16 | O MISTÉRIO DE DEUS COM MÃOS E CORAÇÃO DE HOMEM por Armando Soares

16 | O mistério de um Deus com mãos e coração de homem 
Bento XVI, no dia 9 de Janeiro de 2013 reflectiu com os numerosos fiéis presentes na audiência geral na Sala Paulo VI sobre 4 elementos da Encarnação: a grandeza de tal acontecimento, a expressão da gratuidade do dom concedido à humanidade, o realismo inaudito do amor divino e a nova criação que tem início com o Filho de Deus que se fez homem. Neste tempo natalício voltamos a meditar sobre Deus que desceu à terra e se fez homem, encarnando. Assim o dizemos no Credo: “O Filho de Deus fez-se homem”. Que significa “incarnatio”? Santo Inácio e Santo Ireneu reflectiram sobre o Prólogo do Evangelho de São João: «O Verbo fez-se carne» (Jo 1, 14). Aqui a palavra «carne», em conformidade com o uso hebraico, indica o homem na sua integridade, o homem todo, mas precisamente sob o aspecto da sua caducidade e temporalidade, da sua pobreza e contingência. A encarnação atinge o homem na sua realidade concreta. Deus assumiu a condição humana, para nos permitir chamá-lo “Abba, Pai” e assim ser verdadeiramente filhos de Deus. «O Verbo fez-se carne», exprime a grandiosidade do mistério que celebramos e no qual podemos entrar só mediante a fé. Pelo Logos foram criadas todas as coisas (Jo 1, 3). Deus vem morar entre nós. Afirma o Vaticano II: «O Filho de Deus…Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado». (1) E fê-lo na humildade de um menino. 39 Um segundo pensamento. No Natal trocamos alguns dons, algumas prendas com os amigos mais próximos. É sem dúvida, um sinal de amor e de estima. Assim o pensamento da doação está no centro da liturgia e evoca o dom do Natal. Deus fazendo-se carne doou-se a si mesmo por nós. É este o grande dom. Demo-nos também a nós mesmos, mais do que as nossas coisas. Uma terceira reflexão: O acontecimento da Encarnação mostra-nos o amor inaudito do amor divino. O filho de Deus nasceu numa época bem determinada da história, em Belém, cresceu no seio de uma família, teve amigos, formou um grupo de discípulos, instruiu os apóstolos para dar continuidade à sua missão e terminou o curso da sua vida na cruz. É este o realismo da fé. Deus indicou-nos como viver, compartilhando a nossa vida excepto no pecado. O Catecismo de São Pio X diz-nos: «Para viver segundo Deus, devemos acreditar nas verdades reveladas por Ele e observar os seus mandamentos com a ajuda da sua graça, que se obtém mediante os sacramentos e a oração». A fé tem um aspecto fundamental, que diz respeito não só à mente e ao coração, mas à nossa vida inteira. E um último elemento de reflexão: São João afirma que o Verbo, o Logos, estava em Deus desde o princípio e que tudo foi feito através dele. (Jo 1, 1-3). «Em vista dele tudo foi criado» (Jo 1, 17). O Deus eterno e infinito imergiu na finitude humana, na sua criatura, para reconduzir a Ele o homem e a criação inteira. O Catecismo da Igreja Católica afirma: «A primeira criação encontrou o seu sentido e apogeu na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira». (n. 349) (2) Com a Encarnação do filho de Deus tem lugar uma nova criação, que oferece a resposta completa à interrogação: «Quem é o homem?» Só Jesus é o homem definitivo, segundo Deus. Cristo, novo Adão, no dizer dos Santos Padres, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime» (3) Naquele menino, o Filho de Deus contemplado no Natal, podemos reconhecer a verdadeira face, não apenas de Deus, mas o rosto autêntico do ser humano. _______________________________________________ (1) Const. Gaudium et Spes, 22); (2) Catecismo da Igreja Católica, 349. (3) Const. Gaudium est Spes, 22; Catecismo da Igreja Católica 359. (672)
in NA FORÇA DE DEUS n.16

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