PÓS-PANDEMIA pacto entre gerações Tolentino
PÓS-PANDEMIA pacto entre gerações
D. Tolentino defende pacto entre gerações para uma nova sociedade
Por Luisa Gonçalves
10 Junho, 2020
O
biblista e arquivista da Santa Sé disse mesmo que “a vida é um valor
sem variações”, defendendo o relançamento da aliança intergeracional para
ajudar os idosos, as “principais vítimas da pandemia”, a serem “mediadores de
vida para as novas gerações”.
Na
perspectiva do cardeal, é preciso “reforçar o pacto comunitário”, o que implica
“relançar a aliança intergeracional” porque o pior que “podia acontecer seria
arrumar a sociedade em faixas etárias”.
“A
tempestade provocada pela covid-19 obriga-nos a refletir sobre a situação dos idosos em Portugal e
nesta Europa da qual somos parte. Eles têm sido as principais vítimas da
pandemia”, lamentou, considerando que os mais velhos, para lá do quadro
clínico, também socialmente foram transformados numa “população de risco” já
que estão “mais sós, mais pobres, remetidos muitas vezes para precários
contextos de institucionalização”.
Para
Tolentino Mendonça, é preciso “rejeitar firmemente a tese de que uma esperança
de vida mais breve determina uma diminuição do seu valor intrínseco” porque “a
vida é um valor sem variações”.
“Uma
raiz do futuro de Portugal passa por aprofundar a contribuição dos seus mais
velhos, ajudando-os a viver e a assumir-se como mediadores de vida para as
novas gerações”, defendeu.
O
poeta lembrou a sua avó materna, sendo analfabeta, foi a sua primeira
biblioteca. Assim, o presidente das comemorações do Dia de Portugal pede uma
visão “mais inclusiva do contributo das diversas gerações” porque “é um erro
pensar uma geração como dispensável ou um como um peso”, já que é impossível
“viver uns sem uns outros”, sendo “essa a lição das raízes”.
“Camões
desconfinou Portugal no século XVI e continua a ser para a nossa época um
mestre da arte do desconfinamento”, defendeu. Para Tolentino Mendonça,
“desconfinar não é simplesmente voltar a ocupar o espaço, mas é poder sim
habitá-lo plenamente”.
“Numa
estação de tetos baixos, Camões é uma inspiração para sonhar sonhos grandes e
isso é tanto mais decisivo numa época que não apenas nos confronta com
múltiplas mudanças, mas sobretudo nos coloca no interior de uma mudança de
época”, enfatizou.
Mas
o robustecimento da aliança intergeracional, na perspectiva de Tolentino
Mendonça, “é olhar seriamente para outra das nossas gerações mais vulneráveis”,
como os jovens adultos, com menos de 35 anos, que já viveram duas crises e,
apesar das elevadas qualificações, estão condenados ao trabalho precário ou a
atividades informais.
“Reforçar
o pacto comunitário implica um olhar novo sobre a ecologia”, pediu ainda,
considerando que é preciso “construir uma ecologia do mundo”, onde em vez de
“senhores despóticos” haja “cuidadores sensatos”.
Num
discurso carregado de citações de escritores desde Herberto Hélder a Luís de
Camões, e no qual fez questão de se dirigir “como mais um entre os
portugueses”, o cardeal deixou uma mensagem: “Portugal é e será por isso uma
viagem que fazemos juntos”.
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