AMBIENTE / cuidado da Criação
AMBIENTE/dua cuidado criação
Ecologia:
Humildade e diálogo ecuménico são caminho para conversão ambiental
Ago 31, 2019 - 8:28
«Os mais pobres e mais vulneráveis, que são os que mais guardam e menos
contribuíram para estas alterações, têm muito a ensinar-nos», assinala
Margarida Alvim
O Papa Francisco propôs que a Igreja Católica assinale anualmente o Dia
Mundial de Oração pelo Cuidado com a Criação em 2015, meses depois de ter
assinado a encíclica «Laudato Si», na qual pede aos cristãos que concretizem a
Doutrina Social da Igreja e os seus valores no campo da ecologia.
Para Margarida Alvim, o grande desafio do Papa é a tomada de consciência da
“relação com Deus, com os outros e consigo próprio a que todo o ser humano é
chamado” e que, “em algum ponto da sua vida quebrou”.
“Os mais pobres e mais vulneráveis, que são os que mais guardam e menos
contribuíram para estas alterações, têm muito a ensinar-nos, se assim
acolhermos a esta relação justa, saudável, sustentável com a terra que nos
sustenta”, assinala.
O mês da criação decorre de 1 de setembro a 4 de outubro – data em que se
assinala a memória litúrgica de São Francisco de Assis; para além de uma necessária “reflexão”, quer propor mudanças
práticas.
O nosso estilo de vida foi mudando: a nível mundial vemos o êxodo para
as cidades, grande parte dos mais pobres estão nas periferias das cidades,
fugiram de situações de desequilíbrio das áreas rurais, mas não estão mais
equilibrados nas áreas urbanas. E neste «salve-se quem puder» não temos tempo
para cuidarmos juntos”.
Margarida Alvim, presidente da direção da Associação Casa Velha afirma que
a ecologia e o combate às alterações climáticas não podem ficar reféns da
política.
“Para os cristãos trata-se de uma ecologia integral, que passa por todas as
dimensões da vida, não só minhas, mas de todos”, sublinha.
Procurando valorizar os “pequenos gestos”, sinais de esperança na vida
diária, a entrevistada explica que o caminho é construído “com pequenas coisas”.
“A atitude gratuita de ir a passar numa estrada e ver plástico, será que
apanhamos? Trata-se de um olhar de esperança, positivo, e de como valorizamos o
pequeno, as pequenas soluções”, indica.
Recentemente regressada das Filipinas, onde esteve a participar num
workshop «Laudato Si», a convite dos jesuítas da conferência Ásia/Pacifico,
sobre «espiritualidade para a ação», Margarida Alvim encontrou uma “profunda
ligação à terra”.
“Fomos convidados a ouvir jovens e crianças a contarem como cuidam das
árvores, como sabem as que cortar, num projeto educativo desenvolvido na
própria comunidade”, recorda.
A comunidade, “onde vivem cerca de 200 crianças e jovens, são acompanhadas
há mais de 30 anos” pelo jesuíta Pedro Wolpole, que depois de um período de
desflorestação conseguiu “angariar terra” e desenvolver “um projeto educativo
baseado na cultura”.
“Encontrei uma relação profunda com a terra, de um cuidado tão profundo que
nos marca.
Fomos convidado a olhar a terra a partir dos mais vulneráveis, e estávamos
no sítio certo, no meio das montanhas, e fomos convidados a ouvir os jovens.
Foi um exercício de escutar, de olhar e perceber como isso nos desafia”,
assinala.
Presentes no workshop estavam também organizações da sociedade civil que,
explica Margarida Alvim, “sentiram necessidade de um horizonte espiritual para
desenvolverem o trabalho que fazem”.
Com o aproximar do início do Sínodo especial para a Amazónia, que vai
decorrer de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, cresce a expetativa de valorização e
“reforço” do olhar para as periferias num “tempo e espaço de diálogo que não
existia com os líderes indígenas e os católicos”, frisa.
“Somos muito rápidos a oferecer religião às pessoas, mas não fazemos um
caminho espiritual; não fazemos nós, nem fazemos com as pessoas, e um caminho
de relação, no caso dos cristãos, com Jesus”, indica Margarida Alvim.
O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado com a Criação vai estar em destaque no
programa Ecclesia, na Antena 1, este domingo, a partir das 06h00.
LS
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