FÁTIMA Voluntário: Advogado troca emprego por voluntariado na Etiópia
FÁTIMA
Curso
de Missiologia
Advogado
troca emprego por voluntariado na Etiópia
Texto
Juliana Batista | Foto Ana Paula | 28/08/2018 | 15:09
Pedro Nascimento, participante no Curso de Missiologia |
O
português deverá permanecer no país africano por um período «mínimo de dois
anos». A partida está prevista para «outubro ou novembro». Ate lá, o voluntário
dedica-se a leituras sobre a história e cultura do país que o vai receber
A
vontade viver em comunhão e em partilha com os outros levou Pedro Nascimento,
de 29 anos, a deixar o seu emprego para partir em missão, por um período
«mínimo de dois anos». «Deixei de exercer [advocacia] a 31 de maio, altura em
que me despedi do escritório onde trabalhava para começar a preparação imediata
para partida para a Etiópia», contou o jovem natural de Portalegre.
A
residir em Lisboa, o advogado deverá partir para a Etiópia em «outubro ou
novembro». Até lá, prepara-se para a missão, o que passa, atualmente, por uma
«experiência comunitária», e pelo «aprofundamento da língua e estudo sobre o
país e cultura» com que irá lidar nos próximos anos. «Estudo sobre as missões
combonianas e o que têm feito, através de testemunhos e livros. Procuro saber a
história da Etiópia, a sua cultura e a própria história da Igreja» no país,
contou Pedro, adiantando que quando chegar ao local de missão, cerca de «quatro
ou cinco meses» serão dedicados à aprendizagem da língua amarica, «a principal
língua da Etiópia».
Trocar
o emprego pela missão foi uma decisão que obrigou o jovem a um «discernimento
grande», com «algumas dificuldades e dúvidas, ao longo destes anos». A dúvida
em relação à capacidade de arranjar novamente um emprego, após o período de
missão, ocupava os pensamentos de Pedro, mas uma vez ultrapassada a «luta
interior», familiares e amigos demonstraram apoio, aceitação e alegria pela
decisão do missionário.
O
contacto com o povo africano não será uma novidade para Pedro, que já fez duas
experiências missionárias, ambas em Carapira, no norte de Moçambique, em 2015 e
em 2017, por um período de cerca de 30 dias cada, através dos Missionários
Combonianos. Lá Pedro viveu momentos de grande felicidade e emoção. Em
declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, o jovem deu conta de um episódio que o marcou
de forma especial.
«A
mulher do cozinheiro da paróquia estava já internada no hospital há um mês, e
precisava de um dador de sangue. Eu nunca tive muita coragem para dar sangue,
mas não sei porquê, naquele dia enchi-me de coragem e disse: `Vamos fazer o
teste para eu saber o grupo meu sanguíneo – nem sabia – e se for, então, vamos
dar este sangue´. Fui fazer o teste e eu era compatível. Aquilo que a família
não tinha conseguido... Depois de ter tomado o meu sangue, a senhora voltou
para casa no dia a seguir», recorda o missionário.
Como
forma de agradecimento, o marido da mulher recuperada «pediu na paróquia para
fazer bolos» para os jovens portugueses em missão no local naquela altura. «No
dia em que eu me fui embora, agarrou-se a mim a chorar e disse que eu lhe
salvei a vida da mulher. Lembro-me que naquele dia, não só ele chorou. Chorei
eu, chorou todo o meu grupo, porque a intensidade e a veracidade daquela frase
tocou-nos bastante. E tocou-me de tal forma que eu cheguei a Portugal e disse
–`Se lá fiz, cá também vou ter que fazer´ – e comecei a dar sangue cá também em
Portugal. Às vezes pensamos que estas missões de um mês são muito pequenas, ou
que são turismo religioso, mas estes momentos que nos marcam, e que marcam a vida
destas pessoas, dizem-nos o contrário», demonstrou o jovem.
A
missão passou pelo contacto com situações em que foi claro que as pessoas
carecem de «condições que não existem», que há «dificuldades nos hospitais»,
«desvio de medicamentos» e um sofrimento que causa mal-estar em quem observa.
Mas a missão contemplou também muito outros episódios, onde entraram visitas a
doentes, idosos, hospitais, e momentos de muita «alegria e confraternização».
Todas
estas vivências tornaram Carapira «num sítio» muito «feliz» para o português.
«Ainda sinto vontade de voltar lá novamente. Uma terceira vez», realçou o
jovem, destacando que «o mais bonito de Moçambique são mesmo as pessoas».
Enquanto não torna a ser Moçambique o local de destino, é a Etiópia o país para
o qual o missionário parte de «coração aberto», rumo a um «diálogo
intercultural e intergeracional» e «aberto para ver novas vivências».
O
jovem advogado é um dos 60 participantes do Curso de Missiologia, que se
encontra a decorrer nas instalações dos Missionários da Consolata, em Fátima. A
formação tem em vista a «qualificação do missionário e, consequentemente, da
missão», e visa «preparar» os participantes para os «desafios da inculturação e
do diálogo do cristianismo com outras religiões», explicam os organizadores da
iniciativa, que decorre de 27 de agosto a 1 de setembro. FÁTIMA MISSIONÁRIA 29.08.18
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