PORTUGAL/desertificação fogos Desertificação do interior: «fogos selvagens» em Portugal

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Desertificação do interior: «fogos selvagens» em Portugal                      
Por P. Armando Soares

Como é natural e atendendo às proporções gigantescas que têm assumido nos últimos anos num país pequeno como o nosso, os incêndios são tema lá fora, no estrangeiro. Assim, a BBC fez eco dos incêndios em Portugal, classificando-os de «fogos selvagens». E este ano começaram em grande plano, em lugares habituais, logo com milhares de hectares. Parece tudo combinado com uma estratégia pré-definida. Semeiam a dor, a morte, a destruição, a “corrupção”, a miséria. Seremos um país para reduzir a cinzas?
O bispo de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias, disse no passado dia 22 de junho: “Não é difícil imaginar a dor e o desespero que a época dos incêndios provoca nas populações”, lembrando que os incêndios deixam “rastos de pobreza” e são “uma dor no coração”, na sua diocese.

O ministro da Administração Interna garantiu que as causas dos incêndios estão a ser investigadas. Eduardo Cabrita sublinhou, em declarações aos jornalistas, que há uma certa “estranheza” pelo facto de os vários incêndios terem deflagrado quase ao mesmo tempo, este sábado, dia 20. A Polícia Judiciária garante estar a investigar os artefactos incendiários que foram encontrados em várias zonas do concelho de Vila de Rei e não só.
Os naturais “sabem” como os “incêndios começaram, mas não são escutados”, alerta D. Antonino Dias. E diz: “muita coisa é mão criminosa” porque “falta a educação do povo e faltam os valores”. Os habitantes daquela região sofrem a “destruição que outros provocam” e por isso o cenário dos incêndios “intriga e interpela”, mas a “culpa morre sempre solteira”, lamenta o bispo. As escolas e as famílias têm de passar “estes valores” do respeito pela “casa comum”, acrescentou.

O presidente da Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco, Elcídio Bilé, afirmou em julho p.p.: “É necessário que a sociedade humana e os partidos políticos ouçam os lamentos vindos do interior. Para o presidente da Cáritas Diocesana “o território do interior desertificado não pode continuar a ser ignorado e a ser pasto de chamas, de abandono e de desumanização”.
“É necessário desenvolvimento humano, harmonioso, integral e feliz”, referiu. As “feridas” dos incêndios de 2017 ainda não estão cicatrizadas e “as mesmas populações, paróquias, autarquias e corporações de bombeiros estão de novo confrontados com o flagelo do terreno ardido, das habitações destruídas e dos bens patrimoniais queimados, com a voragem das chamas e com a angústia das comunidades”.
“Ouve-se o clamor de quem vive rodeado de desolação, de paisagem queimada, de ar irrespirável”, afirmou. Vivemos sem por em prática as leis que podem “contribuir para combater e evitar o flagelo dos fogos florestais”.
Elicídio Bilé defende modelos de intervenção social que acompanhem os problemas de “cada pessoa individualmente”, na certeza de que têm “uma dimensão coletiva”, em vista de fomentar a animação comunitária.

O arcebispo de Évora afirmou que o “desinvestimento do interior é muito grave”, porque não se deve “cuidar apenas daquilo que dá lucro”. E anunciou que um dos temas da nova Comissão Justiça e Paz diocesana será: a “dimensão da desertificação do interior” e as “novas formas de exploração, a escravatura”. “Temos o investimento social de populações que serviram, durante décadas, a comunidade e, agora, no seu envelhecimento têm de ser cuidadas e o interior do país vive uma situação preocupante”, disse D. Francisco Senra 
O arcebispo alerta que “tudo convida as pessoas a sair do interior”, como o “desinvestimento” nas escolas, nos postos de saúde, nos postos de diversos atendimentos públicos e, agora, nas estradas. Observa que o interior vai ficar sem população “a mais jovem sai” e “a problemática do desinvestimento do interior é muito grave”: “Fica o património sem ninguém que o cuide – arquitetónico, cultural, imaterial mas também o cinegético e o património florestal”.

Não temos pessoas para tratar dos idosos, ou seja, a emigração impede as instituições de recrutarem funcionários. Nas IPSS, incluindo centros sociais e paroquiais, e até Santas Casas da Misericórdia, começa a faltar mão-de-obra, ou seja, há aldeias inteiras só de idosos”, desenvolveu. Há problemáticas “muito graves e atuais” e que “passam à margem com critérios imediatistas centrados no populismo e aquisição de votos”.
D. Senra destaca que “o silêncio da Igreja, dos cristãos pode ser grave, pode ser uma abstenção, ou mesmo omissão”. Através da Cáritas, da Comissão Justiça e Paz, e outros movimentos, a Igreja vai olhando por e pelos que mais precisam e que todos os anos têm de enfrentar as chamas devastadoras com aldeias destruídas, mortos, feridos, gente sem nada e muitos à espera de uma ajuda cuja distribuição nunca chega

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