiências e crianças muito menores que
sofreram “atos horríveis de violência”. Alguns deles foram enforcados em
árvores e outros queimados vivos em suas casas.
Vítimas e testemunhas
falaram da invasão de aldeias pelas forças ligadas ao governo no início da
manhã ou por volta do amanhecer. Estas “cercavam as aldeias e disparavam contra
civis em fuga, para depois roubarem gado, pilhar e queimar casas e reservas
alimentares”.
De acordo com o relatório,
“a violência sexual foi usada como uma arma de guerra”. Pelo menos 120 mulheres
e meninas foram estupradas por gangues e entre elas estariam crianças de até
quatro anos de idade.
“Terra Arrasada”
Os relatos citam uma
mulher de 20 anos que ainda sangrava de ferimentos quando sofreu estupro e
várias pessoas mortas a tiro por terem resistido ao ato. Pelo menos 132
mulheres e meninas foram sequestradas.
A brutalidade e crueldade
dos agressores tal como revelado pelos sobreviventes, sugere intenção de usar a
estratégia de “terra arrasada", revela o estudo. O relatório descreve
pessoas mortas ou deslocadas à força, queima de suas plantações e casas,
punição e intimidação para garantir que estas nunca retornariam.
O relatório aponta ainda
para a fuga de muitos na sequência dos ataques a tiros e bombardeios, e alguns
“cadáveres encontrados em aldeias no norte de Mayendit com ferimentos de bala
nas costas”.
Os relatos também dão
conta de idosos, doentes e pessoas com deficiências que, porque não podiam
fugir, eram frequentemente “incendiados vivos durante a queima das suas
palhotas com isqueiros pelos agressores”.
Instalações da ONU
Mais de 5 mil pessoas
buscam abrigo em locais protegidos pela ONU nas áreas de Leer e Bentiu. Outras
8 mil estariam escondidas em arbustos e pântanos além de um total de 18 mil que
buscaram refúgio na cidade de Mayendit.
O estudo também documenta
que funcionários humanitários também foram alvo da violência. Três
trabalhadores locais morreram e suas instalações foram destruídas. Várias pessoas
em estado frágil ficaram sem comida, água, remédios e abrigo.
O Comissário para Direitos
Humanos, Zeid Al Hussein pediu ao governo que “acabe com todos os ataques
contra civis, lance investigações e responsabilize os autores desses atos,
incluindo os que assumem a responsabilidade de comando.”
Civis em Fuga
Zeid quer que também
paguem pelos seus atos os “homens que supostamente estupraram uma criança de
seis anos, que cortaram gargantas de aldeões idosos, enforcaram mulheres por
resistirem a saques e atiraram em civis para pântanos onde estavam escondidos”.
O alto comissário exige a
prestação de contas aos que “deram ordens e facilitaram esses crimes
horríveis”, e defende que o “Governo do Sudão do Sul e a comunidade
internacional têm a obrigação de garantir a justiça ”.
O apelo ao Governo de
Transição da Unidade Nacional do Sudão do Sul e à União Africana é que acelerem
a criação do tribunal híbrido sobre o país para garantir a responsabilização
pelas graves violações dos direitos humanos.
A Missão da ONU no Sudão
do Sul, Unmiss, e as agências humanitárias tomam medidas em várias frentes. O
relatório cita que estas incluem aumentar a presença de forças de manutenção de
paz na área, ajudar aos necessitados, continuar a monitorar e informar sobre
violações de direitos humanos e contatos políticos com o governo, os
comandantes de ambas as forças e a sociedade civil.
Apresentação: Eleutério
Guevane
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