CARLOS DE FOUCAULD o irmão universal
CARLOS
DE FOUCAULD
o irmão
universal
No dia 1 de Dezembro de 1916 é sequestrado por um grupo de
rebeldes que, ao que parece, não tinham intenção de o assassinar. Mas, num
momento de pânico, aquele que o guardava disparou contra ele. O Irmão Carlos
cai, vítima de violência, como tantos outros no curso desses anos de guerra: “O
nosso aniquilamento é o meio mmais poderoso para nos unirmos a Jesus e fazermos
bem às almas”.
Após 80 anos da sua morte, foi beatificado pelo Papa Bento
XVI, em 13 de Novembro de 2005, tendo presidido a essa cerimónia o Cardeal
português Dom José Saraiva Martins, que afirmou: “Carlos de Foucauld escolheu,
voluntariamente, viver no meio dos pobres, renunciando à sua fortuna pessoal e
a uma vida cómoda e instalada, sem interferir nas crenças religiosas, por mais
diferentes. Acolheu o Evangelho em toda a sua simplicidade. Reafirmou o primado
da caridade e testemunhou Jesus de Nazaré, vivendo como Ele, respeitando todos
os homens”.
Com a sua estadia entre os berberes, este homemde frágil
aparência e baixa estatura, quis partilhar a sua vida com o outro, fazer da
amizade a sua bandeira. Não pretendeu grandes conversões nem lutou por impor o
cristianismo, mas antes procurou evangelizar com a própria vida, aceitando o
outro tal como é e com o que crê. Procurou: ‘Ver a Jesus em cada muçulmano”.
Carlos, o irmão cristão do Islão, profeta sem pretendê-lo ser do diálogo entre
as religiões.
Quando um dia encontrou Jesus, aquele que cresceu, humilde
e simples, numa aldeia desconhecida, Nazaré (de lá poderá vir alguma coisa
boa?!), desde então não quis outra coisa que ser-lhe fiel, na contemplação e na
pobreza entre os muçulmanos, fazendo-se mais próximo dos seus irmãos.
Sua vida - Nasceu a 15 de Setembro de 1858, em
Estrasburgo, na Franca, de uma família rica e católica. “Senhor, sendo eu filho
de uma santa mãe - afirmou o Beato Carlos de Foucauld -, foi com ela que eu
aprendi a conhecer-Vos e a rezar, mal comecei a perceber o sentido das
palavras”.
Aos seis anos ficou órfão de pai e mãe. Viveu com o avô, e
com sua irmã, em Nancy. Aos
14 anos recebeu a primeira comunhão, e dois anos depois perde a fé. Começa um
deambular sem rumo aparente e com muitos excessos.
Em 1876 entra na escola militar de Saint-Cyr. Vai para a
África como subtenente. O Magreb aparece-lhe como um enigma e em 1882 dá baixa
do exército. Durante 11 meses percorre quase 3 mil quilómetros por Marrocos.
Quando regressou a Paris, fez a sua apreciação: “Encontrei-me com pessoas muito
virtuosas e cristãs; disse para comigo que talvez essa religião não fosse
absurda. Uma graça interior extremamente forte me impelia. Passei a ir à igreja
sem acreditar, sentindo-me bem e repetindo esta oração: Meu Deus, se existis, fazei que Vos conheça”.
Aos 28 anos encontra-se com o Padre Huvelin. E, um dia
pede-lhe que o instrua na religião. O sacerdote mandou-o ajoelhar-se e ouviu-o
de confissão. “Se há alegria no Céu por um pecador que se converte, isso
aconteceu quando eu entrei naquele confessionário!” E reforçou: “Que dia
abençoado! Que dia de bênção!”
Descobre Deus como um Pai que se interessa pelo bem dos
Seus filhos. Aconselhado pelo Padre Huvelin, parte em peregrinação para a Terra
Santa. Aqui descobre o verdadeiro rosto de Jesus. Encontra-O em Belém, em
Jerusalém e no Calvário. Em Nazaré inspira-se para viver imitando Jesus como
“pobre artesão. Não me sentia me sentia feito para imitar a sua vida pública na
pregação, portanto, tinha de imitá-IO na vida escondida do humilde e pobre de
Nazaré”.
