NIGÉRIA D. Kaigama: Boko Haram mata até mesmo o diálogo
NIGÉRIA
D.
Kaigama: Boko Haram mata até mesmo o diálogo
Soldados da Nigéria na fronteira com os Camarões -
AFP 28/01/2015 13:22
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A pouco mais de duas semanas
das eleições presidenciais na Nigéria, previstas para 14 de Fevereiro,
continuam a registar-se actos de violência da parte de Boko-Haram. As milícias
islamistas conquistaram nos dias passados diversas aldeias do nordeste do país,
cometendo atrocidades e provocando um número indefinido de vítimas. Esses
fundamentalistas islâmicos teriam mesmo tentado entrar em Maiduguri, capital do
Estado de Borno, mas foram rechaçados pelos militares. Segundo o bispo da
cidade, D. Doeme, há o risco de que possam conquistar todo o nordeste do país.
O colega italiano Marco Guerra pediu um comentário ao arcebispo de Jos e
Presidente da Conferência Episcopal da Nigéria, D. Ignatius Kaigama:
“A situação não é prometedora
na medida em que estamos ainda a falar de ataques contra nigerianos inocentes.
E isto tem provocado mortos e deslocados. Foi-me dito que houve uma tentativa
da parte do grupo Boko-Haram de tomar o controlo de Maiduguri. Até hoje tinha
havido ataques nas localidades próximas da cidade, mas agora as notícias dos
últimos ataques são terríveis e bastante inquietantes, porque se tomarem
Maiduguri, capital do Estado de Borno, toda a área à volta poderá cair
facilmente nas mãos deles. Esperamos que a comunidade internacional nos ajude
ainda. Se o Governo nigeriano não pode controlar devidamente a situação de
violência, acho que é necessário a assistência internacional.”
No que toca ao diálogo entre cristãos e muçulmanos, o que pede à
comunidade internacional no sentido de ajudar a Nigéria?
“Antes de mais, isto não tem
nada que ver com o diálogo porque estamos perante um grupo irracional que mata
pessoas quando lhe apetece, seja cristãos, seja muçulmanos. Mata
indiscriminadamente. Não pode, portanto, haver diálogo numa tal situação. Por
isso, contamos com os serviços secretos, com uma rede de contactos e uma
equipagem adequada, capaz de dar segurança, da parte do Governo nigeriano e, se
possível, da parte da comunidade internacional. O diálogo é impossível perante
pessoas que matam e destroem em nome de Deus. Não se consegue obter a sua
atenção. É difícil dialogar. Nós esperamos, portanto, que a comunidade
internacional nos ajude ainda, embora haja oficiais nigerianos de relevo que
dizem que não há necessidade da comunidade internacional, mas aqui está a
morrer gente. Por isso, se o Governo nigeriano não pode controlar adequadamente
a situação de violência, acho que é necessário a assistência internacional.”
No próximo dia 14 de Fevereiro, vai haver eleições presidenciais
na Nigéria. Quais são a expectativas do povo e da Igreja?
“Está em curso uma campanha
eleitoral renhida tanto a nível estatal como federal. As pessoas podem escolher
a quem dar o poder, mas nós estamos a dizer-lhes que aceder ao poder não
é a prioridade. Tornar-se Presidente ou Governador não é a prioridade da
Nigéria. O que é necessário são políticos que tenham vontade de servir o País,
de usar a política como instrumento para o desenvolvimento social e o
progresso. Infelizmente, os políticos se limitam a procurar a riqueza e não
pensam no povo. É por isso que há muito sofrimento. A insegurança e a corrupção
imperam. A política não é usada para os fins pré-fixados. Dizemos aos contendentes
e àqueles que os votam para se recordarem que o que é realmente crucial e
essencial é que os nigerianos vivam em paz, tenham alimentação suficiente,
assistência sanitária e tudo mais. Se vêem isto como uma prioridade, estamos
juntos! Mas infelizmente, muitos dos nossos políticos não olham para o bem
comum e não põem os interesses da Nigéria em primeiro lugar. Preocupam-se só
com o poder e com a influência que podem exercer através dele. Esperamos que
este cenário mude e que os líderes que pedem o nosso voto nos convençam
realmente que são desinteressados e que poderão actuar a favor da Nigéria e dos
nigerianos.”
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