R CENTRO-AFRICANA Vigário geral de Bangui lamenta «instrumentalização» da religião numa guerra de interesses económicos
R CENTRO-AFRICANA
Vigário geral de Bangui lamenta
«instrumentalização» da religião numa guerra de interesses económicos
Nov 20, 2018 - 13:43
Responsável aponta o dedo
às potências estrangeiras que cobiçam riquezas como o petróleo e os diamantes
O vigário geral da Arquidiocese de Bangui, na República
Centro-Africana, diz que a situação do país é “desastrosa”, envolto num
conflito onde as diferenças religiosas são “instrumentalizadas” para atingir
fins políticos e económicos.
“É com tristeza que
percebemos que há pessoas que não querem nunca chegar à paz”, lamenta o padre
Mathieu Bondobo, que aponta o dedo sobretudo às “potências” internacionais que
alimentam o conflito com o objetivo de chegar às “riquezas” existentes no país,
como as reservas de diamantes, ouro e petróleo.
Essas potências vivem
dessas coisas e por isso tentam tirar proveito da situação para terem vantagens
com isso. Há algumas pessoas que vivem bem porque há guerra; infelizmente é
assim”, realça o sacerdote.
Bem presente na mente
deste responsável católico continua a tragédia de 15 de novembro, dia em que um
grupo armado muçulmano atacou um campo de refugiados em Alindao, a cerca de 300
quilómetros de Bangui, e provocou mais de 40 mortos, entre os quais dois
sacerdotes.
De acordo com uma nota publicada pela Fundação
Ajuda a Igreja que Sofre, este “massacre” levado a cabo por forças rebeldes ex.
seleka terá ocorrido “em retaliação pelo assassinato, alguns dias antes, de um
homem muçulmano às mãos de membros da milícia cristã anti-balaka.
“O que aconteceu em
Alindao é desumano! Basta olhar para as imagens, basta ver como as pessoas
foram mortas, basta ver um ser humano queimado por nada! É algo que a
humanidade não pode aceitar”, frisa o padre Mathieu Bondobo para quem em
primeiro lugar é preciso deixar o povo da República Centro-Africana seguir o
seu caminho.
“As potências que
estão interessadas nas riquezas do nosso país, devem entender que somos um povo
soberano. Somos um povo independente e devemos beneficiar das nossas riquezas.
É a nossa terra!”, salienta o sacerdote, que vai ainda mais longe.
“Não podemos dizer
que nos encontramos no meio a uma guerra de religiões. Há uma grande
instrumentalização na base. Quem sabe existam aqueles que queiram levar para uma
guerra de religiões, para assim justificar seus planos”, completou.
Durante o ataque ao
campo de refugiados de Alindao, a catedral local foi incendiada e várias das
vítimas foram queimadas vivas pelos rebeldes muçulmanos.
Esta tragédia levou o
Papa Francisco, durante o ângelus deste domingo, a pedir novamente a paz para a
República Central-Africana, nação que visitou em 2015.
“A sua primeira
palavra impressionou-me muito; ele começou por dizer ‘Com dor’. Isso é muito
importante para nós, porque ele sofre connosco. Significa que a viagem do Papa
não foi esquecida; deu frutos”, destaca o padre Mathieu Bondobo, que acredita
que “a paz virá” para o seu país.
“Tenho certeza disso.
Virá. Porque nós temos fé em Deus e Deus é a nossa paz”, completou.
JCP|Ecclesia
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