MÉXICO Uma Igreja que caminha com os povos indígenas por Dário Bossi, m.c.

MÉXICO
Uma Igreja que caminha com os povos indígenas  por: P. DARIO BOSSI, Missionário Comboniano
Em Chiapas, no México, a Igreja Católica realiza uma missão inculturada, um caminho realizado junto com os povos indígenas. Procuram também defender a Mãe Terra, os seus recursos e a vida.

 A Igreja em Chiapas promove, há décadas, o protagonismo dos povos indígenas. 

Homens e mulheres das etnias tzeltal, tzotsil e chol de onze municípios na zona alta e da selva, da diocese de San Cristóbal de las Casas, são uma igreja inculturada na sua liturgia, na tradução da Bíblia no seu idioma, o tzeltal, e também na formação e protagonismo de muitos presbíteros e inclusive diáconos permanentes com as suas esposas. Neste mesmo território, trabalham seis missionários jesuítas, na missão de Bachajón.
O P.e José Avilés Arriola, conhecido carinhosamente como Padre Pepe, afirma que «desde o levantamento popular dos povos indígenas, em 1994, e até à data, persiste uma revolução de baixa intensidade que defende os territórios e o direito à autodeterminação indígena». Assegura que as ameaças aos seus territórios não cessam e «surgem de mão dada com grandes projectos de extracção de matérias-primas e de propostas de construção de infra-estruturas e estradas que ameaçam a integridade das povoações». De algum modo, significariam o que o missionário jesuíta chama «nova invasão dos seus territórios».
O Padre Pepe comenta também que no Congresso da Mãe Terra, que se realizou em 2014, participaram milhares de indígenas, a maioria deles jovens que falavam a língua materna. E, em Novembro de 2016, quando diversas paróquias da diocese de San Cristóbal de las Casas organizaram uma marcha dos povos, participaram nela os onze municípios «ameaçados por grandes projectos». Ao longo de 14 dias, anota ele, esses povos «caminharam, atravessando todos os municípios com iniciativas de denúncia, reflexão e debate», em que participaram também os habitantes de outros municípios da região.
«Fomo-nos unindo nove paróquias e onze municípios, procurando cuidar da vida, cuidar da terra, do território, defendendo-os. Fomos unindo a nossa palavra, pouco a pouco, e encontrando vias de organização. Defender a Mãe Terra, defender os seus recursos, defender a vida, esta é uma das causas mais importantes e podemos assumi-la a partir da fé, unidos como paróquias, presbíteros e agentes de pastoral. Como é importante acompanhar os povos alicerçados na fé e na esperança! Para que não se roube a vida, o alimento. Para que não se roube a terra, os recursos», assegura o missionário da Companhia de Jesus.

Defesa da vida e do território
Para os povos indígenas, camponeses e rurais, a terra e o território são mais do que trabalho e alimento, são também cultura, comunidade, história, antepassados, sonhos, futuro, vida e mãe. O movimento «que nós constituímos chama-se Movimento em Defesa da Vida e Território (MODEVITE)», informa o Padre Pepe. Também deste organismo saiu uma proposta: «Vamos criando o nosso próprio governo, como um governo comunitário. Já chega de o deixar em mãos de gente corrupta, inapta para dominar os nossos recursos. Nós somos capazes de nos organizar e de ser governo», disseram os povos indígenas e a Igreja está com eles, tanto os agentes de pastoral, como os religiosos e as religiosas, e os padres diocesanos. «E é o povo que nos vai indicando por onde ir. Nós apoiamos e damos impulso. E, a partir da fé, acolhemos», diz o Padre Pepe.
A diocese de San Cristóbal é uma diocese com tradição de luta alicerçada na fé, de compromisso social baseado nos sacramentos e nas peregrinações. «Peregrinações que congregam não só em torno de reivindicações, mas que as fazem em nome de Jesus, que é o nosso fundamento e sem o qual não podemos caminhar. Porque é precisamente Ele, como nosso fundamento e nosso guia, nossa luz, verdade e vida, quem nos incita. Ele impele-nos a viver o amor ao próximo, o que precisa dele, o que está necessitado», refere o missionário.
Neste momento e nestas terras indígenas, neste território maia, a diocese assumiu a tarefa de defender a Mãe Terra, aquela que dá de comer. Defendê-la dos grandes poderes, que querem apoderar-se não só do território, mas também do seu sangue: os seus recursos, como são os minerais, a água e o petróleo. Grandes companhias estão à espera que as pessoas fechem um pouco os olhos e deixem de se organizar. Maquinam modos de as dividir, para ver se os indígenas lutam entre si.
«Que Deus, que é rico em misericórdia e bondade, nos acompanhe cada dia», reza o Padre Pepe. E acrescenta: «Neste recanto da diocese de Chiapas, na missão de Bachajón, onde presto o meu serviço como pároco, sentimo-nos muito unidos na mesma luta. Estamos unidos em nove paróquias, defendendo toda esta região. E diversas congregações: Sagrados Corações, Dominicanos, Jesuítas, e também diocesanos, temos todos um só coração. Mas quem nos guia é o povo, o povo de Deus.»

O trabalho da missão
A missão de Bachajón começou o seu trabalho na diocese de San Cristóbal de las Casas, no Estado de Chiapas, em Dezembro de 1958. Foi fundada pela província mexicana da Companhia de Jesus. Actualmente, a equipa de agentes pastorais é formada por jesuítas, irmãs do Divino Pastor, leigos, leigas, mestiços e indígenas tzeltais.

