PÓS-PANDEMIA pacto entre gerações Tolentino

PÓS-PANDEMIA pacto entre gerações

D. Tolentino defende pacto entre gerações para uma nova sociedade

Por Luisa Gonçalves

Foto: Lusa

O cardeal D. José Tolentino Mendonça, presidente das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, defendeu hoje no Mosteiro dos Jerónimos um pacto entre gerações, para a construção de uma nova sociedade.

O biblista e arquivista da Santa Sé disse mesmo que  “a vida é um valor sem variações”, defendendo o relançamento da aliança intergeracional para ajudar os idosos, as “principais vítimas da pandemia”, a serem “mediadores de vida para as novas gerações”.

Na perspectiva do cardeal, é preciso “reforçar o pacto comunitário”, o que implica “relançar a aliança intergeracional” porque o pior que “podia acontecer seria arrumar a sociedade em faixas etárias”.

“A tempestade provocada pela covid-19 obriga-nos a refletir sobre a situação dos idosos em Portugal e nesta Europa da qual somos parte. Eles têm sido as principais vítimas da pandemia”, lamentou, considerando que os mais velhos, para lá do quadro clínico, também socialmente foram transformados numa “população de risco” já que estão “mais sós, mais pobres, remetidos muitas vezes para precários contextos de institucionalização”.

Para Tolentino Mendonça, é preciso “rejeitar firmemente a tese de que uma esperança de vida mais breve determina uma diminuição do seu valor intrínseco” porque “a vida é um valor sem variações”.

“Uma raiz do futuro de Portugal passa por aprofundar a contribuição dos seus mais velhos, ajudando-os a viver e a assumir-se como mediadores de vida para as novas gerações”, defendeu.

O poeta lembrou a sua avó materna, sendo analfabeta, foi a sua primeira biblioteca. Assim, o presidente das comemorações do Dia de Portugal pede uma visão “mais inclusiva do contributo das diversas gerações” porque “é um erro pensar uma geração como dispensável ou um como um peso”, já que é impossível “viver uns sem uns outros”, sendo “essa a lição das raízes”.

“Camões desconfinou Portugal no século XVI e continua a ser para a nossa época um mestre da arte do desconfinamento”, defendeu. Para Tolentino Mendonça, “desconfinar não é simplesmente voltar a ocupar o espaço, mas é poder sim habitá-lo plenamente”.

“Numa estação de tetos baixos, Camões é uma inspiração para sonhar sonhos grandes e isso é tanto mais decisivo numa época que não apenas nos confronta com múltiplas mudanças, mas sobretudo nos coloca no interior de uma mudança de época”, enfatizou.

Mas o robustecimento da aliança intergeracional, na perspectiva de Tolentino Mendonça, “é olhar seriamente para outra das nossas gerações mais vulneráveis”, como os jovens adultos, com menos de 35 anos, que já viveram duas crises e, apesar das elevadas qualificações, estão condenados ao trabalho precário ou a atividades informais.

“Reforçar o pacto comunitário implica um olhar novo sobre a ecologia”, pediu ainda, considerando que é preciso “construir uma ecologia do mundo”, onde em vez de “senhores despóticos” haja “cuidadores sensatos”.

Num discurso carregado de citações de escritores desde Herberto Hélder a Luís de Camões, e no qual fez questão de se dirigir “como mais um entre os portugueses”, o cardeal deixou uma mensagem: “Portugal é e será por isso uma viagem que fazemos juntos”.


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