AMAZÓNIA «Ainda hoje se repetem as histórias do início da colonização das Américas» – Padre Bruno Franguelli
AMAZÓNIA
«Ainda hoje se repetem as
histórias do início da colonização das Américas» – Padre Bruno Franguelli
Ago 16, 2018 - 16:27 Ecclesia
Sacerdote jesuíta destaca
desafio de lutar pela dignificação dos povos indígenas nesta região
Foto: Padre Bruno Franguelli |
O padre jesuíta Bruno Franguelli, atualmente a trabalhar no Peru, diz que ser
missionário na Amazónia implica “aceitar viver uma vida simples, anónimo e
escondido”.
Em entrevista ao portal informativo
Ponto SJ, da Companhia de Jesus, o sacerdote brasileiro realça desafios como o
choque “cultural” e a luta pela dignificação dos povos indígenas, num
território permanentemente cobiçado pela riqueza dos seus recursos naturais.
“A situação na Amazónia é muito
complexa. Parece que ainda hoje se repetem as histórias do início da
colonização das Américas”, aponta o jovem padre, aludindo a situações como a
exploração dos povos indígenas, por parte das multinacionais estrangeiras.
Atualmente, são várias as
“empresas mineiras” que se valem da “ingenuidade” de comunidades e famílias
para conseguirem os seus intentos, ocupando indevidamente as terras das pessoas
e explorando os seus territórios para a extração de metais preciosos e outros
bens.
De acordo com o padre Bruno
Franguelli, “tribos inteiras são obrigadas a migrar em busca de sobrevivência”.
“É preciso preparar os povos da
Amazónia para resistirem e trabalharem para que os interesses de
multinacionais, muitas vezes favorecidos pelos nossos países, não se
sobreponham aos destes nossos irmãos, que durante séculos têm sofrido por
apenas defenderem quem são e o que lhes pertence”, frisa o sacerdote.
Vir para este contexto, como
missionário, implica antes de mais “uma boa preparação psicológica e uma
motivação consistente que se enraíze gradualmente na missão”.
O padre jesuíta salienta ainda
como “indispensável que o missionário deseje aprender a língua nativa
local para compreender desde dentro a cultura, o seu modo de pensar e os seus
costumes”.
Sobre o trabalho de
evangelização, este missionário destaca um ambiente marcado pela “disseminação
de seitas evangélicas” e ainda muito vincado pela “superstição”, que favorece
situações de “exploração” mas também de conflito.
“A forte superstição que existe
entre os indígenas traz consequências gravíssimas na qual se acusam uns aos
outros de bruxaria e famílias inteiras tornam-se vulneráveis diante das
discórdias e guerras internas”, explica o mesmo responsável.
O padre Bruno Franguelli está
no Peru desde 2013, e é atualmente vice-reitor do Santuário Nacional de
São José de Anchieta.
No âmbito do seu trabalho
apostólico, foi também designado para a missão do colégio de alunos internos
‘Fé e Alegria’ de Yamakayentsa, onde serviu como professor de religião, e
também como catequista, “mais de 200 adolescentes e jovens indígenas”.
Um trabalho feito em conjunto
com o padre espanhol Carlos Riudavets, recentemente assassinado.
Foto: Padre Bruno Franguelli com o sacerdote Carlos Riudavets, assassinado há dias no Peru |
“Todos os dias, na pequena
capela ao lado da nossa casa, celebrávamos a Eucaristia. Ali, num pequeno altar
ornado segundo a cultura indígena, o padre Carlos erguia o cálice onde se
derramava o sangue de Cristo. Mas nenhum de nós poderia imaginar, que depois de
alguns anos, o seu próprio sangue seria derramado naquele mesmo lugar”,
realça Bruno Franguelli.
O jovem sacerdote jesuíta recorda a memória de um
homem simples, reto, firme em suas decisões e muito concentrado na sua missão”.
“Era diretor do colégio, mas
era muito mais que isso. A ele recorriam os alunos quando estavam doentes ou
precisavam de algum conselho. Não media esforços para se levantar até de
madrugada para preparar algum remédio para um aluno doente. Além disso, era um
homem pacífico, respeitado e querido por todos”, lembra o padre Bruno
Franguelli.
O padre Carlos Montes
Riudavets, de 73 anos, era missionário jesuíta no Peru desde 1969 e
encontrava-se a viver na Amazónia há quase 40 anos.
De acordo com a Companhia de Jesus,
o sacerdote foi encontrado morto no dia 10 de agosto, em “circunstâncias
violentas”, um caso que está agora a ser
investigado pelas autoridades. JCP|Ecclesia
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