MISERICÓRDIA Misericórdia e Miséria
MISERICÓRDIA
Misericórdia e Miséria *
foto ECCLESIA * Papa Francisco assina a carta apostólica “Misericordia et misera”, 21 de Novembro de 2016 |
No termo do Jubileu
Extraordinário da Misericórdia, o Papa
Francisco publicou a carta apostólica «Misericordia et misera».
Santo Agostinho utiliza duas palavras
expressivas para descrever o encontro de Jesus com a mulher adúltera (Jo 8,
1-11). Elas fazem compreender bem que quando Jesus vem ao encontro do pecador
ficam apenas: «a miséria e a misericórdia». Esta
narração ilumina a conclusão e indica o caminho que somos chamados a percorrer
no futuro no pós-jubileu. A misericórdia deve ser celebrada e vivida nas nossas
comunidades, porque ela torna visível e palpável a verdade profunda do
Evangelho. Tudo se revela no amor misericordioso do Pai. No centro deste
encontro não temos a lei e a justiça – a lapidação – mas o amor de Deus, que
sabe ler no coração de cada pessoa. A miséria do pecado foi revestida pela
misericórdia do amor. A quem pretendia condenar à morte a pecadora, Jesus
responde com um longo silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz de Deus,
tanto na consciência da mulher como na dos seus acusadores. Estes deixam cair
as pedras das mãos e vão-se embora um a um (cf. Jo 8, 9). E, depois daquele
silêncio, Jesus diz: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? (...)
Também Eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar» (8, 10.11). Desta forma,
ajuda-a a olhar para o futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida.
Depois que se revestiu da misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza
por causa do pecado, tal condição é dominada pelo amor que permite olhar mais
além e viver de maneira diferente.
Um fariseu convidou Jesus para
almoçar; aproximou-se d’Ele uma mulher conhecida por todos como pecadora
( Lc 7, 36-50). Esta unge com
perfume os pés de Jesus, banha-os com as suas lágrimas e enxuga-os com os seus
cabelos (7, 37-38). O fariseu fica escandalizado. E Jesus diz: «São perdoados
os seus muitos pecados, porque muito amou (7, 47).»
O perdão é o sinal mais visível
do amor do Pai, que Jesus quis revelar em toda a sua vida. Jesus tem palavras
de perdão: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).
Nada que um pecador
arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do
seu perdão. A misericórdia permanece sempre como um acto de gratuidade do Pai,
um amor incondicional e não merecido.
Deus é misericordioso (Ex 34, 6), a sua misericórdia
é eterna (Sal 136/135), de geração em
geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a, dando-lhe a sua
própria vida.
Quanta alegria brotou no
coração destas duas mulheres: a adúltera e a pecadora!
A misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre
à esperança duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível.
Como são significativas,
também para nós, estas palavras que guiavam os primeiros cristãos: «Reveste-te
de alegria, que é sempre agradável a Deus e por Ele bem acolhida. (...) Viverão
em Deus todas as pessoas que afastam a tristeza e se revestem de toda a
alegria». Experimentar a misericórdia dá alegria; não no-la deixemos roubar
pelas várias aflições e preocupações.
Numa cultura frequentemente
dominada pela tecnologia, parecem multiplicar-se as formas de tristeza e
solidão em que caem as pessoas, incluindo muitos jovens. É assim que muitas
vezes surgem sentimentos de melancolia, tristeza e tédio, que podem, pouco a
pouco, levar ao desespero. Há necessidade de testemunhas de esperança e de
alegria verdadeira, para expulsar as quimeras que prometem uma felicidade fácil
com paraísos artificiais. O vazio profundo de tanta gente pode ser preenchido
pela esperança que trazemos no coração e pela alegria que brota dela. Há tanta
necessidade de reconhecer a alegria que se revela no coração tocado pela
misericórdia! Por isso guardemos como um tesouro as palavras do Apóstolo:
«Alegrai-vos sempre no Senhor!» (Flp 4, 4; 1 Ts 5,16). in Boa Nova fev 2017
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