PERSEGUIÇÃO Península Arábica: A vida difícil e ignorada dos Cristãos na Península Arábica


PERSEGUIÇÃO
Península Arábica: A vida difícil e ignorada dos Cristãos na Península Arábica
Catedral da Sagrada Família de Kuwait, 2013 | Foto: AIS
 Por Paulo Aido

Apanhados na armadilha 
Nos sete países que constituem a chamada Península Arábica há cada vez há mais cristãos. São quase todos estrangeiros, normalmente operários da construção civil, pessoas que emigraram em busca de melhores condições de vida. Mas a realidade é, muitas vezes, bem dura… 
Os prédios enormes, de arquitectura exuberante, os centros comerciais cintilantes de riquezas, os automóveis de luxo têm feito sonhar milhares de pessoas em todo o mundo que olham para os países da Península Arábica e aspiram a uma vida melhor.
Muitos, pressionados pelo desemprego, pelos salários baixos nos seus países, aceitaram juntar-se à multidão de operários que continuam a fazer crescer, no deserto, cidades habitadas por multi-milionários graças ao ouro negro que parece correr infindavelmente no subsolo. Depressa, porém, todos descobrem que a vida não é fácil, que as promessas de dinheiro fácil são apenas uma ilusão e muitos acabam encurralados numa enorme armadilha. Tomasito Veneracion é filipino e padre. Está no Dubai, um dos países da Península Arábica que mais tem crescido nos últimos anos. Muitos dos operários da construção civil que têm erguido alguns dos maiores arranha-céus do mundo são seus conterrâneos. Saíram da pobreza mas continuam pobres. “Tenho a impressão de que cerca de 70 a 80 por cento das pessoas que vêm para cá nunca chegam a melhorar muito as suas condições de vida”, diz o padre Tomasito. “Acabam frustradas e algumas são mesmo rejeitadas e regressam sem nada.” Constroem cidades para os ricos mas vivem como que enjaulados em casas sem condições. “Nestes espaços pode haver oito beliches. Dezasseis pessoas partilham uma pequena cozinha e apenas uma casa de banho. Noutra casa, disseram-me, havia 52 pessoas a morar…”

Drama quotidiano
E o dinheiro é mesmo uma ilusão. Muitos têm de pagar taxas de recrutamento e, em alguns casos, os vistos necessários para poderem residir nestes países podem custar até um ano de salários. Na região, não há sindicatos e as greves estão proibidas. Os trabalhadores insubordinados são deportados sem demora. Há turnos de 12 horas em semanas às vezes sem qualquer dia de descanso. As cidades dos ricos parecem ‘glamourosas’ no cinema mas escondem o drama do dia-a-dia dos estrangeiros, dos que ali vivem apenas do seu trabalho. Sendo enclaves pensados para os muito ricos, em algumas destas cidades a alimentação é tão dispendiosa que muitos chegam a gastar até um terço do seu salário só para a comida. Estrangeiros, operários e, muitas vezes, cristãos. O trabalho da Igreja junto destas novas comunidades é essencial mas difícil. Não se sabe bem quantos cristãos viverão hoje em dia na Península Arábica. O Bispo Camillo Ballin, da Prefeitura Apostólica da Arábia do Norte fala em números expressivos. “De acordo com alguns critérios, podemos dizer que há 140 mil católicos no Barém, cerca de 350 mil no Catar, entre 350 e 400 mil no Kuwait e 1,5 milhões na Arábia Saudita.” Apoiar estes novos cristãos que chegam com as malas cheias de sonhos é uma das missões mais importantes da Igreja. Esta região do globo tem regras bem apertadas no que diz respeito à liberdade religiosa. Todos os países da Península Arábica proíbem a conversão do islão para outra religião, assim como casamentos inter-religiosos. A construção de Igrejas está limitada e os edifícios não podem ostentar símbolos religiosos. Nenhum destes países – Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, Bahrein, Kuwait, Qatar e Iémen – permite a existência de seminários católicos nem a posse de Bíblias ou Terços em lugares públicos. Para muitos trabalhadores estrangeiros, a vida na Península Arábica transformou-se numa armadilha. Mas graças à sua presença, hoje a Igreja é uma realidade incontornável que continua a crescer no mais improvável dos solos.  AIS


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