Sínodo Amazónia: uma caminhada “sinodal” Deus, Igreja e “criaturas” por P. Armando Soares
Sínodo Amazónia: uma caminhada “sinodal”
Deus, Igreja e “criaturas” por P. Armando Soares I in BN dez 2019
Sínodo dos Bispos para a Amazónia
O Sínodo Especial dos Bispos
para a região pan-amazónica, decorreu de 6 a 27 de outubro 2019. Foi convocado
pelo Papa Francisco a 15 de outubro de 2017, com o tema ‘Amazónia: novos
caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral’.
Foi a voz da Igreja na
Amazónia, das pessoas, da história, da própria Terra”, disse o presidente da
REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazónica, cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito
de São Paulo. O cardeal brasileiro sublinhou que nos dois anos de preparação
foram ouvidas 80 mil pessoas, em diversos inquéritos. A escuta do povo da Amazónia
permitiu faze um trabalho de maior qualidade sobre a Igreja e o ambiente.
O Sínodo é filho da “Laudato si”
O Papa Francisco disse numa
entrevista ao jornal La Stampa, em agosto passado: “O Sínodo
sobre a Amazónia será uma resposta à emergência ambiental planetária, mas
nasce da Igreja e terá uma dimensão evangelizadora”. É filho da ‘Laudato
Si’, uma encíclica social baseada no cuidado da Criação.
O Papa classificou como
“urgente” a escolha de fazer um Sínodo para a Amazónia, porque é “um lugar
decisivo para a sobrevivência do planeta. A devastação da natureza pode levar à
morte da humanidade”.
A região pan-amazónica cobre
uma extensão de 7, 8 milhões de km2, incluindo áreas do Brasil, Bolívia, Perú,
Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; dos seus
cerca de 33 milhões de habitantes, 3 milhões são indígenas pertencentes a 390
grupos.
A assembleia especial conta
com 185 padres sinodais. Inclui convidados, cientistas e especialistas sobre os
temas.
Destruição da Casa Comum
Os padres sinodais
detiveram-se também na emergência ambiental e nas mudanças climáticas.
A vida na Amazónia está
ameaçada pela destruição e exploração. As ameaças à vida provêm de interesses
de grupos económicos, e políticos da sociedade atual. Assistimos a assassinatos
de lideranças, a caça e a pesca predatórias, concessões a madeireiras, hidroelétricas, hidrovias e
ferrovias, narcotráfico, violência contra a mulher, a exploração sexual
infantil, o assassinato de jovens, a violência contra os trabalhadores rurais entre outros problemas sociais.
Com o Papa Francisco e outros
podemos dizer: “Dói-nos na alma ver, muitas vezes, essa floresta em chamas,
isso é triste, é lamentável. Todos nós temos a responsabilidade de cuidar do
planeta, da casa comum, e concretamente da Amazónia, da sua floresta. Todo o
mundo precisa da Amazónia e a Amazónia também precisa de todo o mundo”.
Violação dos direitos humanos
O tema da defesa da vida, de
todos os seres e em especial dos “seres humanos” foi um dos pontos importantes
no Sínodo.
Para o indígena da Amazónia, a
água, fonte de vida, possui um significado importante para todos os seres
vivos. Da harmonia relacional entre a água, a natureza, Deus Criador, a
família, as pessoas e todos os bens da criação, depende a harmonia ambiental.
O Vaticano denuncia: “A vida
na Amazónia está ameaçada pela violação sistemática dos direitos humanos
elementares dos povos indígenas, como
o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios”.
As comunidades locais apontam
o dedo a “interesses económicos e políticos dos setores dominantes”, em
conivência, ou com a permissividade dos governos locais, nacionais e das
autoridades tradicionais.
“A Amazónia é multiétnica,
pluricultural e plurirreligiosa, a exigir a defesa da vida por parte dos
Estados e da Igreja”, sobretudo de povos hoje marcados pela “pobreza produzida
ao largo da história” decorrente da economia mundial, na qual prevalece o lucro
sobre a dignidade humana”.
Diaconado
permanente e sacerdócio
Os participantes no Sínodo
especial para a Amazónia pediram que se permita a ordenação de homens com
“família legitimamente constituída e estável”, para “sustentar a vida da
comunidade cristã através da pregação da Palavra e a celebração dos Sacramentos
nas zonas mais remotas da região amazónica”.
O documento final admite a ordenação sacerdotal de diáconos
permanentes. O ponto 111 propõe a “ordenação sacerdotal de homens idóneos e
reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconado permanente fecundo e
recebam uma formação adequada para o presbiterado”.
É por parte de leigos,
consagrados e casados, que se forma uma verdadeira Igreja amazónica que seja
sinal da presença de Cristo nesta região.
O Papa Francisco tem-se
mostrado muito corajoso e aberto em relação à Amazónia e, em ordem a uma
evangelização mais firme e mais sólida. Os missionários têm sido verdadeiros
heróis que dedicaram as suas vidas procurando o desenvolvimento integral e a
evangelização.
Na Via Sacra, em Roma, foram
incluidos problemas dos indígenas em cada uma das 15 estações: “direitos
humanos”, “reconciliação”, “as culturas”, “os mártires da terra”, “mulheres na
Amazónia”, “os mais vulneráveis”, “opressão do povo”, “destruição da natureza”,
“o povo de Deus emerge”, “o ressuscitado acompanha o povo de Deus no seu
caminho”.
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