Em Janeiro de 1890 entre na Trapa de Nossa Senhora das
Neves, em Nazaré. Com
o desejo de viver na pobreza mais radical, pede para ser enviado ao priorado de
Akbes na Síria, onde passa seis anos. Mas não está satisfeito, e enviam-no a
Roma para estudar teologia, o Padre Geral da Trapa aprova a sua vocação
especial de “vida oculta”, e dispensa-o dos votos. De novo em Nazaré, trabalha
como criado das Clarissas, vivendo na casa do jardineiro, onde se dedica à
contemplação de Jesus Eucaristia. Em 1900 lança-se a viver como eremita no
monte das bem-aventuranças. Em menos de um anos regressa à França para se
ordenar sacerdote a 9 de Julho de 1901.
“Acabo de ser ordenado sacerdote e ando a fazer tudo para
ir continuar no Sahara “a vida escondida de Jesus em Nazaré”, não para pregar,
mas para viver, na solidão, a pobreza, o humilde trabalho de Jesus,
empenhando-me em fazer bem às almas, não pela palavra, mas pela oração, pela
oferta do Santo Sacrifício, pela penitência e pela prática da caridade”.
Como presbítero sente desejo de voltar a Marrocos. Celebra
a primeira missa a 30 de Outubro de 1901, em Beni-Abbés, no sul da Argélia,
junto da fronteira. Começa a delinear-se a sua vocação de viver como em Nazaré:
não na oração de um mosteiro, mas ao serviço dos pobres e enfermos de qualquer
raça e religião.
Depoius volta à Argélia, onde se torna irmão dos
“nómadas”, querendo viver no meio desses povos isolados, uma vidade oração e
como irmão de todos: “Quero que todos os homens cristãos, muçulmanos ou judeus,
me olhem como um irmão e comecem a chamar à minha casa ‘a Fraternidade’. Desejo
ser o ‘irmão universal’.”
Em 1905 fixa-se em pleno coração do Sahara, em
Tamanrasset, levado pelo desejo de se pôr em contacto com as tribos tuaregues.
Aprende a língua, estuda a cultura e vive como um deles. Com sua confiança e
com sua amizade abriria caminho à grande onda de missionários que chegaria no
século XX. E será neste lugar que Carlos encontra o seu Amado: “A sós com o
Esposo, em profundo silêncio, no Sahara, sob este imenso céu, esta hora face a
face é uma doçura suprema”.
Assim viverá e conviverá até 1 de Dezembro de 1916, em que
foi morto.
Após a morte - Todos os projectos que Deus havia colocado
no seu coração começavam a levantar voo. Bem depressa se distribuíam seus
escritos, meditações, diários e cartas por toda a Europa.
Em 1933 verão a luz as primeiras fraternidades dos Irmãos
de Jesus e das Irmãs do Sagrado Coração. Carlos de Foucauld inspirou as 11
congregações religiosas e associações de vida espiritual que hoje formam uma
grande família nos cinco continentes. O “irmão universal” soube abrir um
caminho de espiritualidade que a Igreja aprovou no dia 13 de Novembro de 2005,
ao reconhecê-lo como beato. Assim o reafirmou Bento XVI ao concluir a
Eucaristia: “Através da sua vida contemplativa e escondida de Nazaré encontrou
a verdade da humanidade de Jesus, convidando-nos a contemplar o mistério da
Encarnação. Descobriu que Jesus, vindo para unir-se a nós na nossa humanidade,
nos convida à fraternidade universal”.
Herdeiras do estilo missionário-contemplativo de Foucauld,
as Irmãzinhas de Jesus nsão uma das congregações religiosas da grande família
do “irmão universal”. Fundadas em 1939, são 1300 Irmãs presentes em 68 países.
(BN-945, Ag/Set.2007,pp.22-23)
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