PORTUGAL/pobreza REPORTAGEM TSF Vivem em barracas e rulotes. "Situação imoral" afeta mais de 26 mil famílias em Portugal

PORTUGAL/pobreza
Vivem em barracas e rulotes. "Situação imoral" afeta mais de 26 mil famílias em Portugal
11 DE FEVEREIRO DE 2019 - 18:50 REPORTAGEM TSF
26 mil famílias vivem em situações habitacionais graves em Portugal. Subcomissão para a Igualdade e não Discriminação da Assembleia da República chocada com o que viu em Bragança, o concelho mais afetado do país.
Afonso de Sousa

Bragança é a região do país onde vivem mais comunidades ciganas em barracas e acampamentos. Foi essa a principal razão para a Subcomissão para a Igualdade e não Discriminação da Assembleia da República iniciar, esta segunda-feira, na cidade transmontana, uma visita a nível nacional para conhecer "in loco" as realidades das minorias étnicas.
E viram no cimo do bairro dos Formarigos, num terreno da autarquia, quatro rulotes em cima de um terreno enlameado, com ferros velhos, brinquedos e roupas espalhados pelo chão, muitos cartões e uma fogueira no meio. A imagem é de muita pobreza. Os diversos cheiros não são agradáveis...há cães por todo o lado. Pequenos e grandes. É aqui que vive António dos Anjos com uma pensão de 300 euros.
"Quase que nem dá para os comprimidos. Vivemos nestas rulotes porque nos ardeu a casa, ali, há dois anos. Nem sei quantos somos aqui. O presidente diz que vem, que vem, mas nada. No tempo das eleições vêm cá pedir votos, depois nada".

Ao lado, uma das filhas, tem nos braços uma sobrinha de ano e meio. Tem dois filhos e está grávida de outro. Diz que "é muito difícil viver aqui, principalmente quando vem a chuva e o frio. No inverno aqui vive-se muito mal. Aqui estão oito ou dez miúdos, nem sei bem. Nas quattro rulotes somos 16".
Por cima deste aglomerado, um outro, composto por barracas e mais rulotes, acolhe mais algumas famílias de ciganos.

Ouça a peça do jornalista Afonso de Sousa em Bragança
"É uma situação imoral"
Helena Roseta, uma das deputadas da comissão diz que 
o que ali se vê é imoral. " É uma situação imoral! Há pouco um dos senhores destas casas disse-me: mas então é preciso virem de Lisboa para verem o que se passa em Bragança? Ele tinha razão na crítica que estava a fazer mas nós, deputados, temos obrigação de ir a qualquer parte do país. Penso que precisamos de mais, de um olhar transversal. As soluções têm que ser locais, mas têm que ter financiamento nacional. Os municípios não têm capacidade sozinhos para dar conta destas situações".
A deputada fala do mais recente programa que está à disposição das autarquias para estes casos. " É o programa Primeiro Direito que financia realojamentos, seja qual for a razão da má condição habitacional ou a ausência da habitação. Para já, só há 40 milhões disponíveis mas os municípios para terem acesso ao financiamento têm que apresentar uma estratégia de habitação"
Catarina Marcelino é deputada responsável pela elaboração do relatório final que deverá estar pronto, em junho, e acrescenta que o mais importante nestas e noutras comunidades é começar por pôr as crianças na escola. "É inaceitável que em Portugal e no século XXI haja pessoas a viver nestas condições. O pré-escolar público é fundamental para estas e outras crianças. Sabe-se que as crianças que o fazem têm mais sucesso no seu percurso educativo".
O presidente da Câmara de Bragança, que também esteve no local, assinala que "as crianças destas comunidades já estão na escola ao lado a cumprir um programa de integração e que de momento não há habitações disponíveis para realojamento".
Em Bragança e periferia da cidade há três comunidades de ciganos, bem definidas, com mais de 100 elementos.


Foto TSF
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