LIBERDADE RELIGIOSA/ ‘annus horribilis’ Liberdade Religiosa no mundo
LIBERDADE RELIGIOSA/ ‘annus horribilis’
Liberdade Religiosa no mundo
D. Teodoro de Faria
Bispo Emérito
Opinião
| 30/12/2018 02:06
D. Teodoro de Faria, bispo emérito do Funchal |
O Papa
Francisco, neste tempo de Natal, referiu-se aos países e povos que “vivem sem
liberdade religiosa”, enumerando entre eles a Síria, Iémen, Venezuela,
Nicarágua, Ucrânia, pedindo uma fraternidade universal entre culturas e
religiões.
Neste
mês de Dezembro, a Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre) enviou-me o
Relatório de 2018, volume de 848 páginas, com um Sumário Executivo 2018, que me
apeteceu chamar-lhe “Annus horribilis.”
Neste
período em análise, a situação dos grupos religiosos minoritários deteriorou-se
em 18 dos 38 países e, em muitos outros, incluindo a Coreia do Norte, Arábia
Saudita, Iémen e Eritreia, “a situação já era tão má que dificilmente poderia
ser pior”.
No
artigo 18º a Declaração Universal dos Direitos Humanos refere:” Toda a pessoa
tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este
direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a
liberdade de manifestar a religião ou convicção, pela prática, pelo culto e
pelos ritos”. O documento apresenta uma grelha com uma lista das manifestações
de cada tipo de violação.
Intolerância,
ocorre sobretudo a nível social e cultural – clubes, eventos desportivos,
bairros, artigos de imprensa, discurso político e cultura popular, como por
exemplo, o cinema e a televisão. A intolerância é mais difícil, de classificar,
pois é definida como impressão.
Discriminação,
acontece quando há leis ou normas que se aplicam a um grupo específico e não a
todos. Neste caso é o Estado que se torna no autor da crise que viola a
liberdade religiosa. Quando estão em causa as leis da blasfémia, as vítimas só
podem confiar na comunidade internacional.
Perseguição,
pode existir num país sem que seja promovida pelo Estado. As vítimas são
abusadas legalmente, espoliadas e, por vezes, assassinadas. Em casos estremos
pode transformar-se em genocídio.
Genocídio,
é a derradeira forma de perseguição, onde apenas o direito internacional parece
capaz de poder intervir.
Muitos
incidentes motivados por ódio religioso mostram que, a liberdade religiosa no
nosso mundo, é “um direito órfão”. O próprio Estado pode frequentemente ser uma
vítima, como no caso da Nigéria, onde metade da população era cristã e a outra
metade muçulmana, mas onde o Boko Haram quer desaparecer com o cristianismo até
2025, causando imensas represálias e genocídios de populações nigerianas. Neste
país existe um fosso entre os princípios da Constituição e a realidade de vida
do país, não há números oficiais sobre a filiação religiosa. Os bispos emitiram
uma declaração muito forte a condenar os ataques e, uma vez mais, apelaram a
que o Governo Federal proteja as vidas dos cidadãos. Há um plano para islamizar
todas as áreas que, atualmente, são predominantemente cristãs na zona central
do país.
Outro
continente onde os cristãos são ameaçados na liberdade religiosa é a Ásia. A
Índia, o país do grande pacifista Gandi, o segundo país do mundo mais populoso,
com uma economia em crescimento mais acelerado, destaca-se por ataques, por
atos de violência flagrante, por motivos de ódio religioso. No centro da Índia
o arcebispo de Sagar falou contra os nacionalistas fanáticos que ameaçam com
frequência as famílias da sua diocese e lhes disseram que partissem dali; já
espancaram oito sacerdotes e queimaram os seus carros no exterior da esquadra
da polícia. Uma organização cristã enumera 736 ataques contra cristãos em 1917,
este país é ameaçado pelo ultra nacionalismo.
Na
China todos os grupos religiosos estão em risco se tentarem quebrar os laços
com a liderança, cada vez mais autoritária. O presidente Xi Jinpimg deu passos
para reprimir os grupos religiosos resistentes ao domínio das autoridades
comunistas chinesas. Chegaram relatos de ser oferecido dinheiro para destruírem
as imagens do Natal cristão e substitui-las por retratos do presidente Xi. Na
Turquia a agenda do presidente Erdogan impôs o islamismo sunita, encerrou duas
televisões de chiitas por propaganda terrorista, aumentou também os sinais e
opressão contra os cristãos, alegando que são vistos como inimigos. A França
acolhe a maior comunidade judaica da Europa que se queixa de um aumento dos
crimes de ódio antisemita. Perante tais ataques cresce sempre o número de
judeus que partem para Israel. A islamofobia aumentou no ocidente, devido em
parte à crise migratória em curso. A maioria dos governos ocidentais falhou na
assistência aos grupos religiosos minoritários principalmente às comunidades
deslocadas que desejam regressar a casa.
Que a
estrela do Natal, que guiou os magos a Belém, ilumine a humanidade para
encontrar Cristo, de forma que os novos anos não sejam “horríveis” mas
pacíficos.
Comentários
Enviar um comentário