VIDA CONSAGRADA a visão de um não consagrado
VIDA
CONSAGRADA
a visão de um não consagrado
Pedro Gil, , od
15 de Dezembro de 2014, às 15:11
Desta
vez sou mesmo um "leigo" na matéria. Foi o que me pediram: um olhar
vindo "de fora" da vida consagrada.
Foi
em casa, era eu pequeno. Duas simpáticas freiras de hábito negro, responsáveis
do instituto nosso vizinho para jovens carenciadas, vieram visitar-nos.
Naquela
idade tudo é mistério, mas aquelas freirinhas pareceram-me um mistério do outro
mundo. Pelo que faziam, pelo sorriso, pela mansidão. Vinham do além, e a minha
intuição era certa.
Depois
soube que aquilo era "vida consagrada". E soube que, estando todos na
Igreja chamados a viver totalmente em Deus, também há outra acepção diferente e
ampla de 'consagração' que é a baptismal, que transforma em filhos de Deus, nos
une a Ele, e a cada um responsabiliza pelo anúncio evangelizador.
Porém,
em sentido rigoroso, a "vida consagrada", própria deste Ano, é a vida
dos que "se puseram ao serviço da humanidade, à qual eram enviados pelo
Espírito servindo-a dos mais diversos modos: com a intercessão, a pregação do
Evangelho, a catequese, a instrução, o serviço aos pobres, aos doentes…"
(citei o Papa Francisco).
O
leigo, que não é chamado a uma santidade menor, tem uma missão diferente. Ao
leigo é confiada a construção do mundo. Deve não só encontrar Deus no mundo –
mas construir o mundo. Como Jesus até aos 30 anos. Após a morte responderá às
previsíveis perguntas "foste caridoso?", "ajudaste o
pobre?", "visitaste o preso?", e perguntas "laicais"
como "puseste a mesa?", "votaste na junta?",
"combateste o nemátodo do pinheiro", "fizeste desporto?",
"descobriste novos usos para a cortiça?", "contaste anedotas aos
filhos?", "respondeste aos emails?".
O
mundo dos cidadãos comuns tem, porém, imenso a ver com a vida consagrada. Num
encontro do "Passo a Rezar" no Carmelo de Fátima, a Madre superior
explicou-nos que ela, e as outras carmelitas, não estavam atrás das grades por
não gostarem do mundo – do trabalho, da família, da confusão da vida em
sociedade – mas por gostarem "demasiado" do
mundo, ao ponto de entregarem a vida para pedir a Deus pelos que andam no
mundo.
É
mesmo assim e é impressionante, qualquer que seja a expressão, mais
contemplativa ou activa, da vida consagrada. Pertencemo-nos uns aos outros e
estamos ligados por dentro. O leigo quer e agradece: a dedicação dos
consagrados que ensinam, a clausura dos que oram, o hábito dos que têm habito,
o carinho dos que confortam desvalidos, o estudo dos que pensam a imensidão de
Deus.
O
leigo precisa que o consagrado seja alegre na sua vocação, a viva genuína sem
adaptações artificiais, fale dela e a proponha, e acredite que o seu carisma
faz cada vez mais falta ao mundo de hoje.
Pedro Gil
Director do Gabinete de
imprensa do Opus Dei
Comentários
Enviar um comentário