VIOLÊNCIA A psicologia do conflito e da violência
VIOLÊNCIA
A psicologia do conflito e da violência
sábado, 11 de agosto de 2018 in paroquiadechapadinha.blogspot.com
Os
seres humanos são mais violentos que os animais, num tipo de conflito que é
interno e recíproco, e potencialmente interminável, ao qual nenhum sistema
judiciário consegue pôr fim.
E por outro lado tem o seu aspecto
positivo, na medida em que tem proibido a humanidade de praticar muitos abusos,
Digamos de estabelecer muitos limites.
Na verdade, hoje falamos
muitos em “limites, mas de uma maneira racional e libertária, fundados em
razões comprovadas e científicas: os limites dos relacionamentos e práticas
sexuais, os limites do açúcar, os limites de usar drogas etc.
E em épocas passadas eram
baseados em forças desconhecidas e irracionais, congelando-se numa única razão:
o medo. Tenha medo de fazer isto e aquilo “ senão morre”, “senão acontece
alguma desgraça”.
Na verdade, as antigas
religiões e também o judaísmo e o cristianismo sabiam que se desprezassem todas
as proibições dos limites estariam colocando em risco não apenas a
nós mesmos mas a inteira existência do mundo, porque não somos os senhores da
natureza.
E sabemos como esses tabus
arcaicos tinham um valor e um significado. Os seres humanos e as nações não
podem viver sem uma ética. É bonito imaginar que tudo seja possível, mas na
realidade cada um de nós sabe que existem limites.
Se os seres humanos e as
nações continuam fugindo dessas responsabilidades os riscos se tornam enormes.
“Tudo me é permitido, mas me tudo me convém” (1 Cr.5,12). A redenção não
consiste só em saber que Deus existe, mas em saber que Deus nos ama
e que não devemos ter medo do escuro.
É por isso que por milhões de
anos as religiões foram aquilo que permitiu às comunidades humanas primitivas
não se autodestruirem.
Muitas vezes os seres humanos
são mais violentos que os animais. Não só quanto à agressividade mas como
consequência de impulsos, vinganças e vontade de retribuir “olho por olho e
dente por dente”.
E por isso “tendem a um tipo
de conflito que é interno, recíproco e interminável que acaba em círculos
viciosos de violência aos quais nenhum sistema judicial consegue pôr freio”
(Girard, Cristianismo e Relativismo,24).
E há ocasiões em que se geram
ondas de violência coletivas que se polarizam sobre uma vítima escolhida por
razões arbitrárias e fora da razão, criando-se a convicção que eliminando ou
destruindo essa vítima volta-se a restabelecer a ordem social.
Daí que os historiadores das
populações e religiões primitivas têm concluído que essa violência coletiva tem
produzido vítimas inocentes, os chamados bodes expiatórios que são
mortos em sacrifícios rituais.
E por que se chamam
sacrifícios? Porque “sacrifício” é fazer uma ação “sagrada”, em que os antigos
julgavam que matar essa vítima inocente em nome do povo faziam uma
coisa sagrada “sacrum facere”.
Aí criou-se o mito que
funcionava assim: A comunidade enraivecida descarregava sua raiva sobre uma vítima
que julgava culpada e por meio da sua expulsão ou da sua morte restabelecia a
ordem social.
Essa história já teve o seu
inicio no famoso mito de Édipo, que para casar com a sua mãe Jocasta
matou o pai, Laio. E a comunidade da época não teve como não matar
Édipo.
A Bíblia está cheia de casos
de bodes expiatórios narrados em Lev. 16,15-22. Há porém uma
diferença: Nos outros povos as vítimas ou bodes expiatórios eram
culpados, mas na Bíblia eram inocentes.
E por quê, sendo a vítima
inocente, provocava tanta e a mesma violência na sociedade? É pelo efeito
chamadocontágio mimético, que acontece quando uma multidão é contagiada por uma
convicção unânime de ter encontrado um culpado por todas as suas crises ou
pecados para descarregar todas as culpas sobre ele.
Isso vem descrito na páginas
de Isaias cap 52 e 53, e é o caso também da condenação de Jesus nas páginas da
Paixão. Aí não há comportamentos individuais, mas apenas a lógica ou
o contágio unânime da multidão. Por isso o dito de Jesus “eles não sabem o que
fazem!”
Em todas as épocas o ser
humano tem procurado bodes expiatórios para resolver as suas crises e
os tem sacrificado, ou colocado fora de circulação para não criarem
incômodo a uma parte da sociedade. Quem sabe, será que hoje não
estará acontecendo algum bode expiatório para pagar por muitas confusões que as
camadas políticas têm aprontado?
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