MORTE Os dias da interrogação
MORTE
Os dias da interrogação
Reduzido por A.SOARES de ANSELMO BORGES in DN
Ninguém
pode gloriar-se de saber que Deus existe ou não existe e que haverá ou não vida
futura. E sobre a morte o que é que sabemos? Ninguém sabe o que é morrer - lá
está Heidegger: "A morte do outro revela-se como uma perda, mas sobretudo
como a perda que experienciam os que ficam.
Como não faz sentido dizer que os levamos à
última morada. Quem se atreveria a enterrar, a cremar o pai ou a mãe, o amigo,
a amiga, o filho? E, quando vamos ao cemitério, que jogo de linguagem é esse
que nos leva ao atrevimento de dizer que os vamos visitar? Nos cemitérios, com
excepção dos vivos que lá vão: só há "ossos e podridão". Assim,
pergunta-se: o que há lá então, para que a violação de um cemitério seja um
crime hediondo? O que lá há é uma interrogação in-finita, para a qual não há
resposta adequada: O que é o ser humano?
Sem
a morte e a sua consciência, haveria religiões e filosofias?
O
sintoma mais claro da crise deste nosso tempo - uma crise financeira, social,
económica, religiosa, moral - é a morte tornada o único tabu. Para ser o que é,
a nossa sociedade não teve apenas de fazer da morte tabu, ela é a primeira na
história a colocar o seu fundamento sobre o tabu da morte: disso não se fala e
vive-se como se ela não existisse.
Como
escreve o filósofo Luc Ferry, o nosso mundo é completamente dominado pela
concorrência total, a competição das empresas entre si, mas também dos países,
das culturas, das universidades, dos laboratórios, etc. A história só avança
animada pela obrigação absoluta de fazer crescer os meios de que dispomos. É
preciso produzir, competir, inovar sempre, cada vez mais, mas, agora, "sem
saber porquê nem para quê, em virtude de que finalidade.
Nesta
sociedade a morte não tem lugar. Daí, a desumanização crescente, sendo,
necessário voltar ao pensamento sadio, da morte. A consciência do limite, leva
a viver intensamente o milagre do existir, a cada instante, é ele também que
remete para a ética, distinguindo entre bem e mal, justo e injusto, o que
verdadeiramente vale e o que realmente não vale, e ensina a fraternidade: somos
mortais, logo, somos irmãos. E abre à Transcendência, pelo menos enquanto
questão.
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