PORTUGAL Óbidos pandemia
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Covid-19: Pároco recorreu às
«velhas» cartas e às novas tecnologias
Jun 6, 2020 - 11:05 Ecclesia
Padre Ricardo Figueiredo reconhece que a pandemia trouxe caras novas aos
bancos da Igreja, mas, sem turistas, Óbidos enfrenta a fome e a incerteza
A Paróquia de Óbidos, no Patriarcado de Lisboa, prepara-se para viver o
segundo domingo com celebrações comunitárias da Missa, depois da “boa surpresa”
que foi a participação na solenidade de Pentecostes, na última semana.
O padre Ricardo Figueiredo, pároco de Óbidos, Gaeiras e A-dos-Negros,
explica à Agência ECCLESIA que, além das novas tecnologias, durante o confinamento
lançou mão das “velhinhas cartas”, dado que a antiguidade do lugar não é apenas
histórica: a população idosa é significativa e não é a mais familiarizada com
as novidades digitais.
O sacerdote decidiu enviar o que chamou de “amêndoas de Páscoa”, uma carta
escrita pelo pároco acompanhada por um pequeno devocionário com as orações do
dia a dia.
“As pessoas não estavam à espera de encontrar uma carta do pároco na caixa
do correio, foi uma grande surpresa”, reconhece.
Nos dias de confinamento percebi que tinha de
lançar mão a todos os meios que tinha ao meu alcance”.
O sacerdote do Patriarcado de Lisboa investiu no digital para alimentar a
proximidade possível, mas o distanciamento físico da assembleia, durante tantos
dias, não lhe permitia olhar o regresso com grande otimismo.
“Esperava poucas pessoas, em virtude do ambiente de medo que se cria por
esta situação de pandemia” diz o padre Ricardo Figueiredo.
“Afinal vieram pessoas que eu nunca tinha visto na Igreja, casais jovens
com os filhos”, relata.
O sacerdote atribui este facto a uma certa sede de espiritualidade e também
à estratégia de comunicação seguida pela paróquia.
A aposta digital para chegar aos paroquianos começou a surpreender logo nos
primeiros dias.
“Um rapaz que me auxiliava nas transmissões ficou surpreendido por começar
a ver nomes de amigos que iam aparecendo online e que estavam a acompanhar a
transmissão da Missa”, observa o entrevistado.
A internet levou diariamente a Eucaristia a casa das pessoas, à noite
participaram diariamente na exposição do Santíssimo e na recitação do Terço; no
início do tempo pascal, o pároco lançou também umas catequeses sobre os dons do
Espírito Santo.
“A minha surpresa foi que em dois ou três dias, chegámos às 300
inscrições”, conta.
A admiração foi ainda reforçada com os pedidos daqueles que não se
conformaram com o fim do ciclo, uma nova seara que requer trabalho de
evangelização, reconhece o padre Ricardo Figueiredo.
Desta experiência pastoral, o sacerdote destaca a catequese de adultos que, no futuro, irá continuar a ser reforçada nas plataformas digitais, que aumentam também a “transparência” da presença da Igreja.
“Todos nos podem acompanhar, participar e saber o que fazemos. Não estamos
fechados ou escondidos e isto é importante”, precisa.
O padre Ricardo Figueiredo é o quinto habitante mais novo, dentro das
muralhas de Óbidos e, se os resultados da pastoral o deixam entusiasmado, já a
situação social revela-se grave, numa localidade que vive do turismo.
“Caminho muito pelas ruas de Óbidos e impressiona-me que tantas vezes uma
conversa acaba com lágrimas naqueles que falam comigo”, refere.
O sacerdote lembra que “nos primeiros dias da pandemia foi agradável
experimentar Óbidos com as ruas desimpedidas e em sossego”, mas reconhece que
“as ruas vazias são sinal de grandes desafios que se colocam e uma estabilidade
social que deixou de existir”.
A paróquia, através do seu grupo de Ação Social “não tem mãos a medir” e em
pouco tempo dispararam os pedidos de auxílio.
“Os próximos meses vão ser duros e não vai ser fácil recuperar estes
números”, conclui o padre Ricardo Figueiredo, para quem esta “é uma situação
que será de fome, a população vai começar a sofrer”.
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