A missão, para melhorar as condições de vida dos tzeltais, realizou obras pastorais, como tradução da Bíblia para tzeltal, promoção da pastoral mestiça e catequese, e obras sociais, como serviço de água potável, iluminação da via pública, escolas, dispensário médico e projectos agrícolas.MÉXICO
Uma Igreja que caminha com os povos indígenas 
Por: P. DARIO BOSSI, Missionário Comboniano
Em Chiapas, no México, a Igreja Católica realiza uma missão inculturada, um caminho realizado junto com os povos indígenas. Procuram também defender a Mãe Terra, os seus recursos e a vida.






A Igreja em Chiapas promove, há décadas, o protagonismo dos povos indígenas. Homens e mulheres das etnias tzeltal, tzotsil e chol de onze municípios na zona alta e da selva, da diocese de San Cristóbal de las Casas, são uma igreja inculturada na sua liturgia, na tradução da Bíblia no seu idioma, o tzeltal, e também na formação e protagonismo de muitos presbíteros e inclusive diáconos permanentes com as suas esposas. Neste mesmo território, trabalham seis missionários jesuítas, na missão de Bachajón.
O P.e José Avilés Arriola, conhecido carinhosamente como Padre Pepe, afirma que «desde o levantamento popular dos povos indígenas, em 1994, e até à data, persiste uma revolução de baixa intensidade que defende os territórios e o direito à autodeterminação indígena». Assegura que as ameaças aos seus territórios não cessam e «surgem de mão dada com grandes projectos de extracção de matérias-primas e de propostas de construção de infra-estruturas e estradas que ameaçam a integridade das povoações». De algum modo, significariam o que o missionário jesuíta chama «nova invasão dos seus territórios».
O Padre Pepe comenta também que no Congresso da Mãe Terra, que se realizou em 2014, participaram milhares de indígenas, a maioria deles jovens que falavam a língua materna. E, em Novembro de 2016, quando diversas paróquias da diocese de San Cristóbal de las Casas organizaram uma marcha dos povos, participaram nela os onze municípios «ameaçados por grandes projectos». Ao longo de 14 dias, anota ele, esses povos «caminharam, atravessando todos os municípios com iniciativas de denúncia, reflexão e debate», em que participaram também os habitantes de outros municípios da região.
«Fomo-nos unindo nove paróquias e onze municípios, procurando cuidar da vida, cuidar da terra, do território, defendendo-os. Fomos unindo a nossa palavra, pouco a pouco, e encontrando vias de organização. Defender a Mãe Terra, defender os seus recursos, defender a vida, esta é uma das causas mais importantes e podemos assumi-la a partir da fé, unidos como paróquias, presbíteros e agentes de pastoral. Como é importante acompanhar os povos alicerçados na fé e na esperança! Para que não se roube a vida, o alimento. Para que não se roube a terra, os recursos», assegura o missionário da Companhia de Jesus.

Defesa da vida e do território
Para os povos indígenas, camponeses e rurais, a terra e o território são mais do que trabalho e alimento, são também cultura, comunidade, história, antepassados, sonhos, futuro, vida e mãe. O movimento «que nós constituímos chama-se Movimento em Defesa da Vida e Território (MODEVITE)», informa o Padre Pepe. Também deste organismo saiu uma proposta: «Vamos criando o nosso próprio governo, como um governo comunitário. Já chega de o deixar em mãos de gente corrupta, inapta para dominar os nossos recursos. Nós somos capazes de nos organizar e de ser governo», disseram os povos indígenas e a Igreja está com eles, tanto os agentes de pastoral, como os religiosos e as religiosas, e os padres diocesanos. «E é o povo que nos vai indicando por onde ir. Nós apoiamos e damos impulso. E, a partir da fé, acolhemos», diz o Padre Pepe.
A diocese de San Cristóbal é uma diocese com tradição de luta alicerçada na fé, de compromisso social baseado nos sacramentos e nas peregrinações. «Peregrinações que congregam não só em torno de reivindicações, mas que as fazem em nome de Jesus, que é o nosso fundamento e sem o qual não podemos caminhar. Porque é precisamente Ele, como nosso fundamento e nosso guia, nossa luz, verdade e vida, quem nos incita. Ele impele-nos a viver o amor ao próximo, o que precisa dele, o que está necessitado», refere o missionário.
Neste momento e nestas terras indígenas, neste território maia, a diocese assumiu a tarefa de defender a Mãe Terra, aquela que dá de comer. Defendê-la dos grandes poderes, que querem apoderar-se não só do território, mas também do seu sangue: os seus recursos, como são os minerais, a água e o petróleo. Grandes companhias estão à espera que as pessoas fechem um pouco os olhos e deixem de se organizar. Maquinam modos de as dividir, para ver se os indígenas lutam entre si.
«Que Deus, que é rico em misericórdia e bondade, nos acompanhe cada dia», reza o Padre Pepe. E acrescenta: «Neste recanto da diocese de Chiapas, na missão de Bachajón, onde presto o meu serviço como pároco, sentimo-nos muito unidos na mesma luta. Estamos unidos em nove paróquias, defendendo toda esta região. E diversas congregações: Sagrados Corações, Dominicanos, Jesuítas, e também diocesanos, temos todos um só coração. Mas quem nos guia é o povo, o povo de Deus.»

O trabalho da missão
A missão de Bachajón começou o seu trabalho na diocese de San Cristóbal de las Casas, no Estado de Chiapas, em Dezembro de 1958. Foi fundada pela província mexicana da Companhia de Jesus. Actualmente, a equipa de agentes pastorais é formada por jesuítas, irmãs do Divino Pastor, leigos, leigas, mestiços e indígenas tzeltais.
A missão, para melhorar as condições de vida dos tzeltais, realizou obras pastorais, como tradução da Bíblia para tzeltal, promoção da pastoral mestiça e catequese, e obras sociais, como serviço de água potável, iluminação da via pública, escolas, dispensário médico e projectos agrícolas.

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