EUROPEIAS 2019/patriarcado Patriarcado de Lisboa faz 'mea culpa' depois de apelar ao voto no Basta
Patriarcado de Lisboa faz 'mea culpa' depois de
apelar ao voto no Basta
16 DE MAIO DE
2019 - 08:46
A página de Facebook do Patriarcado de Lisboa teve, durante mais duas
horas, uma publicação a apelar ao voto nos movimentos Basta, Nós Cidadãos e no
CDS-PP. O post foi depois retirado e considerado "uma imprudência".
Foto: Lusa |
O Patriarcado de Lisboa apelou ao voto em três forças
políticas que são contra o aborto, a eutanásia e outras políticas consideradas
de "defesa da vida".
Num post publicado na página do Facebook, o
Patriarcado de Lisboa partilhou um
gráfico a comparar os vários partidos candidatos às
europeias pela postura assumida em relação a questões como, por exemplo, o
aborto, a eutanásia e a prostituição.
A publicação mostra que a coligação
Basta, o Nós Cidadãos e o CDS-PP são forças políticas pró-vida, fazendo um
apelo ao voto nestes três movimentos através de duas hashtags: #euvotoprovida (eu voto pró-vida)
e #avidaem1lugar [a vida em 1.º lugar).
O PS, o Bloco de Esquerda e o PAN
são, de acordo com a publicação, os três partidos que devem ser riscados da
opção de voto dos católicos, porque são contra todos os critérios definidos
como "pró-vida".
De
acordo com o Diário de Notícias , o gráfico partilhado pelo
Patriarcado de Lisboa foi feito pela Federação Portuguesa pela Vida, que
analisou as posições de todas as forças políticas quanto às questões de
"defesa da vida": "vida por nascer"; "rejeição
eutanásia"; "liberdade de educação"; "oposição ideologia de
género"; "proibição barrigas de aluguer"; e "combate à
prostituição".
Contactado pelo jornal, o gabinete
de comunicação do cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, admitiu que
a partilha a apelar ao voto foi uma "imprudência" e acabou por apagar
a publicação da página do Facebook, onde esteve durante cerca de duas horas.
"Admitimos que foi uma
imprudência. Para o Patriarcado, é essencial que toda a gente tenha a
possibilidade de discernir o seu voto", afirmou o Patriarcado de Lisboa,
em resposta do DN. "Para não criar qualquer dúvida, retiramos o post e remetemos a posição do
Patriarcado para a Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa."
Ouvido pela TSF, o jornalista
António Marujo, especialista em Assuntos Religiosos, afirmou que a situação em
causa foi, de facto, "uma imprudência lamentável".
António Marujo considera que o
episódio é, sobretudo, "revelador de algumas mentalidades católicas",
que "dão primazia a determinados fatores" da doutrina cristã,
"mas não a outros".
"Poderíamos muito bem
completar a lista [do gráfico partilhado pelo Patriarcado de Lisboa] com outros
tantos itens que seriam bastante mais importantes no momento que estamos a
viver", declarou o especialista, apontando como exemplo questões como
"a luta contra a pobreza", "a defesa de uma distribuição de
rendimentos mais justa" ou o "o acolhimento de refugiados".
"Aí, os partidos que aparecem como mais próximos da doutrina católica
perderiam, seguramente, essa qualidade", retorquiu.
António Marujo destaca o "discurso xenófobo e
praticamente de extrema-direita que a coligação Basta já mostrou",
indicando que a mesma está "nos antípodas daquilo que é a doutrina social
católica".
O especialista sublinha ainda a
questão da defesa ambiental, um problema "tão grave que levou o Papa a
escrever uma encíclica só dedicada a isso" e que foi excluído da lista
partilhada pelo Patriarcado de Lisboa. "Estamos a falar de uma coisa muito
simples: se daqui a 50 anos não houver planeta, já não teremos necessidade de
discutir o aborto nem a eutanásia", concluiu.
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