IGREJA A igreja é missionária por ARMANDO SOARES
IGREJA
A igreja é
missionária por ARMANDO
SOARES
O Concílio Vaticano II afirma
que “a Igreja peregrina é missionária por natureza” (Ad Gentes 2). A palavra
“natureza” quer dizer “essência”.
Essa essência, continua o
Decreto Ad Gentes, “tem origem na
missão do Filho e na missão do Espírito, segundo o desígnio do Pai”, que por
sua vez “brota do amor fontal, ou
seja da caridade, do próprio Pai” (AG 2). Por
outras palavras, a missão vem de Deus porque Deus é Amor, um amor que não se
contém, que transborda, que se comunica, que sai de si. Missão é essência de
Deus, diz respeito ao que Deus “é” e não, primeiramente, ao que Deus “faz”. Por
isso, para a Igreja a missão torna-se impulso gratuito,
de dentro para fora, que tem como origem e fim a participação à vida divina (DAp 348).
Como diria Moltmann, não é a
Igreja que ‘tem’ uma missão, mas ao contrário, a missão que tem uma Igreja:
Deus realiza sua missão através da acção de seu Espírito, chamando a Igreja a
participar. Eis a mudança de paradigma: a Igreja deixa de ser “missionante”
(aquela que envia) para tornar-se “missionária” (enviada), não mais como
“dona”, mas como humilde “serva” da missão. Desta maneira, participando da
missão de Deus, ao ser enviada aos povos, ela participa da vida de Deus, que é
vida plena, vida eterna.
Esses fundamentos têm
desdobramentos imediatos para a Vida Religiosa Consagrada, pois “a contribuição
específica de consagrados e consagradas para a evangelização consiste,
primeiramente, no testemunho de uma vida totalmente doada a Deus e aos irmãos”
(VC 76). Num mundo marcado pelo
secularismo, pelo individualismo e pelo relativismo, a missão da Vida Religiosa
Consagrada tem como finalidade manifestar a missão de Deus. Se antigamente a
actividade missionária era voltada mais a “salvar almas”, hoje poderíamos dizer
que está voltada a “salvar Deus” (ou seja, sua presença e sua
missão perante um mundo em que foi anunciada a “morte de Deus”) e
anunciar assim a possibilidade de um mundo mais humano:
“A experiência de Deus numa
vida consagrada verdadeira, positiva, alegre, a escuta da Palavra e a vida
comum, tornam os religiosos atentos às pessoas, a seus desejos, solidários na
procura do verdadeiro, do bom e do belo, capazes de perceber a presença de Deus
na vida dos outros e nas culturas e despertar neles a responsabilidade pela
transformação das estruturas do pecado que estão no mundo e pelo cuidado com a
criação. A experiência de Deus é fonte e reserva de esperança num mundo que
abandona as pessoas na solidão e no desespero”. (Ferrari, Gabriele. La
missione: orizzonti e sfide. Testimoni, Bologna, 17/2011, p. 22-29, 15 out.
2011)
Compreender a missão não como
actividade ou necessidade histórica, mas como essência gratuita de Deus Amor, é
o primeiro passo para uma profunda renovação da VRC. É fundamental deslocar a
missão da afirmação da pessoa ou da instituição, para a transparência do
testemunho sem pretensões, seguindo a prática de Jesus na proximidade aos outros
e aos pobres, para comunicar vida em termos de humanidade, compaixão e fraternidade.
Amar humildemente o ser humano em todas suas manifestações e limitações: isto é
divino, gratuito e recompensa a si próprio. in VM, março 2017
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