Pegadas de um Deus diferente por ARMANDO SOARES

A Gráfica de Coimbra 2 vem primando por oferecer ao público português obras de valor traduzidas em língua portuguesa. Honra lhe seja. É o caso de "Pegadas de um Deus diferente. Seu autor, Carlo di Cicco é um jornalista  profissional católico, vaticanista, sub-Director do jornal "L'Osservatore Romano". A intrigante questão de Deus acaba, na maior parte dos casos, em polémica rude ou banal entre laicos e católicos. Tudo muda se se raciocinar a partir do amor, nome verdadeiro e originário do Deus de Jesus Cristo. Este revela-se apenas a quem ama. Deus deve ser libertado dos milhares de máscaras que Lhe colocam no rosto, trocando-o pelas mais diferenciadas figuras do mal que nos apoquenta. O Autor ensina-nos que, abrindo a Bíblia, com olhos e coração livres de preconceitos, se descobre outro Deus que é Amor vivo, que nos fala de Si mesmo, e que podemos procurá-lo e ver ainda que, por agora, como num espelho. Mas qualquer momento é propício para descobrir este Deus um pouco "estrangeiro".
A história que se conta aqui sobre o desconhecido Deus - Amor, começa quando o autor reencontra uma velha Bíblia, lida nos tempos da juventude, em 68, o ano extraordinário e discutido, das revoltas estudantis. Respiravam-se então os ares de um Concílio Vaticano II, recentemente concluído. Aquela Bíblia, sublinhada a lápis de cor encarnada e azul, pode servir ainda a jovens e adultos, para que se libertem dos receios da vida e acendam luzes de credíveis esperanças.

Este livro fará bem a todos os que o lerem, quer crentes, quer ateus. Um Deus – máscara, um Deus antropomórfico enche as cabeças de muitos fiéis de fé ingénua, nada maliciosa mas pouco ilustrada embora convicta. É preciso que o conhecimento desperte a vivência da fé e a alimente, como seiva que clarifica o Deus vivo que está em nós, que envolve o mundo e se revela como um amigo que nunca nos falha.
Abrir a Bíblia e ler pausadamente é encontrar o “Verbum Dei” que nos interpela, que diz que nos ama, que nos quer felizes, que não gosta que sejamos maus, mas que sejamos uma família de irmãos, que nos auxiliemos mutuamente, como peregrinos envolvidos nos mesmos problemas, ainda que em idades diferentes. Até literariamente encontramos imagens belíssimas quer no Cântico dos Cânticos, quer nos Salmos, que são ricos em comparações duma profundidade exaltante. Salmos de louvor. Expressões de alegria e júbilo. A Natureza envolvida em vida: os saltando como cabritos!

No meu tempo a catequese apresentava-me um Deus ainda “Tridenntino, que me estava espreitando e seguindo meus passos para me castigar se eu fizesse o mal. Não o faria por medo. Embora o temor possa conduzir ao amor. Os tempos foram mudando, foram-se renovando. Apareceu em meados do século passado, o Concílio do Vaticano. Apareceu uma Igreja família, uma Igreja “povo de Deus”, um Deus próximo do homem. Assim o quis o “Papa Bom”, João XXIII. E o Papa João Paulo II exemplificou tão bem o Deus próximo do homem, sobretudo do pobre, do desprezado, do marginalizado. E Bento XVI o apresentou de uma maneira eloquentemente expressiva e bela na sua Encíclica “Deus é Amor”. É este Deus que o Padre Georgino nos ajuda a encontrar no nosso viver quotidiano.
É este Deus que devemos encontrar, em caminhos e em pegadas diferentes – tais são os nossos caminhos. Quem o procura, mais cedo ou mais tarde encontrá-lo-á.

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