Ambiente: “Green Deal” e desenvolvimento humano integral


Ambiente: “Green Deal” e desenvolvimento humano integral
Por P. Armando Soares                                                                            
D.R.
Atenção aos «mais vulneráveis»

A Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE) pediu à nova liderança comunitária uma transição “justa e inclusiva” para a ecologia “integral”, que proteja as pessoas e o ambiente, com uma “atenção especial aos mais vulneráveis, levando em consideração os recursos limitados do planeta”.
Os participantes debateram o chamado ‘Green Deal’ (Acordo Verde) que a nova comissária europeia, Ursula von der Leyen, assumiu como prioridade, desejando que as propostas que apresentam visem “políticas ecológicas que promovam o desenvolvimento humano integral”.
“Sob o impulso da ‘Laudato Si’ do Papa Francisco, os bispos debateram como as políticas ecológicas da UE se devem centrar nas pessoas, famílias e comunidades, abordando os desafios mais cruciais em relação ao meio ambiente, aos mais vulneráveis, à demografia e ao desenvolvimento”, refere o comunicado final do encontro, que decorreu entre 23 e 25 de outubro.
 D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, destacou a necessidade de centrar atenções na “emergência climática”, apelando a todos os países da UE a subscreverem o “Acordo Verde”.
Destacou ainda a “sintonia” da COMECE com o Papa Francisco na busca de “formas alternativas de uma presença da Igreja” nos setores das migrações e da ecologia.
Participaram quatro organizações católicas: o Movimento Católico Global pelo Clima, a Cáritas Europa, a Federação das Famílias Católicas (FAFCE) e a CIDSE – Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade.

Proteção da atmosfera
O Papa Francisco anunciou no dia 7 de novembro, a adesão da Santa Sé a um acordo internacional para a proteção atmosférica, através da diminuição da emissão de hidrofluorcarbonetos.
“Tenho o prazer de anunciar a intenção da Santa Sé de aderir à Emenda de Kigali. Com este gesto, a Santa Sé deseja continuar a oferecer o seu apoio moral a todos os Estados comprometidos com o cuidado da nossa Casa Comum”, refere, numa mensagem aos participantes da 31ª Reunião das Partes do ‘Protocolo de Montreal’ sobre as substâncias que destroem a camada de ozono (MOP 31).
A ‘Emenda de Kigali’ é um compromisso internacional de reduzir o uso de gases com alto potencial de causar aquecimento, na indústria de refrigeração. O Papa destaca a importância de um “modelo de cooperação internacional” na proteção ambiental e na “promoção do desenvolvimento humano integral”, unindo “a comunidade científica, o mundo político, os atores económicos e industriais, além da sociedade civil”.
“Um diálogo honesto, num espírito de solidariedade e de criatividade, é essencial para a construção do presente e do futuro do nosso planeta”, pode ler-se.
O Papa propõe para a proteção do meio ambiente, uma educação para a “responsabilidade política, científica e económica”.

Fazemos parte da criação
A rede ‘Cuidar da Casa Comum’ (CCC) promoveu em 23 de setembro 2019 o encontro “Também Somos Terra” para partilhar boas práticas, divulgar a encíclica “Laudato sí” e afirmar a existência de “uma espiritualidade” que determina preocupações ecológicas.
Para Rita Veiga, da rede CCC é necessário pensar “em termos de uma ecologia integral”, que “é muito mais abrangente” do que a preocupação pela biodiversidade” e inclui as “vítimas” do desrespeito pela natureza.
Para a pastora Eva Michel, da Igreja Metodista, as preocupações com a salvaguarda do planeta são de todas as confissões cristãs e comunidades religiosas.“Durante muito tempo pensou-se que o homem tinha o direito de explorar a terra como entendia, mas agora já todos percebemos que a terra nos foi entregue para cuidarmos dela”, afirmou.
É necessário recentrar a pessoa humana no planeta, onde precisa do “sol, mar, água, animais e plantas” para viver. “Nós, como seres humanos, fazemos parte da criação”, sustentou.

Combate à desertificação
A ONU pede investimentos na restauração de solos para salvar planeta e estimular economia. Mudança climática e uso pouco sustentável dos solos provoca desertificação. Os solos fornecem 99,7% dos alimentos que ingerimos. Os índios da Amazónia falam com todo o respeito na “mãe-terra”. 
O precioso recurso da água está em sério risco. Em média, 70 países são afetados por secas todos os anos. Thiaw, chefe da entidade da ONU contra a desertificação, afirmou: “investir na restauração dos solos é melhorar os meios de subsistência, reduzindo as vulnerabilidades que contribuem para as mudanças climáticas e os riscos para a economia”. A desertificação aumentou de 10 para 17%.
O fenómeno da desertificação provoca: mais migrações forçadas, pressões crescentes sob os solos férteis e ao mesmo tempo, mais insegurança alimentar e mais encargos financeiros como parte do combate às mudanças climáticas. Estas podem forçar 700 milhões de pessoas a migrar até 2050.

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