MÉDIO ORIENTE/ cristãos extinção Arcebispo católico do Iraque frisa: cristãos «à beira da extinção» no território
MÉDIO ORIENTE/ cristãos extinção
Arcebispo
católico do Iraque frisa: cristãos «à beira da extinção» no território
Ago 6, 2019 - 5:00
«Até quando vamos deixar que pessoas inocentes e pacíficas continuem a ser
perseguidas e eliminadas por causa da sua fé?», questiona D. Bashar Warda
O arcebispo caldeu de Erbil, responsável pela maior comunidade católica do
Iraque, diz que a derrota do Estado Islâmico não erradicou a ameaça contra os
cristãos, que continuam “à beira da extinção” no território.
Em entrevista enviada à Agência ECCLESIA pelo secretariado internacional da
Fundação Ajuda a Igreja que Sofre (AIS), num dia em que se assinalam 5 anos do
ataque do Estado Islâmico à Planície de Nínive, D. Bashar Matti Warda deixa
apelos a todos os responsáveis políticos e em particular aos líderes
muçulmanos.
O prelado pede que sejam implementadas mudanças efetivas que impeçam “novas
ondas de violência” contra os cristãos e restantes minorias, não só no Iraque,
mas em todos os países.
A 6 de agosto de 2014, cerca de 120 mil cristãos tiveram de deixar as suas
casas na Planície de Nínive, a norte de Mossul, no Iraque, devido a um ataque
armado levado a cabo pelo grupo extremista Estado Islâmico (ISIS).
Muitas dessas pessoas e famílias que fugiram encontraram refúgio na
Arquidiocese de Erbil, situada no Curdistão iraquiano, e por lá permaneceram ao
longo destes anos até à queda do ISIS, que começou a ganhar forma no Iraque em
2017 e ganhou contornos mais definitivos em março deste ano, na Síria.
A partir desta janela de esperança, dezenas de milhares de cristãos
começaram a regressar às suas terras, na sequência também de todo um processo
de reconstrução que permitiu reerguer grande parte das 14 mil habitações que
foram destruídas durante o ataque à Planície de Nínive.
Um trabalho que contou com o apoio da AIS, que graças ao envolvimento dos
seus benfeitores contribuiu com 42,6 milhões de euros para a ajuda ao Iraque,
entre 2014 e 2019.
De acordo com D. Bashar Matti Warda, apesar de todos estes desenvolvimentos
positivos, o regresso dos ataques será apenas uma questão de tempo, pois “a
derrota do Estado Islâmico não desmoronou a ideia da implementação de um
califado na região, que voltou a estar firmemente implantada dentro do mundo
muçulmano”.
Continuamos a ter grupos
extremistas, cada vez mais numerosos, que defendem a ideia de que matar
cristãos e yazidis ajuda a propagar o Islão”
O arcebispo de Erbil destaca o recrudescer de todo um quadro social de
repressão que marcou a vivência dos cristãos no Iraque durante séculos; um
contexto onde “as minorias são classificadas como cidadãos de segunda classe,
veem os seus bens confiscados e são obrigadas a pagar impostos”.
“Isto é apenas uma parte da questão. Pela Constituição do meu país, nós
somos considerados cidadãos inferiores, vivemos segundo a vontade dos nossos
autodenominados superiores. A nossa humanidade não nos garante quaisquer direitos”,
explica D. Bashar Matti Warda.
“Reconstruir a sociedade civil implica recuperá-la para todos. Uma
sociedade onde todos tenham o seu lugar, onde cada um tenha a possibilidade de
prosperar”, defende D. Bashar Matti Warda, que chama à responsabilidade todos
os líderes muçulmanos.
“A verdade é que esta crise toca também as fundações do próprio Islão, e
enquanto ela não for reconhecida, abordada e tratada não haverá um futuro para
a sociedade civil no Médio Oriente, ou em qualquer lugar onde o Islão esteja
inserido”, considera o arcebispo de Erbil.
A questão agora é se o Islão vai
ou não continuar nesta trajetória política, onde a ‘sharia’ é a base de toda a
lei social e em que quase todos os aspetos da vida são limitados pela religião;
ou se a partir daqui surgirá um movimento mais civilizado e tolerante”.
Nesta entrevista conduzida pela Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, o
arcebispo de Erbil desafia todas as instâncias internacionais a unirem esforços
para salvaguardar a existência do cristianismo no Iraque e no Médio Oriente.
Antes de 2003, a comunidade cristã no Iraque era composta por “um milhão e
meio” de fiéis, que correspondia a cerca de “seis por cento da população” do
país.
Atualmente, de acordo com D. Bashar Matti Warda, esse número foi reduzido
para “cerca de 250 mil, talvez menos”.
“Aqueles que restam têm de estar prontos para enfrentar o martírio”,
reconhece o arcebispo caldeu, que deixa uma mensagem ao mundo.
“Enfrentamos um momento decisivo. Até quando vamos deixar que pessoas
inocentes e pacíficas continuem a ser perseguidas e eliminadas por causa da sua
fé?”, questiona aquele responsável, que destaca o empenho dos cristãos do
Iraque em denunciar todas estas situações de injustiça e de violência, “sejam
quais forem as consequências”.
“Que fique bem claro para o mundo, não nos vamos calar perante a ameaça de
extinção (…) a violência e a discriminação contra os inocentes tem de acabar.
Aqueles que pregam a violência e a discriminação têm de parar”, completa D.
Bashar Matti Warda.
JCP
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