JAPÃO armas nucleares
Papa Francisco «abolição
das armas nucleares» por P.
Armando Soares
Nagasáqui: mundo livre de armas nucleares
Na cidade de Nagasáqui, o Papa
Francisco deu voz aos apelos proféticos de todo o mundo em favor do
desarmamento nuclear.
Prestou homenagem às vítimas
do bombardeamento atómico, no segundo dia da sua visita ao Japão, defendendo a
abolição global das armas nucleares. “Este lugar torna-nos mais conscientes do
sofrimento e do horror que nós, seres humanos, somos capazes de nos infligir”,
advertiu Francisco, no interior do Memorial da Paz.
O pontífice foi acolhido por
duas das vítimas da bomba lançada durante a II Guerra Mundial, depositou um
ramo de flores junto ao monumento que evoca os mortos, acendeu uma vela e rezou
em silêncio durante alguns momentos.
Um mundo em paz, livre de
armas nucleares, é aspiração de milhões de homens e mulheres em toda a terra.
Este ideal requer a “participação de todos: pessoas, religiões, sociedade
civil, Estados que possuem armas nucleares e os que não as possuem, setores
militares e privados, e organizações internacionais”, declarou o Papa.
Lamentou que, num mundo em que milhões de
crianças e famílias vivem em condições desumanas, se gastem e obtenham fortunas
“no fabrico, modernização, manutenção e venda de armas”.
A 9 de agosto de 1945, a bomba
“Fat Man” causou a morte instantânea de cerca de 70 mil pessoas.
Mártires de Nagasáqui
O Papa rezou junto ao
Monumento dos 26 Mártires de Nagasáqui, mortos na cidade japonesa em 1597,
afirmando que estas figuras são uma “fonte profunda de inspiração” para si. Venho
como peregrino para rezar, confirmar e também ser confirmado na fé por estes
irmãos, que nos mostram o caminho com o seu testemunho e dedicação”, declarou.
“Aqui há a obscuridão da morte
e do martírio, mas anuncia-se também a luz da ressurreição”, precisou. O Papa
evocou os cristãos que hoje “sofrem e vivem o martírio por causa da fé”, os
“mártires do século XXI”.
“Ergamos a voz para que a
liberdade religiosa seja garantida a todos nos vários cantos do planeta”, apelou.
Como jovem jesuíta, Jorge
Mario Bergoglio tinha o sonho de ser missionário no Japão, seguindo os passos
de outro membro da Companhia de Jesus: São Francisco Xavier, o grande
evangelizador do Japão, entre 1549 e 1552, a pedido da Coroa Portuguesa.
Poucas décadas depois, a
comunidade católica viveu uma fase de perseguição: os primeiros mártires em
Nagasáqui em 1597; entre eles contava-se o português São Gonçalo Garcia,
canonizado em 1862 por Pio IX. Outros 205 católicos foram beatificados em 1867
(sete portugueses).
Os portugueses foram expulsos do Japão em 1639
e o Cristianismo nipónico entrou numa vivência de clandestinidade, que se
prolongou até à reabertura do império ao Ocidente, na segunda metade do século
XIX.
Privados do clero e das
igrejas, e apesar dos massacres, alguns leigos japoneses conseguiram
sobreviver, transmitindo a fé em segredo de geração em geração, sendo hoje
conhecidos como “kakure kirishitan” – cristãos escondidos.
O arcebispo de Nagasáqui, D.
Joseph Mitsuaki Takami, de 73 anos, é descendente dos chamados “cristãos
escondidos”, que sobreviveram a dois séculos e meio de perseguições.
Guerra e perseguição religiosa
O Papa presidiu em Nagasáqui à
sua primeira Missa com a comunidade católica do Japão, na solenidade litúrgica
de Cristo-Rei, apresentando a compaixão como “verdadeiro modo de construir a
história”.
“Estas terras experimentaram, como poucas, a
capacidade destrutiva a que pode chegar o ser humano”, assinalou, perante cerca
de 35 mil pessoas.
Horas depois de ter rezado
pelas vítimas da bomba atómica em 1945, o Papa declarou que “Nagasáqui carrega
na sua alma uma ferida difícil de curar, sinal do sofrimento inexplicável de
tantos inocentes”.
Os “milhares de mártires”
integram a “herança espiritual” da Igreja Católica no Japão.
Convidou os católicos a
dar testemunho do Reino de Deus “em família, no trabalho, na sociedade”. “O
Reino dos Céus é a nossa meta comum a construir hoje junto da indiferença que
rodeia e silencia tantas vezes os nossos doentes e pessoas com deficiência, os
idosos e abandonados, os refugiados e trabalhadores estrangeiros”, apontou.
Atualmente, os católicos no
Japão são 536 mil, correspondendo a 0,42% de uma população de mais de 126
milhões de habitantes.
Em Hiroxima: “nunca mais a guerra”
O Papa visitou o Memorial da Paz de Hiroxima,
no local onde explodiu a primeira bomba atómica falando num momento que “marcou
para sempre” a história da humanidade.
“Desejo reiterar que o uso da energia atómica
para fins de guerra é um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas também
contra o futuro na nossa casa comum. Esse uso é imoral, da mesma forma que é imoral
a posse de armas atómicas”. A cerimónia reuniu cerca de 1300 pessoas, incluindo
20 líderes religiosos e 20 sobreviventes do primeiro bombardeamento atómico no
Japão, a 6 de agosto de 1945, que provocou a morte imediata a 80 mil pessoas. “Vim
a este lugar como peregrino da paz, recordando as vítimas inocentes de tanta
violência e trazendo no coração também as súplicas e anseios dos homens e mulheres
do nosso tempo que desejam, trabalham e se sacrificam pela paz”, disse o Papa.
Num clima de grande emoção
cumprimentos pontífice cumprimentou os 20 líderes religiosos e as vítimas
presentes. Tomou a palavra para rejeitar a “intimidação bélica nuclear”,
apelando ao “grito dos pobres, que são sempre as vítimas mais indefesas do ódio
e dos conflitos”. Concluiu: “Elevemos juntos este grito: nunca mais a guerra,
nunca mais o trovão das armas, nunca mais tanto sofrimento”.
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