FRANCISCO Os inimigos do Papa Francisco
FRANCISCO
Os inimigos do Papa Francisco
Anselmo Borges
08 Setembro 2018 — 06:27
A tragédia da pedofilia do clero coloca a Igreja
Católica numa crise sem precedentes, como um antro de anormais e pedófilos. Mas
a percentagem dos padres é mínima, em
400 mil padres.
É doloroso que o número de crianças que sofreram e
que sofrem é muitíssimo mais vasto do que aquilo que se poderia imaginar, com a
agravante da traição do padres em quem confiavam.
Uma traição que envergonha os católicos. E a
agravar mais: responsáveis, incluindo
bispos e cardeais e a Cúria Romana, ocultaram e encobriram estes horrores. Evitar
a todo o custo o escândalo era a palavra de ordem. Uma catástrofe.
Causas. O Papa Francisco apresenta como principal
o clericalismo e, consequentemente, o carreirismo, que ele, desde o princípio,
diz que constituem "a peste da Igreja", sempre em conexão com a Cúria
Romana, a corte, de que ele diz que é "a lepra do papado". Constituiria
grave omissão da nossa parte não aprofundar nas raízes. Essa psicologia de
elite ou elitista acaba por gerar dinâmicas de divisão, separação, círculos
fechados, que desembocam em espiritualidades narcisistas e autoritárias nas
quais, em vez de evangelizar, o importante é sentir-se especial, diferente dos
outros, pondo assim em evidência que nem Jesus Cristo nem os outros interessam
verdadeiramente. Messianismos, elitismos, clericalismos, são todos sinónimos de
perversão no ser eclesial."
O celibato obrigatório é "uma imposição
legal" para poder pertencer a esta classe superior; o clero está à frente
de "comunidades reduzidas a lugares de culto e serviço religioso à volta
do padre, sem voz nem voto nas decisões de base: convertidas em grupos menores
de idade...". Muitos deles sofreram demasiado: por isso, querem fazer
sofrer os outros." Nietzsche, que proclamou a morte de Deus, também deixou
escrito, na mesma obra, Assim Falava Zaratustra: "Eu só
acreditaria num deus que soubesse dançar."
Francisco quer renovar a Igreja, refontalizá-la,
levando-a às origens, com o Evangelho de Jesus. Tolerância zero para a
pedofilia. Transparência nas contas do Banco do Vaticano. Reforma profunda da
Cúria. Uma Igreja fraterna, pobre, em saída para as periferias geográficas e
existenciais. Uma Igreja viva, que não é museu. Sem clericalismo, capaz de se
aproximar dos divorciados recasados, dos homossexuais, que são católicos como
os outros (o problema não é ser homossexual, o problema é "o lóbi gay",
diz). Francisco também está próximo dos mais desfavorecidos e critica o
capitalismo desenfreado, escreveu uma encíclica, a Laudato
Sí, apelando à necessidade de salvaguardar a Terra, criação de Deus
e nossa casa comum, e também à necessidade de humanitariedade para com os
migrantes e refugiados...
Evidentemente, os rigoristas fariseus e os lóbis
económicos não gostam e atacam-no ferozmente, acusando-o inclusivamente de
heresia.
Recentemente, o arcebispo Carlo Maria Viganò, num
golpe cobarde e vil, pretendeu acusá-lo de cumplicidade e encobridor, com
mentiras e contradições.
E a Igreja universal tem vindo massivamente a
manifestar o seu apoio incondicional a Francisco. Franciscano e jesuíta, não se
demite nem se deprime. E não se ficará só com pedidos de perdão e exigência de
justiça, incluindo a justiça civil. Pode vir aí um Sínodo - enquanto reunião
universal de toda a Igreja, com representação de bispos, mas também de padres,
de religiosos e de religiosas, da Cúria, de leigos e de leigas, portanto, eles
e elas, na devida proporção, sob a presidência do Papa. Para debater as questões
ou desafios que se põem à Igreja.. A que se deve esta tragédia? Como caminhar
para estruturas mais democráticas na Igreja? Que novo tipo de padre? Ordenar
homens casados? Pôr fim à lei do celibato? Qual o papel das mulheres na Igreja?
É legítimo continuar a discriminá-las, contra a vontade de Jesus? O que é que
as impede de poderem presidir à celebração da Eucaristia? Que moral sexual? O
que é que a Igreja pensa de si mesma, da sua identidade e missão? Como é que
deve ir ao encontro da Humanidade actual, com os seus novos problemas, questões
de bioética, questões que têm que ver com o trans-humanismo e o pós-humanismo,
a justiça social, os direitos humanos, o diálogo ecuménico e inter-religioso, a
paz num mundo globalizado... (Reduzido por Armando Soares)
Padre
e professor de Filosofia
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