LIBÉRIA ÉBOLA heróis invisíveis*
LIBÉRIA
ÉBOLA heróis invisíveis*
Na Libéria, como em outros
países de África, luta-se desesperadamente contra o vírus do ébola,
extremamente mortal e para o qual não há ainda uma vacina eficaz. A Igreja tem
desempenhado um papel essencial no apoio às populações afectadas. Padres e
irmãs não descansam nessa missão. Mesmo arriscando a própria vida.
Chamava-se Miguel
Pajares. Tinha 75 anos, era médico e missionário. Morreu em Agosto, em Espanha,
a sua terra natal, mas foi na Libéria que contraiu o vírus do ébola. Apesar da
urgência da viagem para o hospital Carlos III, em Madrid, e de lhe ter sido administrado
um soro experimental desenvolvido pelos norte-americanos, não resistiu. Estava
demasiado fraco. Desde Março, quando o surto de ébola começou a espalhar-se a
uma velocidade alarmante, já morreram cerca de 3.500 pessoas. Serra Leoa,
Guiné, Libéria, Nigéria e Senegal, são os países mais afectados.
Fora
de controlo
Responsáveis da Organização
Mundial de Saúde (OMS) não escondem a sua enorme preocupação perante a
magnitude do problema. Christopher Dye, da OMS, afirma que, “se não travarmos a
epidemia muito em breve, isto vai passar de um desastre para uma catástrofe”.
Os primeiros casos de ébola foram registados em Fevereiro. Em Março percebeu-se
que se estava perante um caso grave que rapidamente afectava vários países. A
comunidade internacional não agiu de imediato em auxílio dos que lutavam contra
a doença. Há estimativas de que as infecções pelo vírus ébola podem
triplicar para cerca de 20 mil casos até Novembro, aumentando em milhares todas
as semanas. Se nada se fizer para se alterar esta situação no terreno, dando
meios eficazes às equipas de saúde dos vários países afectados, em Janeiro o
número de vítimas mortais poderá ascender a “centenas de milhar”. A afirmação é
de Dye, em Genebra, na sede da OMS.
Heróis invisíveis
O ébola
tem uma taxa de mortalidade até cerca 90 %, e não há vacina nem cura conhecida.
O vírus provoca febre alta, dores de cabeça, dores musculares, conjuntivite e
fraqueza, antes de passar para fases com vómitos severos, diarreia e
hemorragias.
Voltemos
a Miguel, o médico e sacerdote. Estava a dirigir o Hospital de São José, em
Monróvia, e adoeceu depois de ter assistido o director clínico da unidade.
Desconhecia-se que estava infectado com o vírus. Após a sua morte, Pajares e
outros técnicos que trataram dele fizeram os testes de despistagem da doença e
confirmou-se a pior notícia: estavam infectados. Miguel, assim como os irmãos
Patrick e George, que como ele pertenciam à Ordem Hospitaleira de São João de
Deus, e a irmã Chantal, das Missionárias da Imaculada Concepção não resistiram
à força do vírus. Como eles, vários enfermeiros e assistentes sociais, ligados
à diocese, perderam a vida.
País
paralisado pelo medo
Todos eles foram heróis
extraordinários. Sozinhos, com parcos meios, não tiveram medo de se exporem ao
risco enorme que o ébola representa e trataram dos doentes que iam aparecendo
no hospital. A cada dia que passava eram mais e mais. Neste momento, o próprio
hospital está fechado, tal como escolas, lojas, fábricas. O país está
paralisado pelo medo. Miroslaw Adamczyk, o Núncio Apostólico para a Libéria,
Serra Leoa e Gâmbia, não tem mãos a medir. De todos os lados chovem pedidos de
ajuda. As estruturas locais da igreja procuram ajudar e pouco podem fazer. As
missas têm servido para os sacerdotes explicarem o que as pessoas devem fazer
para evitarem o contágio. À porta das igrejas foram colocados recipientes com
uma solução de água e cloro e todos são convidados a lavar as mãos. Mas o medo
propagou-se ainda mais depressa do que o vírus.
“Precisamos das vossas orações”
Já não há mais o abraço da
paz durante as missas e as pessoas, mesmo na rua, evitam cumprimentar-se. Como
explica o Núncio Apostólico, pedindo ajuda à Fundação AIS para esta situação de
emergência, “agora, qualquer pessoa que tenha uma ponta de febre ou uma dor de
cabeça fica logo em pânico”.
Enquanto não se descobrir uma
vacina eficaz para o ébola, o vírus vai continuar a espalhar-se atingindo uma
proporção catastrófica. Impotente perante a dimensão deste drama que todos os
dias ganha um contorno ainda mais arrepiante, Monsenhor Miroslaw pede-nos
orações. “Precisamos das vossas orações. A nossa esperança é sempre a mesma:
acreditamos em Jesus Cristo que superou o sofrimento e a morte. Temos a certeza
que Ele não nos vai desapontar”. * In VOZ
DA VERDADE
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