ROMA O Papa Francisco sobre a alimentação denuncia o paradoxo da abundância e a falta de solidariedade
ROMA
O Papa Francisco sobre a alimentação
denuncia o paradoxo da abundância e a falta de solidariedade
2014-11-20 L’Osservatore Romano |
A mensagem do papa Francisco mais uma vez é clara, sem
ambiguidades ou mal-entendidos: o homem faminto precisa de dignidade, não de
esmola. E aos participantes na segunda conferência internacional sobre a
alimentação que decorreu em Roma na sede da Fao, onde se deslocou na manhã de
quinta-feira 20 de Novembro, o Pontífice dirigiu uma forte admoestação: não
podemos continuar a esconder-nos por detrás de sofismas, manipulações de dados,
presumíveis estratégias de segurança nacional, crises económicas. «O faminto –
recordou – está ali, na esquina da estrada, e pede direito de cidadania, pede
para ser considerado na sua condição, para receber uma alimentação de base
sadia. Pede-nos dignidade, não esmola».
E tal como fez João Paulo II nesta mesma sede em 1992
durante a primeira conferência sobre a alimentação, Francisco advertiu contra o
risco de perseverar no «paradoxo da abundância», continuando a proclamar que há
alimento para todos mas nem todos podem comer, «enquanto o desperdiço, o
descarte, o consumo excessivo e o uso de alimentos para outros fins estão
diante dos nossos olhos». Uma situação que aliás tem a sua confirmação na falta
de solidariedade que distingue a nossa sociedade cada vez mais individualista e
submetida às lógicas de mercado. A solidariedade é «uma palavra – repetiu o
Pontífice – que inconscientemente temos a suspeita de ter que tirar do
dicionário». Na realidade vivemos numa sociedade caracterizada «por um
crescente individualismo e pela divisão; isto – admoestou – acaba por privar os
mais débeis de uma vida digna e provocar revoltas contra as instituições». Mas
há mais. «Quando falta a solidariedade num país todos ressentem disso»: homens,
mulheres, crianças, idosos devem poder contar sempre com a ajuda de todos e ter
a garantia de serem sempre protegidos.
Protecção da qual tem imediatamente grande necessidade
também «a nossa irmã e mãe terra» concluiu o Papa. Devemos «preservar o
planeta» exortou, porque se é verdade que «Deus perdoa sempre» também é verdade
que «a terra nunca perdoa» e a criação corre o risco de se encaminhar para a
autodestruição.
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