D. ATHANASIUS, Bispo Auxiliar de Astana: "Ubi Petrus ibi Ecclesia"

Homilia de D. Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar de Astana (Cazaquistão), na Missa que celebrou no dia 16 de Fevereiro de 2014, ao meio-dia, na Igreja de Santa Maria de Belém (Mosteiro dos Jerónimos)

Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de 
Astana,no Casaquistão e grande missionário da 
renovação litúrgica desejada por Bento XVI foi
 o convidado 
de honra.


Caros irmãos e irmãs!
Nesta Santa Missa queremos de modo particular exprimir a nossa fé católica, renovar a nossa fidelidade à imutável fé católica, e a nossa alegria de poder crer de modo católico. A expressão mais sublime da imutável fé católica é a liturgia, tal como nos foi transmitida, de um modo orgânico, a partir dos santos Apóstolos. Nós devemos continuar hoje a ter a mesma fé eucarística e a mesmo respeito para com o Santíssimo Sacramento que tiveram tantos Santos durante mais de um milénio, a mesma fé dos nossos pais e avôs; e se nós ou outras pessoas poderem comportar-se do mesmo modo ainda hoje, isso deverá comover-nos profundamente.
“Credo in sanctam catholicam Ecclesiam”. “Creio na Santa Igreja Católica”. Quando professamos a fé na Igreja Católica, professamos a verdade de que Cristo instituiu a Igreja, e que ela é una e única, e que esta Igreja é a Igreja Católica. Cristo fundou a Igreja, não somente sobre o fundamento que Ele mesmo é, mas também sobra a rocha visível, que é o Apóstolo Pedro e cada um dos seus sucessores. Vendo o quadro dos numeráveis cismas entre os discípulos de Cristo e entre os mesmos bispos durante toda a história da Igreja, verificamos que S. Pedro e seus sucessores, os Romanos Pontífices, mostraram ao mundo toda a verdade das palavras divinas: “Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16, 18). Desde os tempos antigos, escutavam-se estas palavras: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”, “onde está Pedro, aí está a Igreja”, palavras de Santo Ambrósio. Quem está com Pedro e com os seus sucessores, encontra-se sem dúvida na única Igreja de Cristo. Por essa razão, todos os perseguidores da Igreja e todos os cismáticos de todos os tempos tentaram separar os fiéis da rocha de Pedro, qual é a Cátedra Romana.
O que deu aos mártires e aos confessores a força de sofrer, e sobretudo a força da paz da alma no meio das condições desumanas dos cárceres e dos campos de concentração, foi a Santíssima Eucaristia. Quando lemos os testemunhos das suas vidas, descobrimos também nós, hoje, o exemplo da profundíssima fé no mistério da Santíssima Eucaristia, do ardente amor e da delicada reverência para com este máximo mistério da nossa fé, porque eles sabiam: a Eucaristia é o Senhor. “Dominus est”. E com isto está tudo dito.
Desejo citar alguns dos confessores de Cristo num dos mais horríveis campos de concentração estalinistas, das ilhas Solovetskin, no Mar Branco. O Pe. Donato Nowitsky escreveu: “Durante muito tempo celebrávamos a santa Missa no sótão, o tempo todo de joelhos, porque era impossível estar de pé. O Pe. Nikolaj ia todos os dias para a capela. Depois de um dia de desgastantes trabalhos forçados, levantou-se as cinco da manhã, tomou uma pequena quantidade de vinho, misturado com uma gota de água, e um pedaço de pão, e correu para a capela. As nossas celebrações da Eucaristia eram momentos de grandes alegrias espirituais. Agradeço a Deus que eu tenha podido estar nas ilhas Solovki. Não raramente experimentei, naquele horrível lugar, o sopro do paraíso e raras e grandes alegrias. Seguimos este princípio: olhar todas as coisas com os olhos da fé e alegrar-nos sempre na consciência de servir a verdade e gozar dela em cada momento».
O Pe. Donato Nowitsky deixou o seguinte comovente testemunho da sua própria ordenação sacerdotal, realizada em segredo: “Havia uma situação própria das catacumbas: na pobre capela estava sentado num simples banco, em vez de numa cátedra, o jovem bispo Boleslaw Sloskans. O bispo oficiava sem mitra e báculo. O seu rosto irradiava uma grande perfeição espiritual e substituía de certo modo estes sinais ordinários do poder episcopal. Na capela sentia-se o aroma da graça. Experimentámos que aqui, nesta terrível ilha, as palavras de Cristo eram cheias de significado real: “Eu estou convosco todos os dias”, “as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja”. Era o dia 7 de Dezembro de 1928. Eu não consegui conter silenciosas e alegres lágrimas, quando o bispo Boleslaw impôs as mãos sobre a minha cabeça dizendo: “Accipe Spiritum Sanctum”, “Recebe o Espírito Santo”, e quando também os outros sacerdotes confessores tocaram a minha cabeça. Sentia que a principal força, com a qual eu podia servir Deus no cárcere, era o santo Sacrifício da Missa. Sentia que Cristo é para sempre meu, e que sou seu servo para aliviar os seus sofrimentos. A minha alma sentia e dizia somente uma coisa: “Meu Senhor e meu Deus”.
Caríssimos irmãos e irmãs, estes exemplos devem comover-nos e encorajar-nos no exercício da nossa santa fé. Para os nossos irmãos mártires e confessores, a Eucaristia era o centro de cada dia e o verdadeiro fim de toda a sua vida. Mesmo nas miseráveis condições das catacumbas, eles demonstraram a máxima atenção e reverência para com a Eucaristia. Nem sequer um detalhe do rito da Missa e dos gestos exteriores consideraram que fossem secundários. Que exemplo para nós, que vivemos na liberdade, ainda na liberdade, tendo tantas possibilidades de celebrar a Santa Missa com solenidade e com toda a riqueza do culto, digno da majestade divina! Queremos competir com eles no modo de celebrar e venerar a Eucaristia. Que exemplo de fé seria se, no meio da crise litúrgica da Igreja latina nos nossos dias, em todas as Santas Missas, em todo o orbe, os católicos recebessem a santa Comunhão de joelhos e na boca: que durante a liturgia da Missa fossem sempre mais os sinais de adoração, do silêncio, da sacralidade da música; se o sacerdote e os fiéis estivessem orientados na alma e no corpo para o Senhor, olhando juntos para o Crucifixo e para o rosto de Cristo no Sacrário, no centro da igreja. Deste modo a fé poderia crescer e tornar-se mais católica, sempre mais eucarística.
A liturgia é o rosto mesmo de Cristo, para o qual todos devem ser orientados. A verdadeira renovação da Igreja nos nossos dias acontecerá somente quando os fiéis, e em primeiro lugar o clero, aspirarem sinceramente à perfeição da caridade. Contudo, não haverá santidade e caridade para com o próximo sem a adoração reverente de Deus, isso é sem uma liturgia reverente e cristocêntrica. A santidade e a verdadeira caridade para com o próximo não existirão sem que a Igreja dos nossos dias se ajoelhe com amor e tremor diante de Cristo, real e substancialmente presente no mistério eucarístico.
Que toda a vida da fé e toda a liturgia sejam permeadas com a reverência diante da majestade de Deus, sabendo que tudo vem d’Ele, e que sejam ao mesmo tempo permeadas com a alegria de podermos aproximar-nos de Deus, que alegra a juventude da nossa alma. A santidade e a beleza celestiais da liturgia da Missa proclamam esta verdade e nos confortam nela: “Credo in Ecclesiam catholicam apostolicam et romanam”, “Creio na Santa Igreja católica romana”. Amen.


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