ÍNDIA / Caxemira cristãos Crise na região de Caxemira preocupa fortemente a comunidade cristã na região Por Fundação AIS
ÍNDIA / Caxemira cristãos
Crise na região de Caxemira preocupa fortemente a comunidade cristã na
região
Por Fundação AIS
23 Agosto, 2019
D.R. |
A revogação, no passado dia 5 de Agosto, do estatuto especial de
Caxemira pelo governo indiano veio desencadear uma crise regional grave entre
este país e o vizinho Paquistão, situação que está a preocupar muito a comunidade cristã que é fortemente
minoritária na região.
A medida do executivo de Nova Deli provocou inúmeros protestos e
levou o governo paquistanês a reafirmar o seu “apoio político, diplomático e
moral” à causa da Caxemira e ao seu “inalienável direito à autodeterminação”.
Consequência imediata desta decisão do governo indiano
calcula-se que mais de 4 mil pessoas
tenham sido detidas nas últimas duas semanas, medida que, afirmam os
observadores, terá como objectivo evitar manifestações por parte da população
local maioritariamente muçulmana.
A
comunidade cristã é profundamente minoritária na região mas não está imune a este
problema que pode degenerar numa crise muito complexa inclusivamente a nível
militar.
Antes de a Índia e o Paquistão terem conquistado a independência
da Grã-Bretanha, o que aconteceu em Agosto de 1947, já Caxemira era um território
intensamente disputado.
No projecto de divisão territorial desenhado pelo parlamento
britânico, a região de Caxemira teria liberdade para aderir tanto à Índia (país
maioritariamente hindu) como ao Paquistão (onde predomina a população
muçulmana). Porém, um governante local, o marajá Hari Singh, escolheu a Índia e
nasceu de imediato um conflito armado.
Na base do conflito está a questão religiosa pois o estado de
Jammu e Caxemira, que pertence à Índia, é composto por mais de 60 por cento de
população muçulmana. É, aliás, o único estado indiano em que a maioria da
população é muçulmana e não hindu.
Índia e Paquistão já estiveram em guerra aberta por diversas
vezes, nomeadamente em 1965, 1971 e 1999, com um balanço trágico de milhares de mortos e feridos.
Agora, com o reacender do conflito, a Igreja Católica expressou
de imediato a sua preocupação perante o insanável conflito territorial.
D. Theodore Mascarenhas, Bispo Auxiliar de
Ranchi – e que recentemente concluiu o seu mandato como secretário-geral da
Conferência Episcopal da Índia – verbalizou as preocupações da Igreja Católica
face a este conflito afirmando que “a
situação em Caxemira é delicada e exige um esforço de todos, pela paz e a
reconciliação, para que não degenere em conflito”, acrescentando, em
declarações citadas pela agência Fides,
que a Igreja acompanha e expressa a sua “proximidade ao povo da Caxemira, que
novamente vive dias de tensão e sofrimento”.
O Bispo Auxiliar de Ranchi manifestou ainda a “esperança de uma
evolução pacífica dos acontecimentos”, apelando à oração de todos “pela paz na
Caxemira e em toda a Índia”.
A situação na Caxemira é acompanhada com atenção e preocupação
também pela comunidade cristã no vizinho Paquistão.
Nos últimos dias, informa a agência Fides, o Comité Ecuménico de
Solidariedade de Lahore organizou uma oração especial para “os irmãos muçulmanos de Caxemira”, na qual líderes cristãos
paquistaneses de várias denominações participaram como a Igreja Católica, a
Igreja Anglicana, Igreja Presbiteriana e o Exército da Salvação. A oração foi
acompanhada por um chamado à paz para a região da Caxemira, uma causa de fortes
tensões entre a Índia e o Paquistão.
Fortes tensões que estão particularmente visíveis na
fronteira. Joel
Amir Sahotra, um destacado membro da comunidade cristã
paquistanesa e que pertence ao governo regional do Punjab, sublinhou,
questionado pela Fundação AIS, que, de facto, “a situação na fronteira é muito
crítica”, lembrando que já “houve baixas de ambos os lados” na região e que “o
ministro da defesa indiano ameaça usar o ataque atómico sobre o Paquistão”.
Joel Amir, que esteve recentemente na sede da Ajuda à Igreja que Sofre
em Portugal, destacou o facto de os cristãos paquistaneses, que são
uma clara minoria no seu próprio país, estarem por isso particularmente
sensibilizados para compreender a situação vivida no lado indiano de Caxemira.
“Podemos entender os problemas do povo da Caxemira”, disse Amir,
acrescentando que “sempre mostrámos a nossa solidariedade para com eles, pois
eles têm enfrentado uma situação terrível nas últimas sete décadas”,
especificando que a população da Caxemira indiana deve “obter todos os direitos
que a constituição garante”.
Para este dirigente político no Punjab, há semelhanças nas
reclamações da população de Caxemira e da comunidade cristã no Paquistão. A
começar no facto de ambas serem minoritárias. “Também exigimos ter todos os direitos iguais como cidadãos do
Paquistão.” Joel Amir aproveita esta ocasião para lembrar algumas das
situações que decorrem da menorização política dos cristãos no seu país.
“A nossa constituição privou-nos do direito” de ocupar o cargo
de “presidente ou de primeiro-ministro”, tendo-se tornado “tendenciosa, pois
não nos concede esse direito elementar, que é uma violação dos direitos humanos
básicos das comunidades religiosas no Paquistão.”
E lembra ainda a famigerada “lei da blasfêmia” – que esteve na
base da injusta condenação à morte de Asia Bibi, entretanto libertada após
quase uma década na prisão –, lei que “precisa de ser mudada pois
[transformou-se] numa ferramenta muito fácil para prejudicar alguém pertencente
às minorias [religiosas] ”.
Joel
Amir finaliza a mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa lembrando que são
“inúmeros os problemas que [os cristãos] enfrentam diariamente” no Paquistão.
Além da “discriminação religiosa, há
ainda as questões financeiras, conseguir um bom emprego, etc.”.
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